Com todas as atenções voltadas para a Copa do Mundo, a campanha presidencial que, oficialmente, acabou de começar, entra numa espécie de recesso, dizem especialistas ouvidos. Os comitês de campanha dos candidatos até tentam criar fatos e ir a eventos que garantam sua visibilidade na mídia, mas, até a eliminação ou uma eventual vitória do Brasil no evento esportivo, o noticiário é mesmo dominado pela seleção.
A rotina se repete de quatro em quatro anos. Depois da emenda constitucional que modificou a duração do mandato presidencial de cinco para quatro anos, todo ano de eleição para presidente é também ano de Copa do Mundo. Em 1994, quando o Brasil foi tetracampeão, Luiz Inácio Lula da Silva enfrentava Fernando Henrique Cardoso pela primeira vez. Em 1998, o Brasil perdeu na final para a França, mas FHC se reelegeu. Em 2002, o Brasil foi penta e Lula, após três tentativas frustradas, chegou à Presidência. Em 2006, o Brasil foi novamente eliminado pela França, e dessa vez foi Lula quem se reelegeu.
Para o historiador e professor de Ciência Política da Ufscar (Universidade Federal de São Carlos) Marco Antônio Villa, é natural que as atenções se distanciem dos candidatos durante a Copa. Quanto mais adiante o Brasil for, mais tarde a campanha sai do “recesso”. Ele vê com desconfiança as tentativas dos candidatos de criarem fatos políticos que possam garantir visibilidade.
– Os comitês forçam. A Dilma foi passear na Europa. É uma piada. Os comitês tentam criar fatos para a campanha, mas é conversa de marqueteiro. O único jeito de um candidato garantir visibilidade nesse momento é se ele sair nu correndo pela rua.
Já para o cientista político e professor emérito da UNB (Universidade de Brasília) David Fleischer, a estratégia de Dilma de sair do país foi “interessante”.
– A Dilma foi passear na Europa, então está com a imprensa atrás dela, juntando as duas coisas: assiste à Copa e visita líderes na Europa.
Os dois discordam ainda da possibilidade de uma vitória da seleção influenciar ou não o desempenho da candidata governista. Villa cita os últimos anos para dizer que o Brasil vencer ou não a Copa não tem nenhuma influência nas eleições.
– Não tem nada a ver, não há relação. Todos os presidentes tentam tirar uma casquinha, mas isso não tem interferência no resultado eleitoral. Em 98 o Brasil perdeu e o Fernando Henrique se reelegeu. Já em 2002 o Brasil foi campeão e o Serra, candidato governista, perdeu. Já em 2006 o Brasil perdeu e o Lula se reelegeu. Claro que um presidente antipático ao futebol poderia criar hostilidade. Mas todos nesse período recente foram simpáticos ao esporte.
Já Fleischer acredita que Lula tentará aproveitar uma vitória brasileira em favor de Dilma. Lula é conhecido como apaixonado por futebol.