Veículos de Comunicação

O Vice Que Não Foi

Chegada de governista ao PSB indica que Marquinhos perdeu aliado pré-anunciado

Paulo Duarte estava no MDB e procurava partido próximo do governo e que não fosse alinhado ao bolsonarismo

Uma foto com um nome forte no bastidor tucano ao lado de um deputado estadual governista se filiando ao partido ao qual comanda foi o suficiente para que Ricardo Ayache, presidente regional do PSB, fosse uma escolha colocada em xeque para ser vice de Marquinhos Trad (PSD) na disputa pela cadeira de governador, em outubro deste ano.

Pré-anunciado pelo próprio Marquinhos durante entrevista, quando ainda prefeito, Ayache fugiu "pela tangente" em seguida, dizendo que ainda não havia nada certo. De lá para cá, a relação entre indicador e indicado se tornou um namoro conturbado e divergente.

Primeiro que, por presidir a Cassems, Ayache tem fortes laços governistas – que lançaram Eduardo Riedel na tentativa de manter o tucanato à frente do poder estadual. Já em segundo plano estão as pretensões do líder peessebista, de sua família e de seu partido.

Nem mesmo a presença de Marquinhos no congresso do PSB no mês passado, com apelo pessoal à esposa de Ayache, Melissa, foi suficiente para convencer o seu escolhido a aceitar o convite para encarar a máquina estadual nas urnas nesse ano.

Mal passada uma semana, lá estava Ayache ao lado de Sérgio de Paula filiando o ex-prefeito corumbaense Paulo Duarte ao PSB. Duarte é deputado estadual e estava no MDB, de onde já havia dito que sairia nessa janela partidária, mas precisava ir para uma sigla alinhada com o governo local – e com a candidatura de Riedel – e afastada do bolsonarismo.

OS ARTICULADORES

"Estamos conversando. O relacionamento do presidente [do PSB, Ayache] é nós é muito bom, tanto com o governador como com o Eduardo Riedel. Acho que isso [aliança nas urnas] está avançando, e é uma sinalização nossa, colocando um deputado da nossa base aliada lá dentro. Isso é importante também", frisa Sérgio de Paula, presidente do PSDB regional.

De Paula é conhecido pela habilidade política – ainda mais com o poderio estatal – de fechar alianças. No interior, por exemplo, estima-se que 70 dos 78 prefeitos do Estado estejam alinhados com Riedel, enquanto mais de metade dos vereadores também o apoiarão.

"Pode sim haver um futuro entendimento. Estamos conversando, isso é importante dizer. Já é um sinal importante para todo mundo", completa Sérgio ao explicar a negociação com o PSB, ainda não fechada oficialmente, pois a sigla socialista depende de consenso interno e nacional.

Porém, não foi só Sérgio de Paula que trabalhou para afastar Ricardo Ayache de Marquinhos. Líderes do PT, PDT e PSB se reuniram na tentativa de fechar um acordo para criar uma ampla corrente de esquerda no Estado, sem sucesso – o PDT mesmo já anunciou publicamente que vai apoiar Riedel e seu principal nome, Dagoberto Nogueira, migrou para o PSDB.

Conforme apurado pela reportagem da CBN Campo Grande, durante as últimas semanas houve uma forte corrente pedindo pela candidatura de Ayache ao governo – o que criaria um sólido palanque para Lula em Mato Grosso do Sul, com força para também ir ao segundo turno estadual.

Nesse mesmo período, também aconteceram contatos com Marquinhos na tentativa de que houvesse algum entendimento entre eles, o que aparentemente esfriou. Um dos defensores de tal linha de apoio nessas eleições foi o deputado federal Vander Loubet.

ISOLAMENTO

As articulações dos partidos tidos como "outsiders" nessas eleições e da mais forte das siglas em Mato Grosso do Sul, o PSDB, em conjunto com aliados de primeira hora, vem isolando os demais adversários. Até o momento, Trad conta apenas com o Patriota ao lado, com mais intensidade.

Já o MDB de André Puccinelli é outra sigla que sofre. Até o momento, apenas o Solidariedade se aproximou da candidatura do ex-governador, enquanto o União Brasil só conseguiu fechar com o Podemos, partido onde Rose Modesto já tinha forte influência mesmo ainda no PSDB.

Tais isolamentos provocam nas legendas um grave problema: dificuldades em fechar as chapas proporcionais, ou seja, as que constam os candidatos a deputados estadual e federal. Como as coligações não são mais permitidas nesse âmbito, os partidos dependem dos próprios votos para conseguir vagas e ter mais candidatos nas ruas, intercendendo pelos cabeças de chapa.