A Operação "Cascalho de Areia", desencadeada pelo Ministério Público do Estado de Mato Grosso do Sul, entrou de sola na investigação sobre indícios de desvio milionário de recursos públicos na Prefeitura de Campo Grande.
A 31ª Promotoria de Defesa do Patrimônio Público e Social apurou a "plantação de um laranjal", a partir de 2017, durante a administração de Marquinhos Trad (PSD), usando nome de pessoas pobres para realização de contratos de milhões de reais.
Os maiores contratos dos "laranjas" com a prefeitura da Capital são com as empreiteiras de André Luiz dos Santos, mais conhecido por André Patrola. Dos R$ 405,1 milhões em contrato sob suspeita com a prefeitura da Capital, quase R$ 225 milhões são de serviços prestados pela empresa JR Comércio e Serviços Eireli. Essa empresa está em nome do motorista Adir Paulino Fernandes, que disse sobreviver de venda de queijos e tem uma renda média de dois salários mínimos.
Isso mostra o tamanho da discrepância. Adir não teria acesso aos mais de R$ 200 milhões do contrato de obras com a prefeitura. Sobrevive com apenas dois salários mínimos, de acordo com as informações que constam no processo judicial.
André Patrola é o grande suspeito de criar os "laranjas", segundo denúncia do MPE. Enquanto Patrola mora no residencial Damha I (de alto padrão), o motorista e vendedor de queijo leva uma vida simples no Jardim Tarumã (periferia da cidade), ao lado do Anel Viário, saída para Sidrolândia.
O curioso desse caso é que os contratos das empresas de Patrola são bem modestos em relação aos dos "laranjas". O valor é de pouco mais de R$ 25 milhões.
Outra empresa em nome de "laranja" seria a MS Brasil Comércio e Serviços Ltda. O contrato com a prefeitura é de R$ 111 milhões. Mas os "donos" levam uma vida modesta mesmo com contrato milionário. Um dos proprietátios é Edcarlos Jesus Silva, que reside na Vila Planalto.
Edcarlos sempre teve êxito nas licitações com a prefeitura. A outra empresa em nome dele, a Engenex, que tem como sócio Paulo Henrique Silva Maciel, conseguiu assinar contrato no valor de R$ 37 milhões para manutenção de vias não pavimentadas na Capital.
Neste caso, chama a atenção o endereço da empresa estar localizado em um terreno baldio no Bairro Monte Alegre. O pátio está vazio. A outra empresa tem endereço na Vila Planalto, onde fica uma casa residencial com escritório.
Agora é aguardar o desdobramento das investigações sobre o suposto esquema. Por enquanto, apenas o ex-prefeito Marquinhos Trad afirmou à imprensa não saber das possíveis irregularidades.