Ministro da Educação durante o primeiro mandato de Lula, Cristovam Buarque tem na educação sua principal bandeira política. Pernambucano, já foi reitor da UnB (Universidade de Brasília), governador do Distrito Federal e atualmente é senador pelo PDT.
Em entrevista ao R7, ele defende a aplicação de provas ao longo do ensino médio em detrimento ao Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) para a seleção de vestibulandos na universidade. Buarque diz não acreditar que o próximo presidente – seja homem ou mulher – vá acabar com o exame. Por fim, ele classifica como “vergonhosa” a taxa básica de juros da economia brasileira -, mas evita críticas ao governo.
– Defendo que o Ministério da Educação faça uma prova ao longo do ensino médio, assim como existe no Distrito Federal para se entrar na UnB (Universidade de Brasília).
Veja, a seguir, os principais trechos da entrevista:
R7- O senador tem um projeto de lei para ampliar de 18 meses para indefinido o prazo de início do pagamento do Fies. Por que essa necessidade?
Cristovam Buarque – Muitos estudantes reclamavam que tinham de começar a pagar o curso tão logo terminavam a faculdade. Hoje, sabemos que existe um tempo até conseguir um emprego, mesmo com o diploma na mão. Houve relatos [de alunos] que, por não começar a pagar logo – por falta de pagamento – os juros em cima de juros deixaram a conta praticamente impagável. Por isso, esse [novo] prazo para começar a pagar.
R7 – O presidente Barack Obama recentemente criou uma linha direta de crédito do governo para universitários, é algo parecido com o Fies?
CB – É parecido, mas em uma economia sem as vergonhosas taxas de juros que caracterizam o Brasil.
R7 – O que o MEC deveria fazer para melhorar a aplicação do Enem? A última prova foi feita às pressas?
CB – Defendo que o Ministério da Educação faça uma prova ao longo do ensino médio, assim como existe no Distrito Federal para se entrar na UnB (Universidade de Brasília). O estudante faz o PAS (Programa de Avaliação Seriada) que se caracteriza por uma prova ao final de cada um dos três anos do ensino médio. Isso faz com que o aluno se preocupe com a faculdade mais cedo, fique “antenado” com as características de cada uma e nos melhores cursos.
R7 – Alguns dirigentes ligados à Andifes [associação dos reitores das universidades federais] avaliam que a entrada de um novo ministro e de um novo presidente em 2011 poderia significar o fim do Enem. Qual a sua opinião?
CB – Não é a minha avaliação. Creio que o próximo presidente ou presidenta, bem como o ministro escolhido, manterão o Enem. Talvez haja um aprimoramento que será bem-vindo. O Enem não foi criado pelo governo Lula, mas pelo ministro Paulo Renato [durante o governo FHC]. Não vejo porque acabar. Quanto a ser usado para a entrada na universidade, eu defendo o PAS.
R7 – É possível que o Enem acabe da forma como ele é hoje, caso o pré-candidato José Serra vença as eleições?
CB – Creio que não. Gostaria de uma mudança radical na educação, inclusive com um ministério criado somente para a educação de base e outro para cuidar da educação superior. O ensino superior só vai melhorar quando tivermos um bom ensino médio, que só será bom quando houver um ensino fundamental muito bom.
R7 – Em sua opinião, a expansão das universidades federais está sendo feita às pressas, sem qualidade nos cursos?
CB – O ideal seria fazer a expansão com uma programação de vagas disponíveis, professores necessários, instalações que terão de ser construídas. Mas se não dá para fazer da forma ideal, não podemos criticar a expansão. Toda expansão é boa. Fica, inclusive, mais fácil de arrumar recursos com os prédios já construídos.