Campo Grande completa amanhã 124 anos de emancipação político-administrativa. Mas desde quando a cidade foi transformada em Capital de Mato Grosso do Sul, em 1979, a disputa de grupos políticos refletiu na escolha dos prefeitos. Não se tratava de briguinha qualquer. Era guerra de grupos do mesmo partido, na época, ligado ao regime militar.
Só para se ter uma ideia, em toda a sua história, como o centro do poder político, nunca foi eleita uma mulher para prefeita. Não havia espaço, porque os caciques políticos não confiavam em mulher para um cargo majoritário. Por isso, a mulher sempre foi colocada em segundo plano. Quando lembrada, era para ser vice.
Em 44 anos como Capital, apenas três mulheres foram eleitas como parceira de chapa. A primeira vice da história da cidade, foi Marilu Guimarães, do PTB. Ela foi parceira de chapa de Lúdio Coelho, do PTB. Em 1992, ela assumiu o controle do PFL, numa manobra política, que surpreendeu os caciques da Frente Liberal. Com o partido nas mãos, Marilu conseguiu a homologação da sua candidatura a prefeita e perdeu a eleição para Juvêncio César da Fonseca, do PMDB.
Só em 2005, 13 anos depois, outra mulher foi eleita vice. Desta vez, foi Marisa Serrano, do PSDB, na chapa de Nelsinho Trad, do PMDB. A terceira mulher a ser vice foi Adriane Lopes (hoje no PP), eleita na chapa de Marquinhos Trad (PSD), em 2016, e continuou como parceira dele na reeleição, em 2020. Adriane, no entanto, foi a única vice a ser efetivada como prefeita após a renúncia de Marquinhos em abril do ano passado para disputar ao governo do estado.
Mas antes das eleições diretas para prefeito, Campo Grande teve a primeira mulher no cargo por 3 meses e 6 dias. Essa mulher foi a vereadora Nelly Bacha, do PMDB. Ela assumiu o cargo em 14 de março de 1983 em substituição ao engenheiro Heráclito de Figueiredo, que era homem de confiança do então governador Pedro Pedrossian, do PTB.
Nelly virou prefeita interina por ser presidente da Câmara Municipal. Ela até tentou ser efetivada no cargo. Mas o governador da época, Wilson Barbosa Martins, do PMDB, preferiu nomear o produtor rural Lúdio Coelho em retribuição do apoio que recebeu dele nas eleições.
Em quatro anos, Campo Grande teve 5 prefeitos
Antes da divisão, Campo Grande era a cidade mais importante do sul de Mato Grosso e era governada por Marcelo Miranda, da Arena, eleito pelo voto popular. Com a queda do governador Harry Amorim Costa, ele renunciou ao cargo em 29 de junho de 1979, após completar 2 anos, 4 meses e 28 dias de mandato, para assumir ao Governo do Estado.
A partir daí, o prefeito passou a ser nomeado pelo governador do momento. No mesmo dia da renúncia de Marcelo, o então presidente da Câmara Municipal, vereador Albino Coimbra, da Arena, assumiu a prefeitura para não deixar a administração acéfala. Depois, Albino renunciou a presidência do Legislativo e o mandato de vereador para ser efetivado na prefeitura com a nomeação feita por Marcelo. Albino ficou no cargo por 1 ano, 4 meses e 9 dias.
Só para se ter uma ideia, de junho de 1979 a março de 1983, Campo Grande teve cinco prefeitos. Isso mesmo, em quatro anos, a cidade foi administrada por políticos indicados pelo governador do estado. A primeira eleição popular do prefeito da Capital só foi acontecer em 1985 com a vitória do então vereador Juvêncio César da Fonseca, do PMDB, ligado ao grupo político de Marcelo Miranda.
Com a troca do presidente da República, do general Ernesto Geisel por general João Baptista Figueiredo, Marcelo Miranda foi derrubado do cargo. Figueiredo colocou em seu lugar o então senador Pedro Pedrossian. E com Marcelo, caiu o prefeito Albino Coimbra.
Para preencher esse vazio na prefeitura, o vereador Leon Denizart Conte, do PDS, como presidente da Câmara Municipal, assumiu o cargo por apenas 18 dias. Foi o tempo para Pedrossian fechar uma aliança política com o seu grande rival, na época deputado federal, Levy Dias, do PDS. Levy assumiu a prefeitura em 19 de novembro de 1980. Ele durou apenas 1 ano, 4 meses e 18 dias no cargo porque voltou a brigar com Pedrossian. Sobrou para o então presidente da Câmara Municipal, vereador Valdir Pires, do PDS, assumir interinamente a prefeitura em 6 de abril de 1982. Ele ficou apenas 1 mês e 6 dias no cargo até quando Pedrossian nomeou Heráclito de Figueiredo, que permaneceu no cargo de 12 maio de 1982 a 14 de março de 1983, porque no dia seguinte assumiria o governo do Estado, Wilson Barbosa Martins, do PMDB, eleito pelo voto popular.
Com a troca de governador, Nelly Bacha assumiu a prefeitura por 3 meses até a nomeação do Lúdio Coelho, que ficou no cargo por 2 anos, 7 meses e 11 dias (20 de maio de 1983 a 31 de dezembro de 1985). O sucessor de Lúdio, Juvêncio César da Fonseca foi o primeiro prefeito eleito, em 1985, pelo voto popular. Depois Lúdio voltou a prefeitura escolhido pelo povo, em 1989. Como não tinha reeleição, Juvêncio retornou ao cargo em 1993 e depois veio André Puccinelli, do PMDB, em 1987, sendo reeleito depois.
Ele foi sucedido por Nelsinho Trad, do PMDB, em 2005, e só deixou o cargo 8 anos depois com a sua reeleição. Em 2012, Alcides Bernal, do PP, foi eleito prefeito. Foi o período de grande turbulência política em Campo Grande. Bernal teve seu mandato cassado pela Câmara Municipal depois de ficar no cargo por 1 ano, 2 meses e 11 dias. Ele foi substituído pelo vice Gilmar Olarte, do PP. Mas Olarte não conseguiu concluir o mandato, porque foi afastado do cargo por determinação do Tribunal de Justiça depois de 1 ano, 5 meses e 2 dois. O Tribunal devolveu o cargo a Bernal depois de anular o processo de cassação de Bernal.
Em 2016, Marquinhos Trad, do PSD, foi eleito prefeito tendo como vice Adriane Lopes. Ele foi reeleito com Adriane como parceira de chapa e hoje Adriane é a primeira prefeita de fato da cidade com a renúncia de Marquinhos.
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