Depois de cair em desgraça na política com prisão, cassação de mandato de senador e derrotas eleitorais, Delcídio do Amaral quer dar a volta por cima tentando se eleger prefeito de Corumbá, sua cidade natal. Ele vai concorrer pelo partido caçula do Brasil, PRD (Partido da Renovação Democrática), que nasceu da fusão do PTB com Patriota.
Antes de entrar na política, Delcídio foi bem sucedido executivo de multinacionais, ministro das Minas e Energia, diretor de Gás e Energia da Petrobras e diretor da Eletrosul. O sonho dele era se enveredar política e, para realizar esse desejo, precisou fincar os pés em Mato Grosso do Sul.
O desafio era grande, enfrentou grandes barreiras e traições. Antes mesmo de se mudar para o Estado com a família, ele assinou a ficha de filiação no PSDB para disputar o Governo do Estado, nas eleições de 1998. Só ele acreditava na sua candidatura. Nos bastidores, todo o movimento foi para alijá-lo do processo eleitoral sem alarde.
Depois de passar o prazo de filiação, Delcídio descobriu que a sua ficha foi engavetada e, para sua frustração, ficou impedido de disputar eleição, porque a sua filiação não foi homologada. Foi o primeiro gosto amargo na política.
O candidato do PSDB naquele pleito foi Ricardo Bacha, então secretário estadual de Fazenda do Governo de Wilson Martins (PMDB). Bacha acabou perdendo a eleição para o deputado estadual Zeca do PT.
E foi pelas mãos de Zeca que Delcídio realizou o sonho de entrar de uma vez por toda na política. Filiado no PT, disputou o Senado, em 2002, derrotando o mito da política estadual, o ex-governador Pedro Pedrossian.
Ninguém apostava na vitória de Delcídio por ser um mero desconhecido do eleitor. As pesquisas sempre o colocavam bem abaixo dos seus concorrentes. Mas na reta final da campanha, Delcídio surpreendeu com seu crescimento e, na véspera da eleição, a pesquisa já o colocava à frente de Pedrossian com 4 pontos percentuais. Os números bateram com o resultado final da eleição. Foi eleito ele e o senador Ramez Tebet (PMDB), pai da atual ministra do Planejamento, Simone Tebet.
No Senado, Delcídio teve uma ascensão meteórica na política, se tornando uma grande liderança nacional do PT. Ganhou protagonismo, ainda no primeiro mandato, como presidente da CPI dos Correios que desmontou o mensalão. A sua postura na CPI atingiu em cheio os medalhões do PT, como o todo poderoso ministro-chefe da Casa Civil, José Dirceu, que caiu do governo e teve o mandato de deputado federal cassado.
O mensalão era pagamento de propinas feito aos parlamentares para que aprovassem projetos do governo. Quem denunciou toda essa farra foi o então deputado federal Roberto Jefferson (PTB). Ele perdeu o mandato e levou junto José Dirceu. Hoje Jefferson está preso por ordem do ministro do STF, Alexandre de Moraes.
Consolidado no Senado, Delcídio queria mais da política. Personagem de fama nacional, ele ainda sonhava em ser governador de Mato Grosso do Sul. A primeira tentativa aconteceu nas eleições de 2006, no auge da fama como presidente de uma CPI que apurou corrupção no Governo Lula, quando jogou todas as fichas. Tudo deu errado e perdeu a disputa para André Puccinelli (PMDB). Por essa, Delcídio não esperava porque era um senador influente, vivia nas redes nacionais de televisão e jornais. Achava que venceria fácil a eleição.
A derrota foi um baque. Mas, em 2010, ele foi reeleito senador com recorde de votos com os olhos voltados para a sucessão estadual em 2014. Delcídio entrou na disputa para governador como franco favorito. Ele era considerado imbatível. Mas em política não se conta vitória antes da totalização dos votos.
O primeiro susto foi quando não venceu no primeiro turno. Depois de analisar os números das pesquisas, acreditava que venceria Reinaldo Azambuja (PSDB) com certa folga de vantagem no segundo turno. Não foi o que aconteceu, pois Azambuja venceu a disputa e se tornou governador do Estado. A derrota se tornou pesadelo.
A partir daí, tudo passou a dar errado para Delcídio. Uma certa manhã, ele foi acordado por policiais federais que foram prendê-lo por ordem do ministro do STF, Luiz Fachin, acusado de obstruir as investigações da Lava Jato. Ele foi gravado tentando convencer Nestor Cerveró a não fazer delação premiada.
Só o Senado poderia tirá-lo da cadeia, o que não ocorreu. O plenário aprovou a sua prisão e, depois, cassou o seu mandato. Tempos depois, Delcídio foi inocentado pela Justiça. Mas o estrago já estava feito.
Em 2018, ele tentou voltar ao Senado e não conseguiu. Obteve uma votação pífia. Os eleitos foram Nelsinho Trad (PSD) e Soraya Thronicke, hoje no Podemos. Já em 2022, disputou para deputado federal pelo PTB. Não conseguiu nem mesmo a suplência.
Agora, ele quer recomeçar a sua jornada política como prefeito de Corumbá. E enquanto a campanha não começa, Delcídio vem tentando ganhar seguidores nas redes sociais para falar do seu plano para gerir a cidade. A palavra final está com os eleitores.