O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso disse hoje (7) que o desafio do próximo governo, independentemente de quem seja eleito, será a criação de um consenso que permita dar continuidade à reforma do Estado, iniciada com a implantação do Plano Real, em 1994.
De acordo com o ex-presidente, o período "pós-Real” trouxe desafios culturais que independem das instituições. E um exemplo é a falta de consciência ambiental dos governos e da sociedade como um todo. “O Brasil tem condições de tomar atitudes de vanguarda, como o aproveitamento de energias limpas. Queimamos árvores, isso é arcaico, não cabe mais”, disse Fernando Henrique, ao participar de sessão solene em homenagem aos 15 anos do real.
Para ele, o próximo governo também terá de investir maciçamente em infraestrutura, bem mais do que prevê o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Para isso, é preciso poupança e contenção de gastos, afirmou. “Não se trata de poupança dos pobres, mas principalmente dos ricos, que gastam mal", disse o ex-presidente. Ele apontou ainda a necessidade de investimentos na educação integral, ressaltando que não cabe a qualquer governo afirmar que tem todas as crianças na escola se o tempo de aula é de quatro horas e o modelo educacional está ultrapassado.
No discurso, Fernando Henrique lembrou momentos difíceis de seu governo, como em 2002, quando terminava seu mandato e dúvidas sobre a manutenção da política econômica pelo governo seguinte provocaram evasão de recursos do país. O ex-presidente lembrou que foi procurado pelo então ministro da Fazenda, Pedro Malan, e ouviu dele que o país teria de declarar a moratória, caso uma providência não fosse tomada.
Fernando Henrique disse que buscou uma solução para o problema com o Fundo Monetário Internacional (FMI), que ofereceu um empréstimo de US$ 30 bilhões. Em contrapartida, foi exigido que seu sucessor mantivesse a política econômica. O ex-presidente Henrique lembrou que reuniu todos os candidatos à sucessão, explicou que os recursos seriam usados pelo próximo governante e pediu que cada um tornasse pública sua posição sobre o assunto.
Na época, o então candidato Luiz Inácio Lula da Silva apresentou carta à nação prometendo preservar a política econômica em andamento. Fernando Henrique destacou que Lula, não só manteve a política econômica, mas também quitou a dívida com o FMI.
O ex-presidente também falou sobre as negociações ocorridas quando estava sendo elaborado o Plano Real: “[O plano] foi feito com certa reserva, como qualquer plano, mas, a partir de determinado momento, foi feita uma pregação, foi dito quais os passos e o que faríamos. Houve um processo democrático de envolvimento da sociedade e de mobilização do Congresso. Eu chamei cada dirigente sindical e expliquei o que ia acontecer”, lembrou Fernando Henrique.
No discurso, o ex-presidente lembrou ainda conquistas do trabalhador brasileiro, como o aumento do salário mínimo e a aposentadoria rural e disse que, agora, o país pode “olhar o futuro com mais confiança”.