O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quarta-feira, em Havana, que lamenta "profundamente" a morte do preso político cubano Orlando Zapata, morto ontem (23) após dois meses e meio de greve de fome. "Lamento profundamente que uma pessoa tenha morrido por greve de fome", disse Lula à agência de notícias France Presse quando ia do hotel para o Palácio da Revolução, para se reunir com o presidente cubano, Raúl Castro.
Lula garantiu não ter recebido nenhuma carta pedindo sua intervenção na libertação de presos políticos cubanos, e lamentou a versão de que obteve uma "carta impressa" neste sentido. "Se as pessoas se dirigissem à embaixada brasileira […], se tentassem entrar em contato comigo, jamais deixaria de atendê-las. O que não posso é chegar a um país e me reunir com um grupo de pessoas que disseram que falaram comigo quando não falaram", afirmou o presidente brasileiro.
"A solidariedade faz parte da minha vida e nunca deixo de tratar destes assuntos", disse.
Pelo menos 50 presos políticos pediram ao presidente brasileiro, em uma carta aberta, que intercedesse pela libertação dos dissidentes cubanos e se envolvesse no caso de Zapata, um pedreiro negro de 42 anos detido em 2003 e condenado a 32 anos de prisão por "desacato" ao governo e "desordem pública".
Na carta, os dissidentes presos também destacam que Lula "seria um magnífico interlocutor" para se obter do governo cubano "as reformas econômicas, políticas e sociais urgentemente requeridas" na Ilha.
Segundo Berta Soler, do grupo das Damas de Branco, Zapata "já está morto, mas ainda há muitos presos políticos doentes que deveriam estar em suas casas pois não fizeram nada". "Vamos ver se Lula se interessa por isto."
Em entrevista publicada hoje pelo jornal "O Globo", o dissidente cubano Oswaldo Payá, líder do Movimento Cristão de Libertação, afirmou que Lula é cúmplice na violação contra direitos humanos ocorrida na ilha. "Respeitamos e amamos o povo brasileiro, mas o governo Lula não deu nenhuma palavra de solidariedade para com os direitos humanos em Cuba. Tem sido um verdadeiro cúmplice da violação dos direitos humanos em Cuba", disse.
Zapata, 42, considerado "prisioneiro de consciência" pela Anistia Internacional, morreu em um hospital de Havana em decorrência de uma greve de fome iniciada em dezembro último, para protestar contra as condições carcerárias na ilha. O dissidente morreu no hospital Hermanos Ameijeiras, da capital, para onde foi levado às pressas, na noite de segunda-feira, procedente do hospital do presídio Combinado del Este, será sepultado ainda hoje, em Banes.
Hoje, o presidente inaugurou, ao lado de Raúl, obras do porto cubano de Mariel, remodelação financiada pelo Brasil para ilustrar a sua aliança estratégica com a ilha de governo comunista. Mais tarde, em inédito comunicado, o Ministério de Relações Exteriores cubano informou, em nome de Raúl, lamentar a morte de Zapata. No texto, o presidente negou haver tortura em Cuba e culpou os Estados Unidos pelo ocorrido.
O documento não explica como os EUA seriam culpados pela morte de Tamayo. Cuba costuma, contudo, chamar os presos políticos de "mercenários" a serviço de Washington.
Em Havana, a delegação brasileira que acompanhou o presidente Lula afirmou que ele achou Fidel Castro, que não aparece em público desde julho de 2006 devido a problemas de saúde, "excepcionalmente bem". O grupo ainda distribuiu fotos nas quais Lula, Fidel e Raúl aparecem no jardim da casa oficial, com piscina.
Os jornalistas estrangeiros que trabalham em Cuba não foram autorizados a cobrir a visita de Lula, exceto pela chegada dele ao aeroporto.