Manifestando indignação, o presidente do Senado, senador José Sarney (PMDB-AP), repudiou nesta segunda-feira (17) o que classificou como "campanha sistemática" com uma "prática nazista", que estaria sendo feita contra ele e sua família pelo jornal O Estado de S. Paulo. Sarney disse que vê com tristeza o jornal terceirizar a sua redação, a sua consciência e a sua respeitabilidade, e transformar-se em um tablóide londrino que busca escândalos para vender.
– É de uma irresponsabilidade de tamanha grandeza, que eu não posso acreditar que um jornal publique isso: Empreiteira pagou dois imóveis para família Sarney em São Paulo, sem ter nenhuma prova a esse respeito. Felizmente, no Brasil, não temos câmaras de gás – afirmou.
Sarney disse que o apartamento de 85 metros quadrados, com sala e dois quartos, foi adquirido em 1977, ainda em construção, para abrigar os filhos que cursavam universidade em São Paulo. Ele assinalou que vários colegas senadores já estiveram naquele endereço e se admiraram ao ver o tamanho do apartamento em que se hospeda há mais de 30 anos. Agora, observou o senador, são os netos que estudam na cidade e utilizam outro apartamento no mesmo edifício, adquirido pelo filho, deputado Zequinha Sarney (PV-MA).
– Está lá no Imposto de Renda dele, que comprou [o apartamento] através de um contrato de compra e venda e que está pagando. A escritura não foi passada porque ainda não terminou o seu pagamento, mas as prestações já constam no Imposto de Renda. Eu não tenho nada. Meus filhos se defenderão por eles mesmos – afirmou.
Sarney também manifestou indignação com a reação de alguns senadores às notícias do Estadão. Ele se referiu às declarações dos senadores Sérgio Guerra (PSDB-PE), Demóstenes Torres (DEM-GO) e Valter Pereira (PMDB-MS), publicadas pelo jornal. Ele disse que os colegas "foram muito apressados", pois não procuraram saber do que se tratava antes de pedir investigação sobre os imóveis.
– Cabe na cabeça de alguém que uma notícia de jornal [é suficiente para] instaurar uma investigação? Se alguém comprasse um imóvel e soubesse que o imposto não foi pago, denunciasse à Receita Federal. Mas, o que tem isso com o Senado? Eu devo dar explicações sobre compra ou uso de qualquer coisa aqui para o Senado? Os senadores são obrigados a isso? É por isso a minha indignação – lamentou.
Sarney ressaltou que o artigo 5º da Constituição garante o direito à privacidade, mas o país "rasga" a Constituição e nenhum senador tem mais essa garantia. Ele perguntou o que os senadores devem fazer se não há mais a Lei de Imprensa e o direito de resposta.
– Temos que nos submeter a isso, aqui – disse o senador, lembrando sua vida pública e o farto de nunca ter tido seu meu nome envolvido em nada.
Sarney pediu que os colegas senadores pelo menos refletissem sobre as suas responsabilidades e não procurem dar declarações e solicitar investigação sem ter as informações necessárias. Ele disse que tem procurado "ficar calado" e somente Deus sabe o que tem sofrido, mas não poderia ler aquelas notícias e ficar calado.
O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) disse, em aparte, que é testemunha da forma responsável com que o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, tem se conduzido em todo o processo e quanto lhe custa ser duro e rigoroso, pois não é do seu temperamento e ele nem gosta desse tipo de enfrentamento.
– Não é a sua vontade pessoal que o motiva; ele age institucionalmente. As suas ações dizem respeito ao partido que preside, ao posicionamento político do partido. Neste caso, não fez nenhum pré-julgamento. Eu discordo do presidente Sarney, pois o senador Sérgio Guerra apenas pediu que se investigue, que se esclareça. Não vejo mal nisso – afirmou.
Alvaro Dias observou que, indagado pela imprensa no final de semana, recusou-se a fazer avaliações sobre a notícia porque não conhecia todos os elementos. Mas, Sérgio Guerra, na condição de presidente nacional do PSDB, cumpriu o seu dever de pedir investigação.