Numa decisão surpreendente, o governo brasileiro voltou atrás ontem (09) da decisão de reduzir em 11 milhões de metros cúbicos por dia a importação de gás boliviano. O Brasil vai aumentar esse volume de compra em relação à redução já anunciada e confirmada, no início da tarde de hoje, de viva-voz, pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão.
"Não é uma decisão política. É uma necessidade que se demonstrou com relatórios técnicos da Petrobras e do Operador Nacional do Sistema Elétrico", explicou o ministro.
Inicialmente, a importação foi reduzida, desde o dia 1º de janeiro, de 30 milhões de metros cúbicos por dia para 19 milhões de metros cúbicos diários. Mas, em uma tumultuada entrevista, após reunir-se por horas com ministros bolivianos, Lobão anunciou que o Brasil vai aumentar o volume de compras. A partir de amanhã, já deverão ser 20 milhões de metros cúbicos e, na semana que vem, o bombeamento poderá chegar a 24 milhões de metros cúbicos.
Lobão afirmou que, pela manhã, não se sabia da necessidade de utilizar duas termoelétricas movidas a gás e que essa demanda surgiu durante a tarde. As duas usinas são Araucária e Canoas, que vão consumir de 3 a 4 milhões de metros cúbicos de gás por dia. Segundo Lobão, elas serão acionadas para garantir a segurança energética de Santa Catarina após problemas com chuvas.
O ministro fez questão de dizer que o "Brasil não está fazendo um favor à Bolívia" e afirmou que os consumidores de energia elétrica do Brasil não estão subsidiando a Bolívia. Ele afirmou, porém, que, no encontro, os bolivianos disseram que foram surpreendidos pela decisão e expuseram suas dificuldades com a diminuição das vendas. Por diversas vezes, o ministro foi enfático ao dizer que o governo não estava recuando.
Justificativas
Apesar de ter dito várias vezes, ao longo da semana, que a anunciada redução da importação de gás estava sendo feita apenas por conta da segurança proporcionada pela cheia dos reservatórios das hidrelétricas, Lobão citou agora também as férias coletivas de algumas indústrias no fim do ano como justificativa para a diminuição na compra do gás. Segundo ele, por consequência, essa mudança de planos em poucas horas também se deve a um eventual aumento do consumo pela indústria.
Além dos ministros bolivianos e de Lobão, participaram da reunião o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, que deixou o local sem falar com a imprensa, o subsecretário-geral do Itamaraty, embaixador Samuel Guimarães, e o assessor especial da Presidência da República para Assuntos Internacionais, Marco Aurélio Garcia.
Lobão afirmou que, a partir de abril, o preço do gás boliviano deverá ter uma redução para acompanhar o preço do petróleo. Essa revisão das tarifas, entretanto, é contratual.