A dificuldade do governo federal para gastar o dinheiro público criou um caos orçamentário no Brasil. Além dos recursos autorizados e não gastos, há as despesas cujo pagamento está sendo adiado ano país ano a ponto de virar um orçamento paralelo. São os chamados restos a pagar, despesas empenhadas (compromisso de que há crédito para a obra) que não receberam desembolso do Tesouro e foram transferidas para o ano seguinte. De 2006 a janeiro de 2010, essa conta quase quadruplicou, saltando de R$ 12,8 bilhões para R$ 50 bilhões, segundo o Sistema Integrado de Administração Financeira do Governo Federal (Siafi). É como se a União tivesse, em todo início do ano, um orçamento a mais para gastar. "Orçamento virou peça de ficção", diz o economista Gil Castelo Branco, da ONG Contas Abertas.
"O problema não é mais escassez de dinheiro. A capacidade de planejamento, acompanhamento e execução de projetos tem se deteriorado nas últimas décadas", diz o economista Raul Velloso. Os restos a pagar têm superado os investimentos no ano. Em 2009 os investimentos somaram R$ 34 bilhões e os restos a pagar do ano atingiram R$ 35,3 bilhões.