O HU (Hospital Universitário), em Campo Grande, vai levar ao Conselho Universitário a discussão sobre a ‘privatização’ da unidade de saúde. A informação é do diretor geral, José Carlos Dorsa Vieira.
“O Conselho Universitário é que vai decidir se o HU vai aderir ou não”, fala o médico responsável pela administração do hospital escola. O assunto será pauta da próxima reunião do Conselho, que provavelmente será realizada em agosto.
O diretor explica que em maio deste ano o governo federal criou a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares, cujo presidente do Conselho Administrativo é o ministro da Educação, Aloizio Mercadante, com o objetivo de gerenciar recursos humanos. A maioria dos hospitais universitários trabalha com déficit de funcionários.
O HU está entre eles. Conforme Dorsa, faltam 1.080 profissionais para a unidade de saúde trabalhar com o ideal. “Atualmente o HU tem 887 servidores”, afirma. Conforme o diretor, faltam 348 técnicos de enfermagem, 263 médicos, 120 enfermeiros e ainda pessoal da área administrativa.
Segundo Dorsa, a defasagem é porque há muitos anos não se faz concurso público para reposição daqueles que morrem, aposentam ou pedem demissão, nem para aumentar o quadro. Os serviços oferecidos pela unidade aumentaram, as leis mudaram e não houve mais contratações. “Houve alteração na legislação de horas trabalhadas. Antes eram 40 horas, agora 30”.
Para o hospital não parar, a administração do HU implantou o sistema de plantões. “Às custas de um custo muito alto”, diz. “Mas, por lei, o servidor só pode fazer 24 horas de plantão por semana. A maioria [dos servidores] já executa o plantão no limite”, reforça. “Estamos com a faca no pescoço”. Só com profissionais de nível técnico de enfermagem são 1.800 horas de plantão por mês. Com o serviço extra destes funcionários, que são a maioria, o gasto médio é de R$ 700 mil.
Dorsa lembra que em outras universidades trabalhadores foram contratados por meio de fundações criadas pelas instituições de ensino e o Tribunal de Contas da União considerou irregular a situação e os 26 mil profissionais de 146 hospitais terão que ser demitidos.
Por conta desta situação foi criada a Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares. Cada hospital universitário terá que formalizar adesão para integrar o sistema. Entre as obrigações da empresa está a realização de concurso público e aumentar investimentos. Os trabalhadores serão contratados por regime celetista.
Para o diretor geral do HU, o novo sistema pode melhorar o atendimento dos hospitais universitários à população. “Se adequar recursos humanos mais investimento, com certeza não vai piorar”.
Déficit financeiro – O HU trabalha no vermelho. Recebe do SUS (Sistema Único de Saúde) o que produz. “Apresenta em um mês e daqui a dois meses recebe. Em média, R$ 2 milhões por mês”, diz Dorsa. “O custo do hospital é de R$ 70 milhões”.
Além de dinheiro do SUS, o hospital recebe também da UFMS. “ A UFMS tem o hospital como sala de aula para oferecer ensino. Exige-se mais do que ele deveria fazer”, fala o diretor, explicando que a principal função da unidade é o aprendizado das profissões da área de saúde.
Sobre a superlotação, atendimentos em macas, Dorsa declara. “Não se pode ensinar o irreal. Atender o doente no chão é a realidade brasileira. Melhor assim do que se não tiver paciente”, finaliza.
O HU tem 250 leitos e, nesta quarta-feira, estava com 272 pacientes. A unidade de saúde trabalha normalmente com 30/40 leitos acima da capacidade.
O hospital é referência em algumas especialidades como tratamento de doenças infectologicas, reumatologia, dermatologia e ainda cardiologia, neurologia e pediatria.