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Três Lagoas

Justiça quebra sigilo bancário do presidente da Câmara

Jorginho do Gás é acusado de se apropriar de salário e diárias de viagens de ex-assessor

 - Arquivo/JP
- Arquivo/JP

A Justiça de Três Lagoas aceitou pedido do Ministério Público Estadual e quebrou o sigilo bancário do presidente da Câmara da cidade, Jorge Aparecido de Queiroz, o Jorginho do Gás (PSDB), acusado de se apropriar do salário do seu ex-assessor Antônio Siqueira, conhecido por Tonico. A intenção do Ministério Público é encontrar indícios de que parte do salário do ex-assessor e valores de diárias que ele solicitava, segundo Tonico, foram depositadas na conta do presidente da Câmara.

O ex-servidor diz que era obrigado a devolver parte dos recebimentos de seus salários para Jorginho do Gás – prática conhecida por cobrança de pedágio.

Procurado pela reportagem, o promotor de Justiça, Fernando Lanza, não confirmou e nem desmentiu a quebra do sigilo. Revelou apenas que prevê concluir nos próximos dias o inquérito que apura denúncia. Disse que aguarda somente decisão da Justiça para encerrar a investigação.

Fernando Lanza poderá arquivar a denúncia ou propor uma ação judicial contra o presidente da Câmara. No Legislativo, a possível ida do caso à Justiça pode ser alvo de pedido de abertura de investigação por vereadores. Jorginho do Gás não foi localizado ontem, por telefone para falar do assunto.

Em novembro do ano passado, Tonico procurou o Ministério Público para denunciar que era obrigado a devolver parte de seu salário, assim como valores em dinheiro referente ao pagamento de diárias para viagens a Jorginho do Gás. Aí surgiu a investigação comandada por Lanza.

Paralelo a isso, em junho, o promotor encaminhou um ofício ao Legislativo para cobrar providências em relação à denúncia. Em plenário, o pedido de Fernando Lanza foi arquivado sem apuração da prática de possível crime de extorsão ou concussão e quebra de decoro parlamentar.

De acordo com a denúncia – que possui cópias de holerites e de extratos bancários de Tonico -, o salário do ex-servidor era de R$ 3.039,15, entre R$ 2.067,45 e uma gratificação de R$ 971,70. Desse valor, Tonico disse que era obrigado a devolver R$ 2 mil por mês ao presidente do Poder Legislativo.

Ex-servidor tentou sair do ‘esquema de pedágio’

Em janeiro de 2013, quando Jorginho do Gás assumiu a presidência da Câmara, Tonico contou que o procurou para sair do esquema de devolução de parte de seu salário e que queria recebe-lo integralmente. Com represália, em seguida, teve a gratificação cortada. Mesmo assim, afirma que continuou trabalhando na Câmara e pagando cerca de R$ 700 de pedágio por mês.

No ano passado, suspendeu a devolução de parte do salário que fazia mensalmente e decidiu denunciar o caso ao MP.  “O dinheiro era dado direto nas mãos dele, dentro do carro, no gabinete, ou muitas das vezes ele vinha buscar em casa”, revelou o ex-servidor ao MP.

O mesmo, segundo o denunciante, ocorria em relação às diárias.  “O dinheiro não era meu, era dele. O dinheiro caía na conta e eu já tinha que devolver. Quando entrei [na Câmara], não sabia do caso. Só fiquei sabendo depois e decidi sair. Na época, disse a quatro pessoas que queria sair da Câmara, mas não saí. No meio do ano, chamei ele para acertar, mas ele queria que eu devolvesse mais dinheiro. Disse que não iria devolver mais e nem iria viajar para devolver dinheiro. Antes de procurar o Ministério Público, já havia procurado outras pessoas ligadas à segurança [pública] para denunciar o que vinha ocorrendo”, lembrou Tonico.

Segundo o ex-assessor, diárias de uma viagem a São Paulo, no valor de R$ 3,6 mil, e de outras viagens a Campo Grande, foram entregues para Jorginho do Gás, presidente da Câmara Municipal.

SAQUE

Em maio, após a revelação do caso pela imprensa, o vereador confirmou o depósito de R$ 3,6 mil na conta corrente de Tonico. Mas, conforme o denunciante, e confirmado pelo próprio Jorginho do Gás, presidente da Câmara, a viagem não teria ocorrido. No extrato bancário da conta corrente de Tonico há depósito no mesmo valor, creditado em 16 de setembro de 2013. No mesmo dia, houve saque de R$ 3 mil.

Em março deste ano, 18 meses depois e após a denúncia do caso ao MP, o presidente da Câmara disse que fez a restituição do valor em uma conta da Câmara “com dinheiro emprestado por sua sogra”.

“Esse é um processo demorado. Mas, se Deus quiser vai haver justiça e todo mundo vai saber como as coisas funcionavam. Eu confio e acredito no trabalho da Justiça”, declarou Tonico, que foi exonerado em maio deste ano, após ter tornado pública a denuncia através do Jornal do Povo.