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Lula diz que reformas não andaram por causa de ?inimigo oculto?

De acordo com o presidente, diante da falta de vontade política do Congresso em aprovar as reformas, o governo assumiu o papel de diminuir o peso dos impostos no país

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse hoje (3), durante entrevista concedida no Rio de Janeiro a correspondentes internacionais, que reformas necessária ao país, como a política e a tributária, não andaram devido a um “inimigo oculto” e por má vontade do Congresso Nacional. Lula lembrou que durante seus oito anos na Presidência mandou duas propostas de reformas ao Congresso que não andaram.

“Uma coisa que aprendi nesses oito anos na Presidência é que muita gente gosta de falar em reformas porque é um certo modismo, uma coisa chique falar de reformas”, disse Lula a jornalistas estrangeiros. O presidente disse que enviou, em 2003, a sua primeira proposta de reforma tributária ao Congresso. Segundo ele, ela foi elaborada com a participação de governadores, líderes partidários e empresários, mas mesmo assim não foi aprovada pelo parlamento.

Lula relembrou que no início do seu segundo mandato novamente encaminhou ao Congresso nova proposta de reforma, que contou com a participação dos 27 governadores, empresários, políticos e trabalhadores e, mais uma vez, não andou. “Achei que quando ela chegasse ao Congresso seria aprovada no primeiro dia por unanimidade, tamanha era a coesão em torno da proposta, o que aconteceu? Nada. Porque o inimigo ocultou se manifestou outra vez e não permitiu que ela acontecesse”, argumentou.

“Se ela [a reforma tributária] não foi votada significa que é mais má vontade verbal do que uma necessidade de se fazer reforma tributária, porque as pessoas [os parlamentares] não querem. Tenho vivido com os empresários e cada um deles tem uma bancada lá [no Congresso]. Poderia ter sido feita”, acrescentou Lula.

De acordo com o presidente, diante da falta de vontade política do Congresso em aprovar as reformas, o governo assumiu o papel de diminuir o peso dos impostos no país. “Acho que vamos fazendo a cada dia a nossa reforma. No meu segundo mandato exoneramos mais de R$ 100 bilhões de impostos”, lembrou. Apesar de ser favorável a uma reforma tributária, Lula voltou a defender a carga tributária brasileira, em torno de 35% do Produto Interno Bruto (PIB).

“Há uma contradição extraordinária no Brasil. Você pega o mapa mundi e observa que os países que têm carga tributária muito baixa são os países muito pobres e os que têm alta, são os países ricos, onde o povo vive melhor, tem mais escola, mais transporte, mais cultura. Paga mais imposto [mas recebem serviços em contrapartida]. Certamente, nos Estados Unidos o Importo de Renda deve ser maior do que na Europa”, pontuou o presidente, acrescentando que país com carga tributária inferior a 10% “não existe”.

“Aqui na América Latina tem Estado com carga tributária de 9%. Um Estado que só arrecada 9% não é Estado. Ele não pode nada. Não pode investir em educação, em infraestrutura, não pode investir em absolutamente nada. Ele não existe. A carga tributária no Brasil é justa”, ressaltou.

Lula disse ainda aos jornalistas estrangeiros que após deixar a Presidência, brigará para que o Congresso aprove a reforma política. “Acho que ela é a principal reforma que temos que fazer. Agora que não serei mais presidente da República e serei militante do meu partido, vou trabalhar para fazer a reforma política. Isso não era uma proposta do presidente da República e não é o presidente que tem que fazer reforma política. São os partidos políticos”, disse.