Políticos de todas as esferas e a Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) condenaram nesta quinta-feira, 22, declaração na qual o presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou a tradição bíblica para justificar as alianças de seu governo. "Jesus escolheu os apóstolos, mas pagou o preço", disse o senador Pedro Simon (PMDB-RS), em entrevista.
Em entrevista publicada pelo jornal Folha de S.Paulo, Lula disse que, "se Jesus Cristo viesse para cá, e Judas tivesse a votação num partido qualquer, Jesus teria de chamar Judas para fazer coalizão".
De acordo com Simon, Lula "não tinha a obrigação de governar com essa composição política". "Se Lula convidasse Jesus para seu governo, teria de tirar muita gente que está com ele agora", acrescentou. O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) teceu críticas em seu perfil no Twitter às declarações. De acordo com o parlamentar, "o presidente disse que no Brasil, Jesus faria acordo com Judas. Jesus poderia perdoar Judas, fazer acordo jamais".
"Quando os políticos dizem que na política Jesus faz acordo com Judas, eles acham que os eleitores são todos Pilatos", ironizou o senador. Ele também ressaltou que "quando o presidente da República diz que na política Jesus faz acordo com Judas, ele esta dizendo para os jovens idealistas se afastarem da política".
Também pelo microblog, o deputado federal Ronaldo Caiado ironizou os partidos que compõem a base aliada: "Como PP, PMDB, PR e PTB estão se sentido depois que foram considerados Judas pelo presidente Lula?".
O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab (DEM), por sua vez, manifestou-se sobre a entrevista durante a inauguração de uma escola estadual na tarde desta quinta-feira: "O presidente quis justificar suas alianças. Aqui na Prefeitura de São Paulo, eu não faço aliança a qualquer custo".
Ao ser questionado sobre a afirmação do presidente, o secretário-geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), D. Geraldo Lyrio, afirmou: "Estamos tão mal assim?"
Na entrevista, Lula também comentou sobre o apoio que deu ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). "A manutenção do Sarney era questão de segurança institucional. O Senado está calmo", disse. "A queda do Sarney era o único espaço de poder que a oposição tinha. Aí, ao invés de governabilidade, iam querer fazer um inferno neste país. Foi correta a decisão de manter o Sarney no Senado."
Questionado sobre o papel da imprensa no Brasil, Lula foi enfático: "Não acho que o papel da imprensa é fiscalizar. O papel é informar. A imprensa tem de ser o grande órgão informador da opinião pública. Essa informação pode ser de elogios ao governo, de denúncias sobre o governo, de outros assuntos. A única que peço a Deus é que a imprensa informe da maneira mais isenta possível, e as posições políticas sejam colocadas nos editoriais".