A duas semanas da visita que fará ao Irã, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva envia segunda-feira (3) um recado para a comunidade internacional: todos têm o direito de desenvolver programas nucleares desde que para fins pacíficos, sendo que deve haver um
esforço coletivo para o desarmamento e o fim dos arsenais (nucleares). A mensagem será transmitida pelo ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, nos Estados Unidos.
Amorim participa da abertura da 8ª Conferência Mundial de Revisão do Tratato de Não Proliferação Nuclear (TNP), em Nova York, promovida pela Organização das Nações Unidas (ONU). A mensagem ocorre no momento em que os Estados Unidos lideram uma campanha internacional para a fixação de sanções contra o Irã por suspeitar sobre os fins não
pacíficos de seu programa nuclear. A expectativa é de que o presidente iraniano, Mahmoud Ahmadinejad, também compareça à conferência.
Interlocutores de Lula informaram à Agência Brasil que Amorim fará um discurso breve, de cerca de cinco minutos, mas incisivo. Nele, o chanceler vai ratificar a necessidade de a comunidade internacional se empenhar para evitar o fracasso da revisão do TNP.
Segundo Amorim, o tratado deve se sustentar em três pilares: o desarmamento, a não proliferação e os usos pacíficos da energia nuclear – manejados de maneira equilibrada. De forma clara e objetiva, o chanceler deverá reiterar que todos têm o direito de participar do processo de interlocução e não apenas alguns ou as grandes potências.
De acordo com negociadores em política externa, o chanceler pretende lembrar que é inseguro para a comunidade internacional o momento em que ainda há tecnologia para a construção de arsenais nucleares e cinco países ainda desenvolvem armamentos atômicos. Ao falar para ministros de Estado, alguns presidentes da República e primeiros-ministros, Amorim planeja dizer que o Brasil tem autoridade moral para exigir o progresso no campo do desarmamento nuclear e da não proliferação.
Amorim quer lembrar, em seu discurso, que a Constituição brasileira determina o uso da energia nuclear apenas para fins pacíficos. Também vai recordar que foi ratificado o Tratado de Não Proliferação Nuclear e que Brasil e Argentina iniciaram um processo inédito de estabelecimento de confiança que poderia servir de inspiração para outros países, criando uma agência bilateral de contabilidade e controle.
Diplomatas que acompanham as negociações afirmam que o ministro deve destacar ainda que a preocupação mundial é sobre o aumento constante dos arsenais nucleares, assim como das novas armas nucleares e dos sistemas de transporte que estão sendo projetados. Segundo eles, a redução de estoques não levará ao verdadeiro desarmamento enquanto continuar a corrida armamentista qualitativa.
A conferência ocorre cinco anos depois de outra ter sido realizada sem sucesso. Em 2005, a comunidade internacional não conseguiu chegar a um consenso para elaborar um documento final firmando compromissos sobre as metas que deveriam ser atingidas. Porém, em 2000, houve acordo e as grandes potências econômicas se comprometeram a eliminar os arsenais nucleares e os armamentos.