Independentemente de quem vença estas eleições, o futuro presidente da República tem na política externa o desafio de manter o carisma internacional e o perfil de liderança regional consolidados pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A lista de desafios do sucessor de Lula se estende ainda à definição nas relações políticas e diplomáticas com os Estados Unidos, uma vez que houve nos últimos anos a aproximação com o Irã, e os latino-americanos.
Há dúvidas, segundo os especialistas, sobre a manutenção da atual estrutura de um ministro de Estado de Relações Exteriores – Celso Amorim – e um assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência – Marco Aurélio Garcia. Na tentativa de evitar embates, ficou definido que Garcia cuida de temas regionais e Amorim do todo. Mas, para muitos, a estrutura ainda é confusa.
As polêmicas em torno das relações do Brasil com o Irã, apoiando o programa de desenvolvimento do urânio iraniano desde que para fins pacíficos, continuará em pauta, de acordo com os especialistas. Para eles, de forma semelhante será mantida a relação com outros líderes políticos, também controversos, como o venezuelano Hugo Chávez, o boliviano Evo Morales e equatoriano Rafael Correa.
Os professores Daniel Aarão Reis, de História Contemporânea da Universidade Federal Fluminense (UFF), e Carlos Eduardo Vidigal, de História das Américas da Universidade de Brasília (UnB), advertiram que ao optar pela manutenção de relações diplomáticas com alguns países, o futuro não pode ignorar eventuais ameaças à democracia e denúncias de violação de direitos humanos.
“Penso que o Brasil deveria manter essas relações, favorecendo o diálogo internacional e exercendo pressões para que na área desses Estados não corram riscos os valores democráticos e o respeito aos direitos humanos”, disse Aarão Reis. “Talvez sobre o caso específico do Irã, o futuro presidente pense em rever as relações bilaterais, observando as questões relativas aos direitos humanos”, afirmou Vidigal. “Mas em relação aos países vizinhos, como Equador e Venezuela, não deve haver alteração alguma.”
Para os professores, é fundamental ainda manter os esforços pelo fortalecimento do Mercosul, sem permitir que algumas propostas se tornem apenas desejos distantes da concretização. “O Mercosul é sonho e realidade e deve o Brasil traduzir em propostas concretas, em políticas construtivas, a proposta [global] do Mercosul e da União de Nações Sul-Americanas [Unasul]”, disse Aarão Reis.
Vidigal lembra que havia uma expectativa elevada em relação ao Mercosul, nos últimos dois anos, e que sofreu paralisação em decorrência dos efeitos da crise econômica. “O Mercosul já é uma realidade com uma agenda bastante ampla, mas a crise afetou [vários projetos]. Mas houve um crescimento. O que não ocorreu foi a evolução que se esperava”, disse o professor da UnB.