O MDB entra nestas eleições com o desafio de vencer para administrar o Estado pela sexta vez e, pela terceira vez, com André Puccinelli. O Movimento Democrático Brasileiro, desde a primeira eleição direta para governador de Mato Grosso do Sul, em 1982, foi o partido que mais tempo governou o Estado.
Nesses 40 anos de embate eleitoral, o MDB tocou a administração por 20 anos sob a batuta de apenas quatro políticos: Wilson Barbosa Martins, eleito duas vezes governador; Ramez Tebet, ocupou o cargo por nove meses com a desincompatibilização de Wilson para disputar o Senado, em 1986; Marcelo Miranda e André Puccinelli, eleito para dois mandatos.
O partido só perdeu duas eleições na sua história quando disputou com candidatura própria. Uma foi em 2014, com o ex-prefeito de Campo Grande e hoje senador Nelsinho Trad e, a outra, em 2018, com o então presidente da Assembleia Legislativa, Júnior Mochi. A derrota do partido, portanto, aconteceu nas duas últimas eleições. E, como aliado, apoiando candidato de outro partido, o PMDB não conseguiu vencer nenhuma disputa.
Quando o Estado foi implantado em 1979, depois da divisão de Mato Grosso, os governadores eram nomeados pelos generais que ocupavam a Presidência da República. O escolhido para ser o primeiro gestor do recém criado MS foi o engenheiro e então diretor-geral do Departamento Nacional de Obras de Saneamento (DNOS), Harry Amorim Costa.
A primeira eleição direta foi realizada três anos depois da existência do Estado caçula do Brasil, em 1982, com a vitória de Wilson Barbosa Martins, do PMDB, político que tinha sido, como deputado federal, cassado pelo Ato Institucional número 5 (AI-5), de 1969, e ter seus direitos políticos suspensos durante 10 anos por fazer dura oposição ao Regime Militar de 1964.
O primeiro teste de Wilson nas urnas, no entanto, após recuperar os seus direitos políticos, foi na eleição da seccional da Ordem dos Advogados do Brasil em Mato Grosso do Sul, após a criação do novo Estado. Wilson se tornou o primeiro presidente da OAB-MS e, só depois, se filiou ao PMDB de olho na disputa da primeira eleição direta para governador do Estado. O candidato indicado na época era seu irmão, Plínio Barbosa Martins. Mas, por uma manobra política, a pré-candidatura de Plínio foi retirada para dar lugar à de Wilson.
A campanha do MDB começou, então, pelos maiores colégios eleitorais do estado, Campo Grande e Dourados, onde a propaganda do partido dominava os outdoors espalhados pelas ruas.
Naquela época não havia segundo turno e Wilson, como oposição, bateu nas urnas o candidato e ex-prefeito de Dourados, José Elias Moreira (PDS), apoiado pelo então governador Pedro Pedrossian (PDS), o qual escolhido para concorrer após uma pesquisa feita pelo Sistema Nacional de Segurança (SNI). Fato este revelado por meio do departamento de História da Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD).
Foi uma eleição apertada. Zé Elias, como era conhecido o candidato da situação, venceu no interior e perdeu em Campo Grande. Os eleitores da Capital, portanto, garantiram a vitória de Wilson Martins. O resultado geral dessa eleição foi de 258.192 a favor de Wilson contra 237.144 votos de Zé Elias, uma diferença de apenas 21.048 votos. Outros dois candidatos, Wilson Fadul (PDT) e Antônio Carlos de Oliveira (PT) concorreram a governador de MS neste pleito.
Uma eleição considerada bem diferente das atuais, pois foram eleitos, de uma só vez, deputados estaduais e federais, senador, governador, vereadores e prefeitos (exceção para gestores da capital e dos municípios da fronteira, considerados como área de segurança nacional).
Mas Wilson Barbosa Martins não completou o mandato. Ele desincompatibilizou-se do cargo nove meses antes do fim do seu governo, em 1986, para disputar uma vaga de senador, voltando ao Congresso Nacional 17 anos depois de ser cassado, em 1969. Em seu lugar assumiu o vice, Ramez Tebet, pai da atual senadora sul-mato-grossense Simone Tebet, que hoje está na corrida presidencial pelo MDB.
Wilson foi o único, ao lado de Ramez, a fazer o sucessor na história política de Mato Grosso do Sul com a vitória de Marcelo Miranda, nas eleições de 1986. Nenhum outro governador fez seu sucessor, mesmo deixando o cargo com alto índice de aprovação.
RIVAIS TROCAM DE LADO
Para concorrer às eleições de 1986, Marcelo Miranda rompeu com o PDS, partido do Regime Militar, para se filiar ao PMDB, que era partido de oposição sob a liderança de Ulisses Guimarães. Com o fim do governo militar, o PMDB assumiu a Presidência da República com José Sarney, em 1985, em decorrência da morte de Tancredo Neves (PP), no dia 21 de abril daquele ano.
Antes de se tornar presidente, Sarney era dirigente máximo do PDS no Brasil. Ele rompeu com o então chefe do executivo federal, general João Baptista Figueiredo, para se juntar a Ulisses Guimarães, com quem teve duros embates políticos.
A partir dessa mudança de regime, Marcelo Miranda virou peemedebista e, com apoio de Sarney, Wilson e Ramez, venceu o produtor rural e ex-prefeito de Campo Grande, Lúdio Coelho (PTB) por ampla margem de votos. Marcelo recebeu 412.974 (61,39%) votos contra 243.026 (36,13%) de Lúdio.
Se Marcelo trocou o PDS pelo PMDB, Lúdio trocou o PMDB pelo PTB porque não teve apoio de Wilson para disputar o governo do Estado. Wilson rejeitou Lúdio, seu antigo aliado, para apoiar Marcelo.
Lúdio havia se tornado uma liderança política de expressão depois de ser nomeado prefeito de Campo Grande por Wilson Barbosa Martins. Naquela época não havia eleição direta para prefeito das capitais.
Com a popularidade em alta na Capital, Lúdio sentiu-se no direito de concorrer ao governo do Estado. Mas o compromisso do PMDB era com a candidatura de Marcelo.
Diante desse impasse e alijado dentro do PMDB, Lúdio brigou com Wilson, ingressou no PTB e se tornou grande opositor ao governo peemedebista. Assim, virou candidato contra Marcelo.
PMDB SEM CANDIDATO NAS ELEIÇÕES DE 1990
Mesmo com Marcelo Miranda no governo, o PMDB não conseguiu montar uma chapa para disputar a sucessão estadual nas eleições de 1990. O partido acabou fechando aliança com uma liderança emergente da política estadual, o então deputado estadual Gandi Jamil, do PDT, para governador.
Em troca, o PMDB indicou a filha do senador e ex-governador Wilson Martins, Celina Jallad, para vice. Essa aliança não vingou nas urnas e Pedro Pedrossian (PTB) voltou assumir o governo do Estado, agora por eleição direta, com uma votação esmagadora. Ele obteve 417.589 (59,39%) votos contra 217.289 (30,90%) de Jamil.
RETOMADA DO PODER EM 1994
Depois do fracasso das eleições de 1990, quando deixou de lançar candidato próprio para apoiar Gandi Jamil (PDT), o PMDB dá o troco e retoma o poder pelas mãos do então senador Wilson Barbosa Martins, eleito pela segunda vez para administrar o Estado.
Wilson venceu Levy Dias (PPR), um dos herdeiros políticos do Regime Militar. Na época, Levy polarizava com Pedro Pedrossian em Mato Grosso do Sul pelo controle político do grupo ligado ao governo militar. Levy era sargento, que deixou o Exército para fazer política e Wilson era militante da esquerda contrário ao militarismo no comando da administração do Brasil.
Nesta disputa, Wilson levou a melhor e se elegeu com 392.365 (53,70%) votos. Levy obteve 243.366 (33,31%).
DE NOVO SEM CANDIDATO E DEU ZEBRA EM 1998
As eleições de 1998 foram as mais emblemáticas da história política de Mato Grosso do Sul porque, como se diz na linguagem futebolística, deu zebra. Foi a ascensão do PT ao poder, dentro de um Estado conservador, e o enterro político de um mito: Pedro Pedrossian (PTB). Ele tentava ser governador pela quarta vez. Pedrossian foi uma vez governador de Mato Grosso ainda indivisível e duas vezes de Mato Grosso do Sul. Uma por nomeação do presidente da República, general Ernesto Geisel e, a outra, eleito pelo voto popular.
Para essas eleições, o PMDB, mais uma vez, abriu mão de lançar candidato próprio a governador. O partido optou em apoiar o então secretário estadual de Fazenda, Ricardo Bacha (PSDB), do governo Wilson Martins. A missão de Bacha não era fácil até por ser desconhecido da maioria do eleitorado, mesmo tendo sido deputado estadual. O PMDB, como patrocinador político de Bacha, buscou o deputado estadual Humberto Teixeira, também peemedebista, da região da Grande Dourados, para ser vice.
Com essa dobradinha, Bacha foi o mais votado no primeiro turno com 309.330 votos. Em segundo lugar, ficou o então deputado estadual Zeca do PT com 263.350 votos. Pedrossian, que entrou na disputa eleitoral como franco favorito, ficou fora do segundo turno recebendo 220.362 votos.
Um tucano desconhecido e um petista, que entrou na disputa como azarão, acabaram com a esperança de Pedrossian vencer as eleições.
No segundo turno, mesmo sendo empurrado pelo PMDB e pela máquina do governo, Bacha foi derrotado por Zeca do PT. Deu zebra nas urnas. Aliás, qualquer um dos dois que vencesse as eleições já era considerado zebra, porque derrotara nada menos que o mito da política estadual.
Em segundo turno, Zeca do PT foi eleito por ampla vantagem: 548.040 (61,27%) a 346.466 (38,73%) votos de Bacha.
EM 2002, ANDRÉ AMARELA E DEIXA PMDB SEM CANDIDATO
Nas eleições de 2002, o PMDB, mais uma vez, ficou sem um candidato próprio a governador. O partido apostou em Marisa Serrano (PSDB). Nessa aliança, o PMDB indicou Marçal Filho, da região da Grande Dourados, para vice.
Nessas eleições, o PMDB só não teve candidato próprio porque o então prefeito de Campo Grande, André Puccinelli “amarelou”. Ele tinha de renunciar ao mandato e, na época, contava com apoio da maioria dos prefeitos e sustentado por ampla aliança de partidos. Mas não se encorajou em enfrentar o então governador Zeca do PT, que concorria à reeleição.
Marisa Serrano foi acionada às pressas para substituí-lo nas eleições. Com apoio do PMDB e do André, ela deu um susto em Zeca do PT, indo para o segundo turno quando perdeu a eleição por pouca margem de votos.
Zeca obteve 581.545 (53,74%) contra 500.542 (46,26%) votos depositados para Marisa. O petista foi reeleito por uma vantagem de 81.003 votos.
EM 2006, ANDRÉ RETOMA GOVERNO PARA O PMDB
Nas eleições de 2006, o PMDB decide apostar, de novo, no ex-prefeito de Campo Grande, André Puccinelli, para enfrentar o então senador Delcídio do Amaral (PT), uma liderança que ganhou projeção nacional como presidente da CPI dos Correios, que apurou a corrupção no Governo Lula, mais conhecida como Mensalão.
Como estava fora do cargo há dois anos, André não precisaria renunciar para disputar a eleição. Ele foi para o front de batalha e venceu Delcídio no primeiro turno por ampla vantagem de votos. A candidatura de André deixou as urnas com 726.806 (61,34%) contra os 450.747 (38,04%) destinados ao petista. A diferença foi expressiva: 276.059 votos.
NOVO CONFRONTO COM ZECA
Nas eleições de 2010, André vai para a reeleição contra Zeca do PT. Era o segundo confronto entre os dois. O primeiro foi nas eleições de 1996 para a Prefeitura de Campo Grande, quando André venceu no segundo turno por apenas 411 votos. Esta disputa foi a que projetou os dois na política estadual, principalmente, Zeca que, por causa das eleições na Capital, deixou de ser um deputado de baixo clero e liderou um partido de esquerda para se expandir no estado. Ele ganhou musculatura política e dois anos depois, em 1998, foi eleito governador do Estado.
Passados 14 anos, os dois se reencontram no campo de batalha eleitoral, desta vez, pela conquista do governo do Estado. Nessa guerra eleitoral, André foi mais uma vez vitorioso, ainda no primeiro turno, na disputa pessoal com Zeca.
O governador peemedebista foi reeleito com 704.407 (56%). Já Zeca saiu derrotado com 534.601 (42,5%) dos votos.
DERROTAS E PRISÃO
Depois da vitória em 2010, o PMDB amargou derrotas nas duas eleições seguintes. Também foram os únicos fracassos nas urnas disputando com candidatura própria. A última vitória do PMDB foi André, porque nas eleições de 2014 e 2018 o vitorioso foi Reinaldo Azambuja (PSDB).
Nas eleições deste ano, André tenta, de novo, voltar a governar o Estado pela terceira vez e devolver o poder ao hoje MDB (pela reforma política, foi tirado o “P” nas iniciais do partido).
O plano de André era reconquistar o governo já nas eleições de 2018, enfrentando o governador Reinaldo Azambuja e o juiz federal Odilon de Oliveira, que disputava pelo PDT. Hoje, Odilon é candidato a senador pelo PSD, na chapa de Marquinhos Trad.
Mas a trajetória de André foi interrompida pela sua prisão feita pela Polícia Federal na véspera das convenções partidárias e quando liderava as pesquisas eleitorais. Ele passou todo o período da campanha eleitoral na prisão e só foi solto na véspera do Natal. Em seu lugar disputou Júnior Mochi, mas não conseguiu nem chegar ao segundo turno, que foi disputado entre Azambuja e Odilon. O tucano saiu vencedor nas urnas.
Agora, fora da prisão e sem o risco de ser preso, novamente, com a anulação de inúmeros processos pelo Tribunal Federal da 3ª Região, André, se eleito, será o único político a governar Mato Grosso do Sul pela terceira vez. Pedro Pedrossian foi três vezes governador, só que a primeira quando o Estado de Mato Grosso era único.
CANDIDATA À PRESIDÊNCIA
A maior expressão feminina atualmente do MDB, não apenas em Mato Grosso do Sul, mas também no Brasil, é Simone Tebet. A senadora começou a carreira política em 2002, quando foi eleita deputada estadual, aos 31 anos.
Dois anos depois se tornou a primeira prefeita da cidade onde nasceu, Três Lagoas. E foi reeleita para o cargo com 36.228 votos. Um desempenho nas urnas para não deixar dúvidas sobre o favoritismo junto aos eleitores locais. Simone foi reconduzida ao cargo de prefeita com 76% dos votos válidos, colocando os candidatos do PT e do PTB em segunda e terceira colocação, respectivamente.
Já no Senado Federal, fez história ao liderar a primeira bancada feminina e também ao protagonizar importantes disputas internas, no MDB, contra velhos caciques do partido. Além de presidir a Comissão de Constituição e Justiça, foi a primeira mulher, em quase 200 anos, a disputar a presidência do Senado.
Em 2019, enfrentou o senador Renan Calheiros (MDB-AL) na bancada do partido para a indicação do nome à presidência do Senado, mas perdeu a disputa. Mesmo assim, Simone levou sua candidatura ao pleno e, depois, renunciou para apoiar Davi Alcolumbre (DEM-AP). A decisão foi fatal para forçar, também, Calheiros a sair da disputa pelo cargo.
Dois anos depois, ela voltou a concorrer à presidência do Senado e perdeu para Rodrigo Pacheco (DEM-MG) por causa das traições de senadores do seu partido. Há poucos dias, Simone disse que perdeu a eleição para o orçamento secreto.
Recentemente, foi a protagonista de outro fato inédito na história da política brasileira. O nome de Simone Tebet foi aprovado em convenção nacional do partido para disputar a Presidência da República e, novamente, ela se viu num embate com Renan Calheiros, opositor declarado à representante sul mato-grossense.
Calheiros tentou, sem êxito, cancelar a convenção virtual do MDB no Tribunal Superior Eleitoral. Já Simone conquistou votação expressiva dentro do partido, com 262 votos a favor e somente 9 contra sua candidatura. Assim, se tornou a primeira mulher do MDB a se lançar na corrida ao Palácio do Planalto.