A presença feminina no primeiro escalão das capitais brasileiras é, além de minguada, concentrada nas áreas sociais. Um levantamento feito pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SEPM) nos recém-nomeados secretariados de 26 capitais mostra que 59,9% das mulheres titulares atuam em áreas como educação e assistência social.
Para a secretaria, essas pastas são relacionadas ao cuidado e à extensão da casa e da conduta doméstica. Nas secretarias ligadas a temas econômicos e de gestão contam com 25,3% das mulheres titulares.
A consultora do ONG Cfemea (Centro Feminista de Estudos e Assessoria) Eneida Dutra diz que ainda não foi desconstruído o mito de que as mulheres são naturalmente adequadas para o espaço privado –a casa e a família. A Cfemea realiza estudos sobre o direito das mulheres.
"Não podemos tratar isso como uma coincidência, como se as mulheres não se interessassem por outras áreas. Ainda há barreiras de desconfiança em relação à capacidade das mulheres de liderar e de lidar com situações de pressão", avalia.
A pesquisa fez um retrato da sub-representação feminina nas secretarias e constatou que apenas 19,9% desses cargos de confiança são ocupados por mulheres. "Não há dúvida de que o poder é uma cena masculina, as mulheres são preteridas na política e em algumas áreas específicas. Isso acaba incidindo no teor das políticas públicas", diz Sônia Malheiros Miguel, subsecretária de Articulação Institucional da Secretaria.
A região Norte tem o maior percentual de participação feminina, com 31%. Duas capitais da região, Belém (PA) e Boa Vista (RR), têm paridade na ocupação de suas pastas. O Sul ficou com o último lugar.
Florianópolis, segundo a pesquisa, era a única capital sem mulheres no primeiro escalão. Na última segunda-feira, a primeira-dama Rosemere Berger assumiu o cargo de secretária de Desenvolvimento.
São Paulo ficou com o posto de segunda pior capital no quesito equilíbrio de gêneros em seu secretariado. Apenas a vice-prefeita, Alda Marco Antônio, secretária de Assistência Social, compõe o escalão feminina, segundo a pesquisa. A assessoria de imprensa da Prefeitura informou que a Ouvidoria também tem status de secretaria e tem o comando de uma mulher, Maria Inês Fornazaro.
O quadro é ainda mais acentuado se analisadas as subprefeituras. Das 31, apenas a da Lapa (zona Oeste) é ocupada por uma mulher, a ex-vereadora Soninha Francine. A Câmara Municipal tem cinco mulheres (8,9%) e a Assembleia Legislativa, nove (9,6%), segundo levantamento.
Soninha afirma que a falta de mulheres é consequência da dificuldade de entrada de novos atores na política. "A renovação geracional é um inferno", diz ela, que concorreu à Prefeitura de São Paulo em 2008.
No âmbito federal, a presença feminina também é acanhada. Dos 81 senadores, 11 são mulheres (13,6%). Na Câmara dos Deputados, elas são 45 para um total de 513 congressistas (8,78%). O Brasil tem 503 prefeitas (9%), três governadoras (11,1%) e 106 deputadas estaduais (11,7%).
A deputada federal Luiza Erundina (PT-SP) argumenta ser necessária a adoção de políticas efetivas de incentivo à entrada feminina na política. A deputada tem um projeto para reservar 30% do fundo partidário à programas dedicados à mulher na política, e outro projeto que visa reservar 30% do tempo de rádio e TV de cada partido para dar visibilidade às candidatas.
Para a cientista política Lúcia Avelar, professora da UnB (Universidade de Brasília), a participação das mulheres está se modificando, mas muito lentamente. "Está longe o dia em que os homens vão aceitar as mulheres atuando na política em pé de igualdade."