O ministro de Relações Exteriores Celso Amorim disse nesta segunda-feira em reunião com representantes da União Europeia que o Brasil quer a volta do presidente deposto hondurenho Manuel Zelaya e um acordo com o Irã.
"Para nós, talvez o mais importante desse processo de reconciliação seja criar condições para que o ex-presidente Zelaya, que era o presidente legítimo até o dia 27 [de junho de 2009], possa também voltar a participar da vida política de Honduras", afirmou Amorim, após uma reunião ministerial entre UE e Brasil realizada nesta segunda-feira em Madri.
Celso Amorim (dir.) cumprimenta o ministro espanhol Miguel Angel Moratinos e a representante da UE Catherine Ashton
O Brasil foi um dos mais fiéis defensores da volta de Zelaya ao poder durante a crise hondurenha e chegou a abrigar o líder deposto em sua embaixada em Tegucigalpa por cinco meses, antes da posse do novo presidente eleito, Porfírio Lobo, em 27 de janeiro. Sem acordo, Zelaya foi para a República Dominicana sob salvo-conduto para evitar prisão por delitos cometidos durante o mandato.
Questionado se o Brasil vai reconhecer o governo de Lobo, saída tida como consenso por analistas, Amorim desviou e disse que o Brasil não reconhece governos, mas sim Estados.
"Temos lá [em Honduras] um encarregado de negócios que está funcionando para fins administrativos e para fins consulares, mas seguiremos vendo o que acontece", indicou o ministro.
Irã
Em um tema mais polêmica, o chanceler declarou que o Brasil está disposto a favorecer o diálogo entre o Irã e a Agência Internacional de Energia Atômica (AEIA) sobre energia nuclear, confirmando a posição brasileira contrária as sanções propostas por Estados Unidos e França.
"É importante que haja diálogo: o Brasil segue disposto a favorecer essa conversa entre a Agência e o Irã para garantir ao país a possibilidade de ter um programa nuclear pacífico, e à comunidade internacional a certeza de que esse programa não será desviado para fins militares", declarou.
"Acreditamos que há uma oportunidade de negociar sobre a produção nuclear com o Irã respeitando o direito do país de ter seu programa pacífico", disse Amorim, insistindo que "há uma possibilidade de se chegar a um acordo".
O Irã começou no dia 9 de fevereiro a enriquecer urânio a 20%, violando sanções anteriores da ONU (Organização das Nações Unidas) e ignorando as propostas de acordo das potências. Logo depois, os EUA começaram uma campanha para a aprovação de uma nova rodada de sanções.
O Brasil argumenta estabelecer novas sanções é improvável porque isso depende de uma decisão unânime dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU –EUA, Reino Unido, França e as reticentes Rússia e China.
Assim, afirma o governo brasileiro, antes de pressionarem o Brasil por seu assento provisório no organismo, os adeptos das sanções precisam convencer os chineses.
Mesmo se convencerem e as sanções forem adotadas, a previsão brasileira é de que seriam ineficazes, porque já há sanções às quais o regime do presidente Mahmoud Ahmadinejad tem resistido.
O Brasil, segundo a Folha apurou, deve se abster em uma possível votação no Conselho de Segurança.