Um dos nomes mais fortes na política sul-mato-grossense, na última eleição, a senadora Tereza Cristina (PP) foi recordista em votos (829.149). Apesar da expressão e do capital político e como articuladora, a parlamentar nega que tenha pretensões ao governo do estado. A ex-ministra da Agricultura comentou sobre a pressão que o Banco Central está sofrendo do governo federal e assuntos referentes ao agro, como o Marco Temporal.
O projeto de lei complementar do novo arcabouço fiscal, que foi aprovado nessa semana, a senhora votou contra. Por quê?
Tereza Cristina: Nós tínhamos o teto de gastos, que foi estabelecido em 2016 no governo do Temer, pelo então ministro da economia Henrique Meirelles. E o Brasil melhorou muito de lá pra cá. Nós, em 2015, estávamos afundados numa crise econômica que nós temos os reflexos até hoje, só que a gente tem memória curta. O teto de gastos veio como uma política fiscal para que o governo pudesse priorizar os seus gastos, pudesse não ter uma expansão das suas despesas. Eu concordo plenamente com a atual mudança do novo arcabouço fiscal. Agora, eu fiquei muito decepcionada, porque eu pensei que nós estaríamos trabalhando uma política de Estado, como foi o teto de gastos. E ele acabou tornando-se uma política de governo. Não sou economista, mas ouvi vários economistas renomados e todos tiveram a mesma impressão e a mesma opinião de que nós temos um arcabouço muito frouxo nas despesas.
O Copom manteve a taxa Selic acima dos 13%. Especulou-se que a senhora ligou para o presidente do Banco Central antes da reunião do Copom (Comitê de Política Monetária), isso é verdade? O que foi discutido?
Tereza Cristina: É verdade. Mas não falei com o Campos Neto sobre juros, massobre Plano Safra, trocando ideias com ele. Campos Neto está preocupado, querendo ajudar o agro. Infelizmente, nós vivemos hoje num mundo em que ou é daqui ou é dali, ou é da direita ou é da esquerda! Não é isso, o Campos Neto é um grande técnico, eu tenho certeza que se ele pudesse baixar os juros, ele baixaria.
Como é que a senhora avalia hoje a pressão do presidente Lula sobre o presidente do Banco Central?
Tereza Cristina: Eu acho que só atrapalha o Brasil. O que é que o Banco Central faz? Não é ele que dita a taxa de juros, ele acaba fazendo isso, mas é a credibilidade que o governo e o mercado creditam às políticas econômicas. O Banco Central cuida da política monetária, então não é só o Banco Central, nós precisamos de todo o conjunto. E ter o Campos Neto como presidente do Banco Central, uma pessoa da qualidade técnica que ele tem e de seriedade, eu acho que qualquer país deveria estar feliz, e, em vez disso, a gente só vê essa briga. O Senado é que deu autonomia ao Banco Central, e é por isso que o Brasil melhorou muito. Nós vimos a notícia de que a Standard Poor’s, que é uma agência de avaliação, está dizendo que o Brasil deve subir a sua posição. E, por que a nota do país está melhorando? Porque fez as reformas todas aí, trabalhista, previdenciária, ao longo do tempo. As coisas não acontecem em seis meses. E esses fundamentos têm melhorado por conta dessas reformas e da autonomia do Banco Central.
Sobre o Marco das Garantias que está para ser discutido na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado. Qual o impacto desse projeto do executivo?
Tereza Cristina: Impacta uma série de coisas, por exemplo, toda a parte de cartório, de taxas, de garantias em todos os mecanismos de financiamento, e isso vai facilitar e vai dar uma agilidade, vai colocar o Brasil no mesmo patamar do que já existe em outros países do mundo. Hoje é muito complicado, por exemplo, pegar um financiamento. Eu vou falar do setor que eu conheço. Se eu preciso pegar um financiamento agora, do Plano Safra de investimento, que precisa dar uma garantia real, às vezes o produtor precisa dar uma propriedade que vale R$ 10 milhões para garantir um milhão. Então, você vai poder fracionar. Outra coisa é ter que registrar todas as vezes, todo ano, o mesmo financiamento. Isso vai reduzir muito a burocracia e os custos.
Agora, um outro marco importante é o Marco Temporal, polêmico. Como é que a senhora vislumbra esse cenário aí?
Tereza Cristina:Esse é um assunto que o Congresso devia ter decidido há muito tempo, mas como nós não decidimos, aí as ações acabam caindo no Supremo Tribunal Federal. Hoje nós temos lá em julgamento uma ação de Santa Catarina dificílima. Eu não queria estar na pele deles lá. Por quê? Porque nós temos a previsão legal na Constituição, mas não tivemos a regulamentação do Marco desde 1988. Tivemos, posteriormente quando foi feita a reserva Raposa Serra do Sol. Ali também não foi feito o voto vinculante. Só foi colocado 1988, 19 condicionantes, mas isso não teve repercussão geral. Se tivesse tido, já estava definido. Como não teve essa repercussão geral, hoje nós temos aí uma insegurança jurídica para todos os lados. E, é claro, que tem as ONGs e tem o próprio governo. E, no caso de Santa Catarina, olha a dificuldade: são pequenos agricultores que estão há muitos anos, há mais de 50, 60 anos, com o documento de boa-fé e gozando da estrutura da União, mas hoje os índios estão reivindicando que aquilo era a terra deles. Mas eles não estavam lá em 1988. Há uma teoria contra o Marco Temporal ser estabelecido, como a Constituição deixou entendido em 1988, e tem outra que acha que não, que tem que voltar ao passado.
A senhora teve, há poucos dias, a sua terra quase invadida. Essa situação, atualmente, aqui em MS, está, em termos, sob controle. Mas é uma bomba relógio?
Tereza Cristina: Eu acho que o grande problema é que o governo federal não deixa muito claro a posição dele em relação ao MST. O movimento, todo movimento social, é legítimo desde que não vandalize, não faça invasão. Eu acho que reclamar, pedir direitos, é para isso que existem os movimentos. Mas a bagunça, a anarquia, a invasão, isso é inadmissível. E o governador Eduardo Riedel tem colocado isso com muita firmeza e agido para evitar as invasões.
Nos bastidores comenta-se que a senhora segue um caminho para dominar a política sul-mato-grossense. Qual é o seu projeto político? A senhora pretende, por exemplo, ser governadora do Estado?
Tereza Cristina: De jeito nenhum. Se eu quisesse ter sido governadora, a eleição passada era a eleição de eu disputar o governo. Mas eu não quis. Eu acho que nós precisamos primeiro de jovens lideranças. A gente tem que formar líderes jovens no Brasil. […] Eu agora estou criando um instituto, em São Paulo. A proposta é estudar e debater grandes temas para o Brasil e chegar para a Câmara e o Senado com propostas mais amadurecidas.