Veículos de Comunicação

Entrevista

'O Brasil precisa ser ainda mais ético'

Primeira mulher nomeada ministra do STJ diz que País ainda precisa investir mais no combate à corrupção, empresa e no governo

Eliana Camon foi a primeira mulher nomeada para o STJ - Imagem cedida
Eliana Camon foi a primeira mulher nomeada para o STJ - Imagem cedida

A primeira palestra da série "CBN Em Ação 2019" é “Ética nos Negócios”, que será ministrada pela ministra aposentada do STJ (Superior Tribunal de Justiça), Eliana Calmon, na próxima quinta-feira, dia 30, em Campo Grande. A jurista foi a primeira mulher a compor o STJ e julgou mais 100 mil processos. 

A palestra, que já passou por outros Estados, tem foco na importância das empresas seguirem o caminho da ética. Eliana Calmon revelou em entrevista, nesta semana, que apresentará exemplos práticos de empresas que escolheram  ética para todos os procedimentos. Na entrevista, ela afirmou que a Lei da Empresa Limpa, ou Lei Anticorrupção, de 2013, foi fundamental para uma mudança de postura, principalmente das grandes empresas do país em negociações com órgãos de governo – ambiente historicamente marcado por corrupção com envolvimento de empresários e agentes políticos. 

Jornal do Povo – Qual a importância de falar de ética na atualidade?
Eliana Calmon –
Parece até um contrassenso com o período que estamos vivendo. De tanta falta de ética no Brasil político, nós estarmos a falar de ética nos negócios, ética nas empresas, ética no serviço público. O mundo inteiro, hoje, fala de ética e está realmente interessado na ética. 

JP – Por que houve essa mudança de atitudes?
Eliana –
Porque a partir do momento em que as coisas se transformaram em transparência, em razão dos meios de comunicação e da tecnologia, então, nada se esconde mais, tudo se sabe. A comunicação veio mudar este planeta Terra, de forma que a partir daí, as empresas começaram a mudar o perfil.

JP – Quais empresas ou segmentos mudaram, primeiro, de perfil?
Eliana –
Foram as do sistema financeiro. Chegaram à conclusão que tudo se faz em uma empresa, os negócios que vão bem, que vão mal, se as aplicações estão boas ou estão ruins, precisam chegar até os aplicadores, aos clientes, aos consumidores. 

JP – O brasileiro se preocupa em atuar com ética?
Eliana –
Na realidade, a classe empresarial fica em uma situação muito difícil, porque eles precisam trabalhar, eles precisam ter lucros, eles precisam progredir e, para isso, quase sempre todas as empresas precisam, umas mais outras menos, recorrer aos serviços públicos, seja como suporte, seja como cliente. Neste momento, o empresário fica em dificuldade sem saber se deve ser absolutamente ético e agir de uma forma absolutamente vertical ou se ele deve ceder às pressões que às vezes vem de dentro do serviço público, que no Brasil ainda tem muita corrupção.
Alguns empresários chegaram a dizer pra mim que, e corromper no serviço público é quase uma legítima defesa. Então, o que é que nós respondemos para isso? Nós respondemos que, agora, as coisas estão diferentes. Por que? No passado só se punia aquele que era corrupto, o servidor público, mas agora a punição vem também para as empresas, a partir da Lei da Empresa Limpa. De forma que a melhor maneira das empresas se portarem é agirem dentro da ética, dentro da correção.

JP – Essa é a linha então da sua palestra?
Eliana –
Exatamente. Na palestra eu vou mostrar com exemplos práticos e dentro de uma trajetória que já foi percorrida com diversas empresas, que este é o melhor caminho.

JP – Sua palestra servirá para mostrar como se combate a corrupção?
Eliana –
Eu acho interessante esse tipo de palestra porque nós vamos compreender algumas coisas que se passaram no Brasil, para que o Brasil, hoje, estivesse nesse estágio, da erradicação da corrupção dentro do serviço público. Desta forma, podem os empresários e mesmo aqueles que não são empresários, mas são interessados em política verificarem a necessidade da ética nos negócios e na vida pública.