O presidente da Câmara Municipal de Três Lagoas, Jorginho do Gás, está sendo acusado por um de seus assessores de se apropriar de parte do seu salário. A denúncia, que já está formalizada no Ministério Público de Três Lagoas desde o final do ano passado, é tão grave que as investigações correm em segredo de Justiça. Comprovada a acusação, o vereador poderá perder seu mandado e ser condenado na área civil e criminal. O Jornal do Povo entrevistou com exclusividade o funcionário que denunciou essa prática.
“O meu salário de R$ 3,2 mil caía na conta e na hora ele já ligava pedindo a devolução de dinheiro. Eu só ficava com R$ 1,2 mil. Devolvia na mão dele, dentro do seu escritório ou ele buscava em casa. Às vezes, [o pagamento] ocorrida dentro do carro. Na hora, ele me ligava, tá no jeito, estou indo. Era dessa forma”, revela Antonio Siqueira, conhecido como Tônico, ao contar detalhes da ação do seu empregador na Câmara Municipal, o presidente Jorginho do Gás.
“Eu tomei providência, senão estaria até hoje enrolado, estaria no meio de crime organizado. Graças a Deus eu consegui sair fora do crime organizado”, afirma Tônico, ao lembrar quando aceitou fazer parte do esquema de devolver boa parte de seu salário ao presidente do legislativo Municipal.
A equipe de reportagem da TVC esteve na Câmara Municipal de Três Lagoas na noite de ontem, para falar com Jorginho, mas foi informada que o vereador estava em uma viagem para Brasília (DF). Sobre estas acusações, publicadas pela primeira vez na edição de 28 de fevereiro, o presidente da Câmara, Jorginho do Gás, disse ao Jornal do Povo na época: “Desconheço estas acusações. Nunca teve isso. Temos funcionários lá, pode investigar. Acho que quem falou alguma coisa tem que produzir provas, né? A Justiça está aí para investigar. A gente está aberto e com consciência tranquila”.
MAIS DE R$50 MIL
Pelas contas do denunciante Tônico, que resolveu conceder entrevista ao Jornal do Povo e para a TVC, canal 13, contabilizado a parte de seu salário e diárias a que era obrigado a devolver, durante mais de um ano, o presidente da Câmara Municipal teria apropriado em dinheiro aproximadamente R$ 50 mil, que foram depositados em sua conta-salário.
“Era um dinheiro para ele devolver e ele não devolveu. Passou um ano e ele não devolveu o dinheiro. Eu fui para cima dele, fui negociando, tentei todos os tipos de negociação com ele. Ele chegou a cortar minha gratificação e depois voltou a pagar, mas pediu R$ 700 de volta. Eu falei: ‘não devolvo mais, eu estou devendo. Não vou devolver mais. Além do que você já está me devendo. Você ficou de me pagar e não pagou. Então não vou devolver mais’”.
Afirmando ter provas das denúncias, Tônico ressalta que após um ano dessa apropriação indevida resolveu dar um basta e cobrar seus direitos. Para a equipe de jornalismo do TVC Agora, o assessor informou que chegou a receber o dinheiro de duas diárias e devolvê-las ao presidente. Em uma viagem que faria a São Paulo, recebeu diárias que somaram R$ 3,6 mil, e que essa importância foi devolvida integralmente ao vereador. “A gente assina e cai na conta o dinheiro. Do jeito que a gente pegava, entregava na mão dele. Mesmo quando a gente viajava, não ficava com o dinheiro”.
DEVOLUÇÃO
Tônico conta que quando começou a pressionar para ver devolvidas as importâncias que obrigatoriamente repassava ao presidente da Câmara Municipal, sua gratificação foi cortada e passou a receber somente R$ 2 mil. Depois de fazer várias negociações, passados alguns meses voltou a receber o valor integral, mas mesmo assim o presidente insistiu em ficar com R$ 700. “Eu vivo deste salário, eu não vou devolver mais nada”, disse ele ao Jorginho do Gás.
O assessor parlamentar conta que no início aceitou a devolver seu salário, devido a um acordo feito durante a campanha eleitoral e que tinha promessa que tudo seria devolvido. “Quando terminou a campanha eu vi que estava sendo enrolado. Aí fui para cima dele”, conta. Ele afirma que como retaliação, sua gratificação e ticket de refeição foram cortados por alguns meses. “Aí ele ficou sem falar comigo. Ficou meio grosso comigo. Foi indo, foi indo, quando chegou 2014, ele tirou meu ticket refeição, minha gratificação e aí foi quando eu procurei a Justiça, procurei uma lei, e passei a receber”.
Desde que não aceitou a fazer mais parte do esquema da devolução do seu salário, Tonico afirma que passou a sofrer perseguição. “Sofri muito, continuo sofrendo. Porquê não é fácil. Retaliação, ameaça, discriminação. Tudo isso eu passei e continuo passando. Só que fico quieto, dou um jeito, vou para a rua, vejo minhas coisas. Mas é sofrimento”.
A entrevista com o assessor Tônico, que faz a denuncia será veiculada no programa jornalístico TVC Agora, da TVC Canal 13, às 11h30.