O Partido dos Trabalhadores (PT) aprovou nesta sexta-feira, em Brasília, uma série de diretrizes que pretende incluir no programa de governo de seu candidato à presidência da República, provavelmente a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Roussef.
Na área econômica, o texto sugere, por exemplo, o fortalecimento de empresas estatais e o controle sobre o câmbio como medidas "que deve tomar um verdadeiro governo do PT".
Já no campo social, o documento final defende, entre outros pontos, a regulamentação do aborto, posição tradicional no partido e que já aparecia em documentos anteriores.
As diretrizes incluem, ainda, o apoio "incondicional" à instauração de uma comissão da verdade, com o objetivo de apurar possíveis casos de tortura praticados durante o regime militar.
Aprovadas por 1.350 delegados do partido de todas as regiões do país, as sugestões terão agora de ser discutidas com a ministra Dilma, que neste sábado deverá ser oficializada candidata do partido ao Palácio do Planalto.
O deputado federal Ricardo Berzoini (SP) disse que a palavra final sobre o programa de governo "não é nem dela, nem do partido".
"O bom senso recomenda que ela e o partido possam entrar num acordo e esse acordo pressupõe um diálogo franco", disse o deputado, que nesta sexta-feira entrega o cargo de presidente nacional do partido a José Eduardo Dutra (RN).
Berzoini acrescentou que as diretrizes aprovadas hoje são o início de um "processo" e que o programa final de governo da ministra Dilma terá ainda de passar "por uma série de mediações com outros setores da sociedade", incluindo, segundo ele, setores sociais, sindicatos e empresários.
Além disso, o programa de governo da candidata Dilma Roussef terá ainda de incluir sugestões de partidos aliados, sendo o principal deles o PMDB.
Ajustes
O texto-base apresentado no congresso do PT com as diretrizes do programa de governo sofreu alguns ajustes nos últimos dias, supostamente a pedido do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O presidente teria ficado preocupado com o tom incisivo de algumas propostas, sobretudo no que diz respeito a uma maior participação do estado na economia.
Além disso, haveria ainda o receio no Palácio do Planalto de que o documento, intitulado "A Grande Transformação" deixasse a impressão de algum tipo de ruptura com o modelo vigente.
Integrantes do partido, porém, minimizaram a polêmica com o argumento de que mudanças ao texto-base são "naturais" em "debates democráticos".
O assessor especial da Presidência e coordenador do programa de governo do PT, Marco Aurélio Garcia, disse que o programa "reproduz estritamente" as linhas políticas do governo Lula.