O PSDB só conseguiu conquistar o Governo de Mato Grosso do Sul a partir das eleições de 2014 depois de sair da sombra do PMDB. Os dois partidos foram protagonistas de várias parcerias eleitorais. Os tucanos não venceram nenhuma eleição para governador com apoio do PMDB, mas ajudaram os candidatos peemedebistas a ganharem eleições tanto para governador quanto para Prefeitura de Campo Grande. O PSDB era apontado como uma ferramenta de André Puccinelli para se manter no poder.
Tudo mudou quando o então deputado federal e hoje governador Reinaldo Azambuja assumiu a presidência regional do PSDB. Ele rompeu com o PMDB, se afastou de Puccinelli e não aceitou apoiar Edson Giroto para prefeito de Campo Grande, em 2012. A relação ficou tão estremecida, que Azambuja se lançou candidato para medir força com Giroto nas eleições para prefeitura.
Nem um, nem outro venceu. Giroto, com apoio de Puccinelli e dos irmãos Trad (Nelsinho, Fabinho e Marquinhos), foi para o segundo turno e perdeu para o deputado estadual Alcides Bernal, do PP. Azambuja ficou em terceiro e, por pouco mais de 9 mil votos, não tira Giroto do segundo turno.
Com essa disputa em Campo Grande, Azambuja ganhou musculatura política e eleitoral, o que lhe deu força para conquistar o Governo do Estado, em 2014, tirando do segundo turno o candidato de Puccinelli, o ex-prefeito de Campo Grande e hoje senador Nelsinho Trad, que na época era filiado ao PMDB. Hoje ele comanda o PSD no Estado. Azambuja venceu o então senador Delcídio do Amaral, do PT, que havia entrado na disputa ao governo como favorito nas eleições.
Só que Nelsinho se aliou a Azambuja no segundo turno e Puccinelli ficou fora. Ele estava brigado com o tucano. Depois desse rompimento, PSDB e PMDB não se aliaram nas eleições seguintes. Eram rivais. Tentativas de reconciliação não faltaram, mas não houve acordo e mesmo sem o PMDB, Azambuja foi reeleito em 2018.
O partido, nesse último pleito, ainda elegeu três deputados federais, sendo Rose Modesto, Beto Pereira e Geraldo Resende, além de cinco deputados estaduais. Foi o melhor resultado nas urnas desde 1998, quando o PSDB chegou a eleger sete deputados estaduais e dois federais em Mato Grosso do Sul.
QUEBRAR TABU
Os tucanos entram na corrida eleitoral de 2022 com a missão de quebrar o tabu do governador não fazer o sucessor desde as eleições de 1986, quando o PMDB se manteve no poder com a vitória de Marcelo Miranda. Além disso, o PSDB busca a sua terceira vitória consecutiva com Eduardo Riedel. Se isso acontecer, será o primeiro partido a conseguir esse feito eleitoral no Estado.
TRAJETÓRIA DO PSDB EM MS
O PSDB nasceu a partir de uma cisão do PMDB, em 1988, tendo à frente Fernando Henrique Cardoso, anos depois eleito presidente da República, Mário Covas, José Serra, Franco Montoro e outras lideranças. Em Mato Grosso do Sul, expressivos caciques peemedebistas, como Wilson Barbosa Martins e o senador Antônio Mendes Canale, pularam para dentro do ninho dos tucanos, como eram chamados os integrantes do PSDB. Wilson não ficou por muito tempo, porque não se adaptou a ficar no meio dos tucanos, divergiu dos programas do partido e voltou a cerrar fileira na sua antiga casa partidária, o PMDB.
Nas eleições de 1988, o PSDB disputou a primeira eleição no Estado, apesar de não ser constituído oficialmente, pois se beneficiou de uma lei que permitia aos novos partidos a participação no pleito municipal daquele ano. Foi uma corrida contra o tempo para reunir nomes e formar as chapas e, ao final, o recém criado PSDB elegeu o prefeito de Mundo Novo, Daudt Conceição, além de alguns vereadores em outros municípios.
Mas, se em nível nacional, o PSDB e PMDB viviam em guerra política, em Mato Grosso do Sul caminharam juntos nas eleições. Só que nessa aliança, o PMDB sempre levou a melhor. E, quando apoiou o projeto eleitoral dos tucanos, fracassou.
A parceria começou com as eleições para governador do Estado em 1990, quando os dois se uniram para apoiar o então deputado estadual Gandi Jamil, do PDT. A aliança não impediu a vitória de Pedro Pedrossian, do PTB, no primeiro turno por 417.589, o que representou quase 60 por cento dos votos válidos (59,39%).
Nessa disputa eleitoral, o PSDB foi um simples coadjuvante e o PMDB um protagonista, porque indicou Celina Jallad, filha do ex-governador e senador Wilson Barbosa Martins, para ocupar a vaga de vice na chapa e também o candidato ao senado, o ex-prefeito de Campo Grande Juvêncio César da Fonseca que só conseguiu a vaga oito anos depois. O papel dos tucanos era ajudar a empurrar a candidatura de Gandi Jamil na corrida eleitoral contra Pedro Pedrossian. Não deu certo. Pedrossian saiu vitorioso para governar o Estado pela segunda vez.
Já nas eleições de 1994, o PSDB, recheado de cardeais políticos, deixa de ser um mero parceiro do PMDB ao integrar a chapa majoritária na disputa pelo Governo do Estado. Os tucanos indicaram o ex-prefeito de Dourados, Braz Mello, para vice de Wilson Barbosa Martins e o ex-prefeito de Campo Grande, Lúdio Coelho, para senador. Foi a primeira vitória dessa aliança.
Para se unirem nessas eleições, Wilson Martins e Lúdio Coelho deixaram as diferenças para trás e se reconciliaram em torno de um projeto de poder. Essa soma de forças acabou elegendo os dois e, por tabela, Ramez Tebet, do PMDB, para senador. Foi a única aliança da história política do Estado que elegeu o governador e os dois senadores. Nenhuma outra aliança teve essa proeza nas urnas.
Nas eleições seguintes, em 1998, o PSDB disputa pela primeira vez o cargo de governador como cabeça de chapa numa aliança com o PMDB. O candidato tucano era o então secretário estadual da Fazenda, Ricardo Bacha. O PMDB apresentou o deputado estadual Humberto Teixeira, da região da Grande Dourados, para vice. Essa parceria ajudou a enterrar um mito da política estadual, Pedro Pedrossian, e fracassou na disputa com o deputado estadual Zeca do PT.
Se Reinaldo Azambuja conquistou o Governo do Estado, dois anos depois de perder a disputa pela Prefeitura de Campo Grande, em 2012, o mesmo aconteceu com Zeca do PT. Após ser derrotado por André Puccinelli, em 1996, por uma diferença de apenas 411 votos, dois anos depois ganhava a eleição para governador.
Nas eleições de 2002, o PSDB voltou a concorrer ao Governo do Estado com Marisa Serrano. Ela foi chamada às pressas para substituir André Puccinelli, que desistiu na véspera da convenção de renunciar ao mandato de prefeito para enfrentar o governador Zeca do PT, que concorria à reeleição.
Com a amarelada de Puccinelli, Marisa foi para a disputa eleitoral tendo como parceiro de chapa, Marçal Filho, do PMDB, e deu um susto em Zeca. As pesquisas apontavam a vitória do petista no primeiro turno, mas isso não se confirmou nas urnas e o resultado inesperado deixou o petista e seus aliados atordoados. No segundo turno, no entanto, Zeca foi reeleito governador numa votação apertada: 581.545 (53,74%) a 500.542 votos destinados à Marisa.
Em 2006, o PSDB retribui o apoio ao PMDB recebido nas eleições de 2002 e contribui para a vitória de André Puccinelli na disputa pela sucessão estadual, derrotando o senador Delcídio do Amaral, do PT. Nesse pleito, Marisa que preencheu o vácuo deixado por André em 2002, foi contemplada na aliança e eleita senadora com apoio de Puccinelli. Já na Assembleia Legislativa, o PSDB teve o pior desempenho desde 1994, elegendo apenas dois representantes.
Em 2010, Puccinelli vence mais um petista, enfrentando um velho conhecido rival, Zeca do PT, para governador do Estado com apoio do PSDB. Dessa vez, o PMDB montou chapa pura com Simone Tebet como vice. Os tucanos apenas se contentaram em disputar vagas para deputado federal e estadual. Em compensação, dois tucanos foram nomeados por Puccinelli para conselheiros do Tribunal de Contas: o deputado federal Waldir Neves e a senadora Marisa Serrano.
PSDB “ATROPELA” PMDB E PT
As eleições de 2014 marcam a nova trajetória do PSDB em Mato Grosso do Sul com a conquista da sua primeira vitória na disputa pelo Governo do Estado.
Tudo indicava, naquelas eleições, a polarização entre o senador Delcídio do Amaral, do PT, apontado como grande favorito a vencer no primeiro turno, e o ex-prefeito de Campo Grande, Nelsinho Trad, do PMDB, apoiado pelo então governador André Puccinelli.
Enquanto isso, o deputado federal Reinaldo Azambuja (PSDB) era assediado por Delcídio para concorrer ao Senado numa aliança informal, porque havia veto da direção nacional do PT a uma parceria formal com os tucanos. O acordo estava praticamente acertado. O que Azambuja queria mesmo era disputar ao governo, mas lhe faltava apoio político, porque tanto Delcídio quanto Nelsinho tinham ampla aliança partidária.
O rumo começou a mudar de direção num tradicional almoço de sexta-feira entre Puccinelli, Nelsinho, Fábio Trad, o ex-senador Antonio João, presidente regional do PSD, e mais um convidado. Antonio João propôs a retirada do seu partido da aliança do PMDB para apoiar Azambuja ao governo estadual. Nelsinho foi surpreendido com a proposta. Antonio João disse que era uma manobra necessária para tentar impedir a vitória de Delcídio no primeiro turno e se comprometeu em convencer Azambuja a firmar o compromisso de se aliar com Nelsinho no segundo turno.
Puccinelli ouviu e respondeu que tinha as suas diferenças com Azambuja, com quem está rompido desde as eleições municipais de 2012, mas não criaria nenhuma objeção se fosse para ajudar Nelsinho. Ele até comentou que as pesquisas apontavam Azambuja com o menor índice de rejeição.
Um dos presentes foi encarregado de ligar para Azambuja. No domingo, logo pela manhã, ele estava na sede do jornal Correio do Estado para a reunião. Ali, Antonio João propôs uma aliança entre PSD e PSDB para apoiá-lo ao governo estadual. Nessa parceria, o dirigente do PSD pediu a vaga de senador, porque o seu plano era usar o tempo de TV para desconstruir a imagem de Delcídio de “bom moço”, de quem foi suplente nas eleições de 2002 e, portanto, o conhecia muito bem.
Azambuja tinha, até então, apenas o apoio do nanico PHS. Com o PSD, o tucano ganhou mais tempo de TV para fazer a campanha eleitoral. Ele deixou a reunião animado, dizendo que iria vencer as eleições e queria apoio do Nelsinho em um eventual segundo turno.
Ninguém poderia imaginar, no entanto, que Nelsinho iria ficar fora do segundo turno. E ficou. Azambuja foi para o segundo turno, derrubou o favoritismo de Delcídio e venceu as eleições por 741.516 (55,34%) contra 598,461 (44,66%) dos votos depositados para Delcídio. A estratégia deu certo para eleger Azambuja e errada para Nelsinho, que não conseguiu desenvolver a sua campanha por um racha na aliança. Os candidatos a deputado federal e estadual se sentiram abandonados por Nelsinho.
PRISÃO E UM JUIZ COMO ADVERSÁRIO
As eleições de 2018 foram as mais difíceis para a reeleição de Reinaldo Azambuja. No meio da campanha eleitoral, ele teve de enfrentar uma operação da Polícia Federal e a detenção de um filho. E tudo conspirava a favor do juiz Odilon de Oliveira, que concorria ao governo pelo PDT, já que na véspera das convenções um dos grandes adversários foi preso. Era André Puccinelli. Assim, o caminho estava livre para o juiz conquistar a vitória.
Mas Azambuja foi pra luta e, no segundo turno, buscou se aliar ao prefeito Marquinhos Trad, do PSD, para atrair o voto do eleitorado de Campo Grande. A estratégia deu certo e Azambuja foi reeleito numa votação apertada: 677.310 (52,35%) a favor contra 616.422 (47,65%) de Odilon. A diferença foi de 60.888 votos.
Agora, nas eleições de 2022, o PSDB aposta em Eduardo Riedel e tem o antigo aliado, Marquinhos Trad, como um dos grandes rivais. E o juiz Odilon, que enfrentou Azambuja em 2018, se aliou a Marquinhos e concorre ao Senado pelo PSD.
Ou seja, os adversários das eleições de 2018 viraram aliados e os aliados se transformaram em rivais.
LEGISLATIVO EXPRESSIVO
Apenas seis anos após ser criado, o PSDB já elegia o primeiro senador em Mato Grosso do Sul. Era Lúdio Coelho, ex-prefeito de Campo Grande pelo PTB que se “aninhou” ainda durante o mandato no Executivo. Foi o último cargo público de Lúdio Coelho e o PSDB o último partido ao qual esteve filiado.
A primeira mulher a representar Mato Grosso do Sul no Senado Federal foi a tucana Marisa Serrano, eleita senadora em 2006. Antes, ela havia ocupado o cargo de deputada federal pelo partido entre os anos de 1999 a 2003. Marisa deixou o senado para assumir uma vaga de conselheira do Tribunal de Contas do Estado (TCE-MS).
Na Assembleia Legislativa de MS, a sigla teve uma bancada expressiva na maioria das legislaturas, sendo a maior delas resultado das eleições de 1998, quando o PSDB elegeu sete deputados estaduais. Um desempenho que não voltou a se repetir. Mas o partido foi responsável pela reeleição de diversos políticos.
O Aquidauanense Roberto Orro foi eleito por três vezes pela sigla nos anos de 1994, 1998 e em 2002. E fez do filho o sucessor no partido, o atual deputado Felipe Orro. Outro nome a ocupar a bancada do PSDB por três vezes foi o do ex-prefeito de Ponta Porã, Flávio Kayatt, eleito em 1998, 2002 e 2014, e atualmente conselheiro do TCE-MS.
Três eleições vencidas no PSDB para uma vaga no legislativo estadual também estão na história política do ex-prefeito de Naviraí, Onevan de Matos, em 2010, 2014 e 2018. Uma figura emblemática que exerceu sete mandatos como deputado estadual, sendo também deputado constituinte de Mato Grosso do Sul.
Já o representante de Miranda, Waldir Neves, fez dobradinha pelo PSDB ao vencer as eleições para deputado estadual em 1998 e 2002. Na eleição seguinte, em 2006, foi eleito o único deputado federal pela sigla. Atualmente, Neves está no TCE-MS onde já ocupou o cargo de presidente da Instituição por dois mandatos.
PARTIDO EM NÚMEROS
O PSDB reúne mais de 31 mil filiados em Mato Grosso do Sul e tem diretórios nos 79 municípios do Estado. Entre os atuais representantes estão: o governador, dois deputados federais, quatro deputados estaduais, 37 prefeitos e 239 vereadores.