No centro do maior escândalo da história recente do Senado, o presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), ocupou a tribuna e discursou tentando minimizar as denúncias de nepotismo e tráfico de influência. Disse que não se licenciará da presidência e que as acusações são menores, baseadas em recortes de jornal, e "não representam queda de padrão ético". O Conselho de Ética do Senado já arquivou duas denúncias e duas representações contra ele, e as outras seis devem ter o mesmo destino. Sarney tentou dividir com os demais senadores a responsabilidade pelos atos secretos do Senado e pelas nomeações de seus parentes para cargos de confiança – que não teriam ocorrido, segundo ele, sem o aval dos parlamentares. "Todos aqui somos iguais. Nenhum senador é maior do que outro e por isso não pode exigir de mim que cumpra sua vontade política de renunciar. Permaneço pelo Senado, para que ele saiba que me fez presidente para cumprir o meu mandato", afirmou Sarney, que também se disse vítima de um complô da imprensa. O discurso esfriou o clima de acusações no plenário. A oposição vai protestar contra o arquivamento das denúncias no Conselho.
"São coisas que não representam nenhuma queda de padrão ético, e vou enumerá-las, para que se veja como são menores e como elas podem ser jogadas e manipuladas. Todas são respaldadas, sem nenhuma exceção, por recortes de jornal."
José Sarney sobre as denúncias
No discurso de 48 minutos, o senador José Sarney negou influência sobre a nomeação de mais de dez funcionários da Casa ligados a ele ou à sua família. Disse, por exemplo, que não conhecia Rodrigo Cruz -mas se esqueceu de que foi padrinho no casamento do rapaz com a filha do ex-diretor da Casa Agaciel Maia.
Lula recebe Collor à noite
O presidente Lula recebeu, anteontem à noite, em seu gabinete, o senador Fernando Collor (PTB-AL), um dos comandantes da tropa de choque de Sarney. Repórteres perguntaram a Collor o que achava da interpelação contra ele feita pelo senador Pedro Simon. "Manda ele ir …", respondeu.