No segundo turno, com menos candidatos na disputa, a petista Dilma Rousseff e o tucano José Serra terão pouco mais de 25 dias para debater, entre si, suas propostas, programas e prioridades de governo. Para especialistas, porém, a polarização entre dois concorrentes deve fazer com que a corrida pela Presidência tenha uma reta final caracterizada mais pelo confronto, seja de biografias ou de projetos para o país.
O professor Marco Antonio Teixeira, da FGV (Fundação Getúlio Vargas), diz que o segundo turno deverá ser marcado por uma “tensão” maior.
– A tendência é ter pouco espaço para o debate de programas e mais espaço para as tentativas de desqualificação. O que se espera no segundo turno é o confronto de projetos, mas eu acho que, pela polarização que essa eleição está assumindo, a tendência é que ela venha a ter um grau de tensão razoável, em que a discussão de projetos fique um tanto quanto esquecida ou secundária.
A cientista política Rachel Meneguello, da Unicamp, vê como algo natural que essa fase da disputa seja mais pontuada por embates que o primeiro turno.
– Segundo turno é momento de confronto. Se a política não trouxer o confronto, com dois atores e dois projetos que são conhecidamente distintos, o eleitor fica embaralhado. Nenhum candidato pode querer isso.
Para ela, o aprofundamento da polarização poderá trazer para as discussões a comparação entre os governos Fernando Henrique Cardoso e Lula, algo que a campanha de Dilma e o próprio presidente da República tentaram fazer durante o primeiro turno e que o candidato do PSDB buscou evitar.
Embora avalie que Serra seguirá resistente à ideia de puxar o ex-presidente, de quem foi ministro, para sua campanha, a professora indica que ele não terá alternativa se quiser conquistar os votos dos que estão descontentes com o atual governo.
– É evidente que, nessa fase da campanha, ele [Serra] vai tentar se diferenciar o máximo que puder do governo, coisa que não fez no primeiro turno, e deverá trazer o legado do que foi o governo Fernando Henrique para dentro da sua campanha. […] Se quer tentar uma diferença, é muito difícil que isso não traga o governo FHC.
Do outro lado, a petista Dilma Rousseff também deverá investir na tentativa de se diferenciar do adversário, principalmente quanto à sua experiência como ministra do governo Lula, bem avaliado por 80% da população brasileira. Por isso, na opinião de Rachel, a presença do presidente na campanha poderá voltar a crescer no segundo turno.
– Pode ser que a campanha [da petista] privilegie a presença do presidente muito mais do que já privilegiou no primeiro turno.
Para Teixeira, da FGV, Dilma também poderá ser provocada quanto a alguns de seus posicionamentos pessoais e boatos que circularam nas últimas semanas sobre eles.
– Ela vai ter que encarar esse processo e ser o mais transparente possível.