A mulher de Mato Grosso do Sul volta a ganhar protagonismo na política nacional em todos os debates sobre a composição de chapa para a corrida presidencial. Se ocorrer o que está sendo planejado na atual conjuntura, o nosso Estado pode ter duas mulheres de vice na corrida presidencial. O destino dessas lideranças, que ganharam expressão na política brasileira, vai mudar o cenário eleitoral no Estado. Por enquanto, tudo não passa ainda de discussão de bastidor. A definição mesmo só deve acontecer em meados de março.
Hoje, o Brasil só tem uma mulher pré-candidata a presidente da República. É a senadora sul-mato-grossense Simone Tebet, do MDB. Mas há movimentos nos bastidores para tirá-la da disputa presidencial se não atingir, pelo menos, 10% nas pesquisas até março. Como o prazo é curto para deslanchar nas pesquisas, ela vem sendo considerada uma boa você. Tanto é que está sendo assediada para ser vice de João Dória, do PSDB, e do ex-juiz da Lava Jato, Sérgio Moro, do Podemos.
Simone, que encerra no fim do ano o seu primeiro mandato de senadora, teve uma projeção meteórica na política brasileira. Ela se consolidou como uma política de expressão nacional na CPI da Covid. Simone já tinha chamado atenção quando enfrentou o senador Renan Calheiros na bancada do partido para indicação do candidato a presidente do Senado. Ela perdeu a batalha na bancada e se apresentou como candidata avulsa. Acabou renunciando para ajudar na eleição de Davi Alcolumbre, do DEM-AP. Na última eleição no Senado, ela entrou na disputa novamente, desta vez, como candidata oficial do MDB. Perdeu para Rodrigo Pacheco, do DEM-MG, porque foi abandonada por vários companheiros de partido.
É mais uma mulher de Mato Grosso do Sul no radar dos presidenciáveis. Da lista de especulações sobre quem será o companheiro de chapa do presidente Jair Bolsonaro em sua campanha à reeleição, o presidente do PL, o ex-deputado Valdemar Costa Neto, tem um nome que avalia como ideal: o da ministra da Agricultura, Tereza Cristina. O dirigente do Centrão tem dito a interlocutores que Tereza agregaria à chapa por ser mulher, respeitada no agronegócio e ter bom trânsito político.
Na avaliação do cacique do Centrão, ter uma vice mulher seria uma forma de tentar reduzir a resistência a Bolsonaro no eleitorado feminino: de acordo com pesquisa do Ipec (ex-Ibope) realizada em dezembro, 70% das mulheres desaprovam a maneira como o presidente conduz o país.
Muda muita coisa. Simone, por exemplo, não se anima com a ideia de ser vice de Moro ou Dória. Ela quer mesmo ser candidata a presidente da República. Do contrário, preferia concorrer à reeleição de senadora por Mato Grosso do Sul. Mas em política, as vezes, não acontece o que foi planejado com antecedência. A saída de Simone da disputa no Estado abre espaço para o ex-governador André Puccinelli, do MDB, negociar a vaga com outro partido numa aliança. Assim, André não enfrentaria o problema de fechar as portas para um partido indicar o vice.
Já o plano da ministra Tereza Cristina é concorrer ao Senado. E a única vaga em disputa é justamente a de Simone. Hoje, Tereza é deputada federal licenciada para ocupar o Ministério da Agricultura. Ela é filiada ao DEM, mas deve sair do partido após a fusão com o PSL. E já foi convidada a se filiar ao PP e ao Republicanos.
Em ao menos uma ocasião, há cerca de um ano, Bolsonaro disse pessoalmente à sua ministra que ela é um dos nomes que ele considera para formar sua chapa.
Entretanto, segundo aliados, o presidente, mais recentemente, tem apresentado resistência em indicar qualquer nome que tenha o aval do Centrão — mesmo que o padrinho seja Valdemar Costa Neto. O titular do Planalto tem receio de que um político como vice possa se tornar uma ameaça.
Por isso, internamente, Bolsonaro passou a cogitar ter novamente um vice militar, assim como Hamilton Mourão. O ministro da Defesa, Walter Braga Netto, é uma das opções.
Tereza teve uma rápida ascensão na política. Eleita pela primeira vez deputada federal em 2014, tornou-se no início de 2018 presidente da Frente Parlamentar da Agropecuária (FPA), uma das mais influentes do Congresso Nacional. O posto a credenciou a ser cogitada como vice-presidente na chapa de Geraldo Alckmin (na época, no PSDB) nas eleições de 2018, mas a vaga acabou ficando com a então senadora Ana Amélia, que também tinha interlocução com o agronegócio.
No segundo turno, a deputada declarou, junto com a FPA, apoio a Bolsonaro. Após a eleição, foi indicada pela bancada para assumir o Ministério da Agricultura. Bolsonaro costuma fazer elogios públicos à ministra, a quem chama de “pequena grande mulher”.
“Pelo trabalho que tinha na Câmara, a bancada ruralista apresentou o nome da Tereza Cristina. Eu não pestanejei, assinei na hora a posse dela. Eu senti uma empatia naquele momento. Essa baixinha aqui vai longe. Ela é corredora de maratona”, disse ele, em discurso em maio do ano passado.
Por seu perfil conciliador, Tereza teve papel crucial nas negociações com a China pelo fim do embargo à carne brasileira. Seu trânsito com autoridades chinesas, inclusive, a fez participar de conversas sem relação com a sua pasta, como as tratativas para envios de insumos para vacinas.