A Ouvidoria da CPI do Transporte Coletivo da Câmara Municipal de Campo Grande divulgou, nesta segunda-feira (14), um relatório detalhando as demandas recebidas entre 25 de março e 14 de abril de 2025.
No total, foram registradas 368 denúncias, refletindo a insatisfação generalizada da população com a qualidade do transporte público na capital sul-mato-grossense.
O elevado número de reclamações demonstra o engajamento dos moradores e a gravidade dos problemas enfrentados no sistema.
Principais Problemas Identificados
O relatório consolidou as reclamações em dez categorias principais, que expõem um sistema de transporte público em crise, marcado por falhas estruturais, má gestão e descaso com os passageiros. Abaixo, os problemas mais recorrentes:
- Superlotação
Ônibus operam frequentemente acima da capacidade, especialmente em horários de pico. Passageiros da linha 080 (Jardim Seminário) relatam ficar “pendurados nas portas”, enquanto a linha 109 é descrita como sempre lotada, sem condições adequadas. A superlotação gera atrasos, desconforto e riscos à segurança. - Atrasos e Irregularidades nos Horários
A falta de pontualidade é uma queixa constante. A linha 520 apresenta atrasos frequentes, e a linha 72 sofre com a ausência ou demora do ônibus reforço. Esses problemas comprometem a rotina de trabalhadores, estudantes e outros usuários. - Má Conservação dos Veículos
A frota está em estado precário, com goteiras, bancos soltos, janelas quebradas e elevadores para deficientes quebrados. Na linha 070, por exemplo, o elevador não funciona, e na linha 109, passageiros enfrentam chuva dentro dos veículos. A situação eleva o risco de acidentes e compromete o conforto. - Falta de Ônibus
A redução de linhas e a frota insuficiente agravam a crise. Bairros como Caiobá e Zé Pereira relatam a retirada de linhas essenciais, enquanto a linha 303 Bonança teve seu reforço matinal suspenso sem justificativas. O resultado é o aumento do tempo de espera e dificuldades de deslocamento. - Descaso com Pessoas com Deficiência
A falta de acessibilidade é alarmante. Elevadores quebrados impedem o embarque de cadeirantes, e sinais sonoros para pessoas com deficiência visual falham frequentemente. Esses problemas excluem e dificultam o acesso de PCDs ao transporte. - Falta de Fiscalização
A ausência de controle nos terminais e pontos de ônibus gera desorganização. Passageiros embarcam pelas portas de desembarque, e fiscais são acusados de negligenciar reclamações, contribuindo para o caos nos embarques. - Altos Preços da Passagem
A tarifa de R$ 4,95 é considerada incompatível com a qualidade do serviço. Usuários expressam frustração com o custo elevado frente a um transporte precário, o que alimenta a percepção de injustiça. - Condições Precárias nos Terminais
A infraestrutura dos terminais está deteriorada. O Terminal Nova Bahia apresenta goteiras e bebedouros com água quente, enquanto o Terminal Bandeirantes é descrito como um “chiqueiro”. A falta de banheiros limpos e cobertura adequada expõe os usuários a condições insalubres. - Falta de Ar-Condicionado
Ônibus sem climatização tornam as viagens insuportáveis, especialmente em dias quentes. Linhas longas, como a 109, não possuem ar-condicionado, resultando em calor excessivo e riscos à saúde dos passageiros. - Monopólio do Consórcio Guaicurus
O modelo de concessão ao Consórcio Guaicurus é alvo de críticas por limitar a concorrência e perpetuar a má qualidade. Motoristas relatam pressão psicológica e excesso de trabalho, enquanto denúncias apontam frota sucateada e possível superfaturamento. A falta de transparência agrava a insatisfação.
Impactos na Vida da População
As falhas no transporte público afetam diretamente a qualidade de vida em Campo Grande. Trabalhadores chegam atrasados, estudantes perdem aulas, e pessoas com deficiência enfrentam barreiras quase intransponíveis. A combinação de tarifas altas, veículos precários e infraestrutura deficiente gera um sentimento de abandono entre os moradores.
Conclusão e Próximos Passos
O relatório da CPI do Transporte Coletivo escancara um sistema à beira do colapso, incapaz de atender às necessidades da população. A superlotação, os atrasos, a frota sucateada e a falta de acessibilidade são apenas alguns dos problemas que demandam soluções urgentes. A população pede por renovação da frota, ampliação das linhas, fiscalização rigorosa e maior transparência na gestão do Consórcio Guaicurus.
Canais de Denúncia e Participação Popular
A CPI disponibilizou diversos canais para receber as denúncias, incentivando a participação ativa dos cidadãos. A distribuição das reclamações por canal foi a seguinte:
- WhatsApp (3316-1514): 307 mensagens, o canal mais utilizado.
- Formulário online (site da Câmara): 32 registros.
- E-mail ([email protected]): 26 mensagens.
- Ligações telefônicas: 2 denúncias.
- Presencial: 1 registro.