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A raiz do crime

Dr. Elviro Rodrigo Lima Mancini trabalha com emergências desde fevereiro de 2016
Dr. Elviro Rodrigo Lima Mancini trabalha com emergências desde fevereiro de 2016

Aqui em Portugal os jornais noticiaram com destaque a morte do antigo chefe mafioso Salvatore Totò Riina, nascido em Corleone, na Sicília, cidade que inspirou Mário Puzzo a escrever "O Poderoso Chefão". Totò morreu na cadeia, um dia depois de completar 87 anos, de câncer nos rins. Foi ele que mandou explodir o carro onde estava, com a mulher, o juiz Giovanni Falcone, da operação Mãos Limpas, tão estudada pelo juiz da Lava-Jato, Sérgio Moro.

Os juízes Falcone e Borsellino foram assassinados em 1992 e no ano seguinte Totò estava preso. As autoridades foram ajudadas por delações premiadas, como a de Tomaso Buschetta, preso no Brasil.

Totò, ao morrer, já estava 24 anos atrás das grades, cumprindo 26 condenações a prisão perpétua. Sem direito a tornozeleira ou prisão domiciliar, ou semiaberto. Morreu sem abrir a boca para contar suas ligações com políticos de Roma.

A Itália é o berço do Direito Romano, que é ensinado a todos os brasileiros que queiram ser advogados. E foi a Justiça italiana que condenou, em todas as instâncias, à prisão perpétua, o assassino de quatro pessoas, Cesare Battisti. Mas ele está livre, porque fugiu para o Brasil com passaporte falso. Ele sabe que aqui é o país da impunidade; por isso foi para o Brasil.

Desde menino vejo em filmes americanos que o bandido, para escapar impune, vai para o Brasil. Foi assim com o assaltante do trem pagador inglês, Ronald Biggs. Em vez de ser preso, ficou famoso no Brasil. No Brasil, bandidos ficam famosos. No caso do tetra-assassino Battisti, ganhou a proteção do presidente da República, Sr. Lula.

É o país onde mesmo que a Justiça mande prender, o Legislativo manda soltar. E se argumenta com Montesquieu, com a separação de poderes, autônomos e funcionando como pesos e contrapesos do poder, o que sugere o trocadilho “presos e contrapresos”.  Outros são condenados várias vezes, mas cumprem a pena em casa, dançando em festas – como se divertem com este país festivo! A lei permite que o condenado só cumpra uma sexta parte da pena e já vai saindo das grades.

Outros nem querem sair, porque de lá ficam comandando o crime nas ruas, mandando matar os rivais, como fazia Totò antes de ser preso. Depois, ele ficou incomunicável com o mundo. Aqui, não; tem o celular, tem advogados, tem amigos entre autoridades.

Aqui, assaltante é preso mas é solto em 24 horas e pode continuar o exercício de sua profissão. É protegido pela lei, por advogados, por militantes dos direitos humanos, pelos que odeiam a polícia.

Aliás, muita gente se queixa da insegurança mas odeia os defensores da lei. Muita gente se queixa de bala perdida, mas cheira a cocaína com que se compram fuzis. Muita gente se queixa de que as leis são fracas, mas trata de enfraquecê-las ainda mais, desrespeitando-as sempre que for de seu interesse egoísta e incivilizado. Dá arrepios de pensar que na nossa cultura, Totò, quem sabe pudesse ser candidato à Presidência da República. Parece que vivemos num hospício legal, jurídico, político e de incivilidades.