Não sei se ele, na reta final em 2010, vai convencer os 15 milhões de eleitores do Bolsa Família, mas resolvi aproveitar a entrevista dele ao Roberto D’Avila, ontem no seu programa “Conexão” – TV. Brasil, onde mostrou facetas interessantes e normalmente desconhecidas da maioria do público.
Serra confirma a velha tese de que o poder é mesmo solitário, onde a família não compartilha, as confidências escasseiam e as amizades são permeadas pela política. Na sua visão, o poder é a possibilidade de se fazer algo pela população. Confessa que a parte ornamental do poder, como a badalação, não faz seu gênero, não o seduz.
O ex-ministro nega que seja centralizador, como afirma alguns. Diz que é apenas um controlador e que aprendeu isso com o então governador Franco Montoro, a quem serviu como secretário. Brincando, disse que como bom palmeirense, chega a telefonar para o presidente Beluzzo, cobrando-lhe medidas quando o time não vai bem. Ainda para descontrair a entrevista, revelou que seu netinho está sendo influenciado por um amigo e “anda cantando o hino do São Paulo”,
José Serra nega também que seja conservador e lembra de sua biografia, na luta contra a Ditadura, na Constituinte, além das medidas que precisou tomar ao longo dos cargos que exerceu, citando inclusive sua atitude – como Ministro da Saúde – na quebra das patentes dos remédios.
Sobre a experiência de governar o Estado mais rico do País, o economista Serra destaca que são 40 milhões de habitantes e com alto nível de aspiração. “Todos querem boas escolas e atendimento de primeira nos postos de saúde e nos hospitais”, conclui.
O governador tem uma visão moderna sobre os problemas das grandes cidades e as necessidades cada vez mais presentes de se conciliar as condições de moradia, transporte, lazer e cultura. O governador diz que é “preciso desinfartar as cidades com o lazer, onde a população possa dominar o espaço onde vive.
Quanto à questão da terra e sua disputa cada vez mais aguerrida, lembra que essa questão vem de longe ao longo da evolução da humanidade, mas que aqui ela politizou, servindo assim de instrumento da política quase sempre de partido não declarado.
Rebate aqueles que são contra o uso da terra pelas empresas do agronegócio, dizendo que no Brasil existe terra para o agro-negócio e para a agricultura familiar, sem necessidade de se desmatar a Floresta Amazônica.
Questionado se acreditava ou não em Deus, Serra respondeu que sim e confessando: “toda vez que entro num avião faço o sinal da cruz.”
Num período de tantas notícias e episódios negativos envolvendo políticos, entendi que o núcleo da entrevista tem conteúdo positivo e merece ser do conhecimento público. A sua interpretação, é claro, deve ser de acordo com visão de cada um.
Manoel Afonso escreve a colnuna Ampla Visão para o JP
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