Parafraseando a famosa indagação do poema do mineiro Drummond: “e agora Dilma?” Conseguirá ela ter a cabeça boa para reunir todas as suas forças apenas no combate ao câncer, ou se desdobrará entre a cura e a manutenção da candidatura? Questão complexa! Envolve a análise de vários aspectos.
Primeiro, não há como ignorar o estigma do câncer. O noticiário e os casos da doença – cada vez mais próximos de nossas casas e famílias – acaba gerando pânico em cada um de nós, em que pese os avanços da medicina. É todo aquele papo que a gente conhece no famoso “pacote de otimismo” que os médicos vendem quando a doença é diagnosticada. Aliás, a cada entrevista coletiva de médicos engravatados e de jaleco, mais desconfio da “sinceridade” deles na tentativa de enganar a imprensa e o paciente. Lembra do Tancredo Neves?
Dilma é uma mulher aculturada, mas não é mais nenhuma garota. É uma “sessentona” com indicativos de obesidade. Basta um olhar para concluir que ela leva uma vida sedentária, num ambiente de muito estresse. A operação plástica pode até ter repaginado – temporariamente seu rosto, mas ela não tem mais “cintura de pilão” e nem a saúde de outros tempos.
Se nós estamos discutindo isso, imagine ela, em seu quarto ou banheiro? Deve estar se perguntando: vou sair dessa? Os médicos falaram a verdade até onde? Vou entrar para qual lista: dos que convivem com a doença ou dos que morreram? O que mais vale a pena: lutar apenas pela sobrevivência, pela boa saúde ou sacrificar pelo poder, custe o que custar?
O emocional dela está fragilizado. Suas lágrimas recentes numa entrevista em Belo Horizonte demonstram isso. E olhe que ela está só começando uma jornada longa, que requer uniformidade de conduta em todos lugares e situações, com uma imprensa sempre atenta. Uma recaída de sua saúde, por conta do efeito colateral dos remédios, poderá colocar fora a suas chances de vitória.
É como aquele jogador de futebol, que para conseguir jogar, acaba tomando “infiltrações” no joelho por influência de dirigentes. Se lá na frente o problema clínico se agravar, ele será o único prejudicado e o clube terá lavados as mãos.
Como ocorre com outras pessoas de bom nível cultural nesta situação, Dilma também já deve ter lido várias publicações sobre a doença. E pesquisas têm demonstrado que, quanto melhor o nível de aculturamento do paciente, maior a chance de questionamentos e dúvidas. Os ignorantes, são mais facilmente enganados pelos médicos na revelação do diagnóstico de uma doença grave.
O Planalto colocou todo um esquema para ampará-la. Há um marketing para passar a idéia de que se trabalho de um problema de fácil solução. Mas apesar das frases preparadas, Dilma vende uma imagem de uma mulher carente e solitária no meio de muitas pessoas, mas de poucos amigos. Quem de sua família veio publicamente externar solidariedade? E isso nestas horas, conta muito. Tapinhas nas costas de políticos é tapeação.
E, diante das pesquisas desfavoráveis e do cenário eleitoral, esse pode ser um bom momento para ela sair de cena.
Depende só dela!
Manoel Afonso escreve a colnuna Ampla Visão para o JP
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