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SEGURANÇA

"É preciso ter um ambiente familiar saudável", diz especialista sobre como evitar casos de violência doméstica

Ameaça e mudança de comportamento do agressor, de forma abrupta, são sinais de escalada da violência

O Anuário Brasileiro de Segurança Pública aponta para o aumento de mais de 3% de chamadas ao 190 para casos de violência doméstica no estado
O Anuário Brasileiro de Segurança Pública aponta para o aumento de mais de 3% de chamadas ao 190 para casos de violência doméstica no estado | Foto: Reprodução/ Saúde Mais

Do início do ano passado até agora, cerca de 25 casos de violência doméstica com morte foram registrados em Mato Grosso do Sul. Segundo relatório do Anuário Brasileiro de Segurança Pública deste ano, houve um aumento de mais de 3% no número de chamadas ao 190 para casos de violência doméstica no estado, entre 2022 e 2023.

Segundo a delegada da Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente (Depac), Cynthia Gomes Tapias, o crime de violência doméstica muitas vezes é de difícil identificação, justamente por conta do vínculo familiar entre as partes.

“Aquele crime que ocorre dentro do âmbito familiar ou em uma relação íntima de afeto, costumamos denominar como um crime de violência doméstica, ou crime familiar. Esses tipos de crime, por sua peculiaridade, envolvem um autor que, na maioria das vezes, não é um desconhecido. Pelo contrário, é alguém que faz parte do convívio social, familiar, e muitas vezes dorme ao lado da vítima. É um crime de difícil identificação e trato, justamente por conta dessa proximidade e do laço afetivo entre agressor e agredido”, explicou a delegada.

Especialista em Segurança Pública, a delegada descreveu como esse tipo de crime familiar costuma começar. Ela explicou que há vários indícios e que a violência é geralmente escalonada.

“Começa com uma ameaça, depois se nota uma mudança de comportamento no agressor, que, de forma abrupta, muda seu humor. Também há pressão psicológica, violência física, como tapas, empurrões, xingamentos, até que, em alguns casos, chega ao homicídio”, afirmou.

No último domingo, um caso brutal de violência familiar foi registrado em Campo Grande. No bairro Jardim Zé Pereira, região oeste da capital, um adolescente de 16 anos foi apreendido acusado de matar a própria mãe, de 52 anos, com diversas facadas. O homicídio ocorreu durante a madrugada, na residência da família, e a polícia foi acionada pela manhã, quando o corpo da vítima foi encontrado com múltiplas perfurações e sinais de agressão.

Em depoimento, o adolescente confessou o crime, revelando que havia premeditado a morte da mãe. Segundo ele, a motivação foi um sentimento de rejeição e humilhação constantes, cenário favorável para crimes domésticos, como explicou a delegada Cynthia Gomes Tapias.

“Esse filho alegou que, desde pequeno, era agredido fisicamente e verbalmente pela mãe. Segundo ele, o ambiente era hostil, e é nesse tipo de ambiente que o crime de violência doméstica muitas vezes se desenvolve”, destacou a delegada.

Na região onde o crime ocorreu, os vizinhos ficaram surpresos. A motorista de aplicativo, Cleoneide de Oliveira Delgado, que mora em frente à residência onde tudo aconteceu, disse que nunca percebeu sinais de violência ou brigas entre a mãe e o filho.

“Eu só conhecia ela de vista, e o menino também. Sempre via outros garotos chamando ele para jogar bola. Ele ia para a escola, costumava estudar à noite e saía cedo para trabalhar. Nunca imaginei algo assim. Quando ela tinha um marido, brigavam muito, mas nunca vi briga entre ela e o filho. O pessoal falava que ele apanhava da mãe, mas eu nunca vi”, disse Cleoneide.

Outra vizinha, Luana, também contou o que sabia sobre a família e que jamais imaginou que um crime tão violento pudesse acontecer.

“Ele era bem tranquilo, não parecia uma pessoa violenta. Ela também era tranquila. Não tem explicação para o que ele fez, foi uma brutalidade”, afirmou Luana.

A delegada Cynthia Gomes Tapias destacou que, para prevenir esse tipo de crime, é fundamental promover um ambiente familiar saudável.

“Ter um ambiente familiar saudável é essencial. Muitas vezes, há uma repetição de comportamentos: filhos de pais violentos acabam reproduzindo essa violência porque presenciam e vivenciam um ambiente violento. Outro fator primordial para a prevenção é a educação, que traga conhecimento sobre as leis e as consequências dos atos de violência. O apoio emocional também é extremamente importante. Quando há uma ruptura no convívio saudável da família, isso traz consequências para todos os envolvidos, direta ou indiretamente. Por exemplo, se um pai agride uma mãe na presença dos filhos, esses filhos não participam diretamente da violência, mas certamente serão atingidos pelo ato violento”, concluiu a delegada.

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