Ao escolher sua equipe Barack Obama contrariou Maquiavel aplicando o ditado: “mantenha os amigos por perto e os inimigos mais perto ainda”. Obama neutralizou a habilidade dos Clintons, aproveitou gente que serve ao atual Governo, desviando assim a mira dos canhões para ele apontados e obtendo ganho de fôlego inicial.
A postura do presidente eleito dos “States” é um exemplo de sabedoria política que deve sinalizar o rumo dos futuros prefeitos, independentemente de partido, importância econômica ou eleitoral da cidade. O raciocínio é simples e as razões são obvias. Vejamos:
Qualquer candidato vitorioso logo após as eleições passa a ter menos eleitores à medida que não consegue atender os esperados pedidos de espaço e aproveitamento na sua equipe. É o inevitável desencanto de eleitores, líderes e gente de partidos apoiadores que adotam antecipadamente o discurso crítico ou do pessimismo.
Aos futuros prefeitos continua assegurado o direito líquido e certo de não abrir mão da escolha pessoal de dois colaboradores: os secretários da administração e das finanças. Os demais cargos podem ser objetos de negociação política, desde que seja proveitosa para a administração.
Claro que o prefeito deverá saber escolher os nomes destes colaboradores: devem ter notório prestígio no grupo ou partido a fim de que a repercussão também junto à opinião pública seja positiva, compensando inclusive as perdas de antigos partidários descontentes.
Com uma equipe eclética, oxigenada, o prefeito terá dividendos em duas frentes: passará a contar com sustentação política e como ocorrerá com o novo presidente dos Estados Unidos, ganhará imprescindível fôlego para os primeiros meses de administração.
Montar uma equipe de governo onde todos seus membros tenham o carimbo do prefeito é perigoso e atrai o desgaste natural. Dividir responsabilidades, sem que o “comandante” não abra mão de segurar o leme do barco é uma postura simpática, moderna e rentável politicamente.
No arremate, a pergunta: se Lula tivesse optado por um ministério só com gente do PT – abrindo mão por exemplo da capacidade de Henrique Meireles, teria conseguido o mesmo êxito?
Manoel Afonso é colunista do Jornal do Povo