Se estivesse vivo, o promotor público aposentado, ex-vereador, ex-promotor de Justiça e jornalista, diretor-geral do Jornal do Povo por quase três décadas, Stênio Congro, completaria 100 anos em 25 de agosto de 2019. Não está mais vivo. Morreu em julho de 2004, aos 84 anos. Mas, deixou para traz um legado de propostas legislativas, ideias, projetos e um conjunto de opiniões defendidas ao longo de uma trajetória em que primou pela vida pública com empenho e empenhou-se por sua vida privada, sua família.
Um livro editado a partir de um conjunto de textos reunido por ele mesmo, seis anos antes de morrer, é a homenagem do filho e sucessor Rosário Congro Neto, no ano do centenário de nascimento de Stênio Congro. Um resumo da importância da obra pode ser encontrada no prefácio assinado por Rosário: “Celebrar os cem anos do seu nascimento enche de orgulho toda a prole. Faz nos lembrar dos valores básicos que nos inculcou para a formação da educação e do caráter. Traz à memória os desafios que enfrentou ao longo de sua existência, assim como a devoção à sua família, à nossa mãe Julieta e seus filhos”.
Outro resumo, que frisa a vida pública de Stênio Congro, está no texto de abertura da obra, de autoria de Valmir Batista Correia, presidente do IFGMS (Instituto Histórico e Geográfico de Mato Grosso do Sul). “Pela repercussão de seu trabalho nas lides forenses, como membro do Ministério Público e advogado, foi eleito vereador na Câmara Municipal por duas legislaturas, sendo na primeira eleito presidente [da Câmara]. Estendeu sua ação política em defesa dos direitos e dos interesses de sua querida Três Lagoas”.
O livro é uma publicação apoiada e registrada pelo IHGMS como elemento histórico de Mato Grosso do Sul destinado “à compreensão de nossa história e de nós mesmos como cidadãos sul-mato-grossenses”. A citação que encerra um dos parágrafos do texto de Valmir Batista aponta para a dualidade tempo-espaço. Stênio Congro adotou e foi adotado por Três Lagoas. O homenageado nasceu em Campo Grande, mas escolheu a cidade onde morou por décadas como berço de sua história. Antes disso, exerceu a advocacia e foi vereador em Lins (SP).
Um texto do professor universitário aposentado, poeta e escritor, Orlando Antunes Batista, amarra ainda mais a dualidade. “Neste livro, o leitor vai encontrar, através das matérias selecionadas, o espaço para compor o perfil do cidadão que estabeleceu suas raízes em Três Lagoas e se projetou enquanto vereador numa conduta ímpar.”
Como a proposta da obra é mostrar ao menos parte das ideias de Stênio Congro como homem público em todos os sentidos, algumas merecem destaque. A instalação da agência do extinto Banespa, o Banco do Estado de São Paulo, em Três Lagoas, é uma delas. A conquista ocorreu depois que a Cesp (Companhia Energética de São Paulo) construiu a Usina de Jupiá. Apesar de sua importância econômica, a Cesp não tinha construído nenhum prédio na cidade. Stênio Congro viu a possibilidade de trazer agência do banco para Três Lagoas. Posteriormente, liderou m movimento que conquistou a construção do prédio que sediou a Cesp a cidade por mais de 30 anos.
Foi de Stênio Congro a proposta de criação de um Conselho Consultivo para acompanhamento e assessoria popular aos prefeitos nomeados de Três Lagoas, quando a cidade passou à condição de área de segurança nacional. Todo o projeto, com mais de 40 artigos, saiu da utilíssima máquina de datilografia Remington – a mesma que ele usou por décadas como jornalista e editor do Jornal do Povo.
COM RONDON
No livro, ainda, o leitor vai encontrar passagens importantes da vida de Stênio, do Estado e de Três Lagoas. Uma delas, foi o encontro dele com o Marechal Cândido Rondon, no Rio de Janeiro, em 1942. Em um artigo de 1996, sua personalidade crítica fica exposta, em comentário sobre eleições municipais e a necessidade da escolha de um bom prefeito.
“Temos de nos distanciar dos chamados ‘prefeitos boca de burro’ e pessimamente mal-intencionados”.
São 384 páginas de história, opinião, defesa de ideais e ideias, reunidas em um verdadeiro compêndio de teorias, ciência e realidade. Vale a pena conhecer um pouco mais de quem conheceu tanto Três Lagoas e sua gente.