Em junho de 1949, o mundo ainda respirava odores da Segunda Guerra Mundial e tentava se reanimar com o fim do armistício que ceifou a vida de milhões de pessoas. A rendição do Japão, que se deu após a explosão das bombas atômicas norte-americanas em Nagasaki e Hiroshima ainda era notícia na maioria dos jornais do mundo, mesmo passados quatro anos. No Brasil, a deposição do ex-presidente Getúlio Vargas – também perto de completar quatro anos – era o assunto político mais frequente em jornais, em especial com o início da circulação do Tribuna da Imprensa, de Carlos Lacerda, no Rio de Janeiro (RJ). Naquele ano, o então presidente Eurico Gaspar Dutra sancionava a lei de criação da Escola Superior de Guerra, com sede no Rio.
Mato Grosso, o estado ainda “original” ocupava três quartos do Centro-Oeste e era “apenas” um grande pedaço do cerrado brasileiro ainda inexplorado, com estradas de chão e poucos municípios – todos muito distantes uns dos outros e com imensas dificuldades de desenvolvimento.
Em Três Lagoas havia pouco mais de 16 mil moradores. O Censo de 1950 do IBGE apontava que a cidade tinha 15.378 habitantes – a maioria absoluta formada por trabalhadores rurais, empregados de fazendas de criação de gado e exploração de madeira. A atividade ceramista era setor de grande poder de geração de emprego e renda na área urbana.
A representação política da cidade no aspecto estadual era um grande desafio, como prossegue até hoje. Filinto Müller, eleito quatro vezes para uma vaga no Senado como forte liderança no antigo Partido Social Democrático, no Estado antagonizava principalmente entre os partidos da época com a União Democrática Social – a extinta UDN. Pela prefeitura da cidade já haviam passado 24 governantes entre eleitos e nomeados pelo governo intervencionista de Mato Grosso, enquanto a população ensaiava para ter seu primeiro prefeito eleito diretamente com a redemocratização do país.
Diante deste quadro e com ânimo para iniciar um novo período de existência, Filinto Müller fundou em 15 de junho de 1949 o Jornal do Povo com seus partidários Philadelfo Garcia, Albino Bandeira da Rosa, Carlos Vandoni de Barros, Marcolino Carlos de Souza, José Carlos de Souza, Elviro Mário Mancini, Eurydice Chagas Cruz, Evaristo mariano Rodrigues e Venina de Queiroz Neves, os quais subscreveram cotas para constituir o capital social da Sociedade Impressora Ltda., que tinha por finalidade explorar o comércio tipográfico e editar o periódico. A gerência da sociedade foi exercida conjuntamente pelo médico Eurydice Chagas Cruz, o pecuarista José Carlos de Souza e o agrimensor Elviro Mário Mancini. O contrato social subscrito por eles teve como testemunhas Antônio Bada e João D’Escócia Sejóples.
FATOS HISTÓRICOS DE 1949
20 de janeiro – Fundação do município de Coronel Fabriciano (MG)
2 de fevereiro – Começa a circular, no Rio de Janeiro, o semanário Emancipação, publicação do programa “O petróleo é nosso”, do governo federal.
26 de março – Emancipação da cidade de Ipuã (SP)
30 de abril – Nasce António Guterres, que viria a ser político, líder do Partido Socialista português, primeiro-ministro de Portugal e secretário-geral da ONU.
15 de junho – Circula a primeira edição do Jornal do Povo, de Três Lagoas.
29 de junho – A proibição de casamentos comuns entre europeus e não-europeus dá início ao regime de apartheid na África do Sul.
20 de agosto – Presidente Eurico Gaspar Dutra sanciona a lei, que cria a Escola Superior de Guerra, com sede no Rio de Janeiro.
10 de setembro – fundação da AMB (Associação dos Magistrados Brasileiros).
14 de novembro – A Câmara dos Deputados aprova o acordo firmado entre a Itália e o Brasil no Rio de Janeiro.
7 de dezembro – O Congresso Nacional do Brasil promulga o decreto legislativo número 64/1949, que aprova a Carta da Organização dos Estados Americanos.
27 de dezembro – Carlos Lacerda funda o Tribuna da Imprensa, no Rio de Janeiro