Médicos do University College de Londres anunciaram o nascimento de uma menina selecionada geneticamente para não carregar uma versão alterada do gene BRCA1, a qual pode acarretar um risco de até 80% de desenvolver câncer de mama ou de ovário. A informação é da rede americana CNN. O diagnóstico ocorreu após um processo de fertilização in vitro: embriões gerados em laboratório pelos pais da menina foram selecionados, sendo escolhido para implantação no útero apenas o que não carregava a versão "maligna" do gene.
O governo britânico autoriza desde 2006 esse tipo de teste. Os pais da menina decidiram fazer a seleção de embriões porque, nas últimas três gerações da família do marido, havia ocorrido o diagnóstico de câncer de mama em mulheres na casa dos 20 anos.
Em entrevista à rede britânica BBC, o especialista em fertilidade Paul Serhal, que acompanhou a seleção dos embriões e a gravidez, afirmou que o grande legado do nascimento "é a erradicação da transmissão dessa forma de câncer, a qual fez essa família sofrer por gerações". Como o diagnóstico da alteração genética é feito em embriões com apenas oito células, os especialistas também argumentam que ele evita a realização de abortos, caso a anomalia fosse detectada mais tarde ao longo da gestação.
No entanto, críticos do procedimento apontam que o gene alterado envolve apenas uma probabilidade do aparecimento da doença, não uma certeza, e sua presença não sugere que o problema será incurável. Também criticam o tratamento de embriões humanos como material descartável e afirmam que, no longo prazo, a popularização desse tipo de técnica pode levar à criação de "bebês por encomenda", apenas com as características genéticas desejadas pelos pais.
Se isso acontecer mesmo, porém, não deve ser algo para já. O custo do procedimento hoje ultrapassa os US$ 10 mil. É importante lembrar que, se o risco de câncer de mama ligado à mutação do BRCA1 foi eliminado, nada impede que a menina desenvolva câncer por outros motivos ao longo da vida.