O lamentável, inconcebível, triste e vergonhoso crescimento da violência contra a mulher em Mato Grosso do Sul e no Brasil precisa parar. A sociedade não pode e não deve mais assistir inerte os inúmeros casos, cada vez mais brutais e bizarros, de ataques que resultam em maus tratos, espancamento e morte da companheira(?), namorada, noiva, esposa ou "ex".
Autoridades e comunidade precisam se unir e se debruçar sobre o assunto para buscar solução. Meios para frear e acabar de vez com essa onda crescente de violência que se propaga por todos os cantos do país.
Trata-se de um comportamento doentio de homens que não se conformam em receber um "não", um "basta", manifestado pela mulher, em relação a um fato ou ao próprio relacionamento, quando este torna-se insustentável.
Se houvesse estudos profundos sobre o "por que?" desses ataques de maus tratos, lesão e morte de mulheres, certamente se chegaria, entre as conclusões, que esses atos estão alicerçados num machismo imbecil, que gera ciúme e inconformismo por saber que a mulher tem capacidade e garra para deixar um relacionamento, conjugal ou não, com a cabeça erguida para tocar a vida de maneira independente.
No fundo, o homem traz entesourado em seu peito o conceito de que a mulher lhe deve submissão e dependência para viver e ser feliz. Ledo engano. Lamentável e triste esse sentimento errôneo e maligno que, assim como outros que o interior do homem comporta, precisa ser reconhecido e extirpado para o bem do crescimento do indivíduo como pessoa de bem.
E não é de hoje a violência registrada contra a mulher. Se voltarmos os olhos para trás, ao longo da história da humanidade, veremos a quanta brutalidade ela já foi submetida.
Num período não muito distante, elas, e somente elas, eram queimadas em fogueiras como bruxas. Muitas vezes porque simplesmente contrariavam simples costumes e procedimentos que os homens achavam normais e que elas deveriam seguir. Alguém já ouviu falar de bruxos mortos em fogueira em praça pública? Salvo algumas exceções, eram elas que iam para a fogueira.
Houve outro tempo, em determinados países, em que escravos foram libertados, porém elas, escravas, não.
Tempos em que não podiam estudar. Só os homens. Fazer uma faculdade então, nem pensar. Foram anos de sacrifício e luta para reverter isso. O mesmo se deu para conseguir o direito ao voto, no Brasil e em vários países do mundo. Ainda hoje existem restrições em muitos lugares. E tudo isso sem falar no direito delas se candidatarem a cargos políticos. Essa é outra (dramática) história.
Se olharmos mais longe ainda veremos também o costume de apedrejar até à morte as mulheres adulteras. As Escrituras Sagradas registraram bem esse período. Relatam a brilhante e divina intervenção de Jesus Cristo diante de um caso em que uma mulher (adúltera) estava prestes a ser apedrejada por homens de determinada comunidade. O Senhor disse a frase que se tornou famosa e que derrubara aqueles homens:
– Que atire a primeira pedra quem nunca pecou!
Se vasculharmos mais o passado, descobriremos outras violências. E isso não difere dos dias de hoje onde o preconceito, a discriminação e a violência não ocorrem apenas no ambiente doméstico, mas em toda sociedade. As mulheres muçulmanas que o digam! Quanta violência em nome da religiosidade de um povo e de costumes milenares.
Existem correntes muçulmanas ultraconservadoras que entendem a mulher como um ser inferiorizado do qual o homem faz uso e do qual deve cuidar. Um de milhares de casos chocantes sobre o rigor religioso contra as mulheres ocorreu em 11 de março de 2002, quando jornais sauditas noticiaram que a Mutaween (polícia religiosa) tinha impedido a fuga de estudantes de uma escola em chamas em Meca, porque as meninas não estavam usando o vestuário islâmico (hijab e abayas). 15 meninas morreram no incêndio e 50 outras ficaram feridas.
Na contemporaneidade a violência ocorre também de maneira sutil, não física, inclusive fora do ambiente familiar. No mercado de trabalho brasileiro, por exemplo, onde elas, com as mesmas capacidades e formação que os homens e, em muitos casos até com melhor preparação técnico profissional, recebem uma remuneração até 30% inferior que os homens.
Tudo leva a crer que o homem, em seu íntimo, teme o poder e a capacidade da mulher. Por isso procura feri-la física e moralmente, em vez de somar forças com ela para o estabelecimento de famílias firmes e sociedades fortes, bem alicerçadas.