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Entrevista

AVC mata 6,5 mi por ano no mundo

Neurologista Rebeca Gigante diz que 90% dos casos podem ser prevenidos e que maioria das vítimas é de pessoas idosas

Neurologista Rebeca Gigante faz alertas sobre causas da doença - Arquivo Pessoal
Neurologista Rebeca Gigante faz alertas sobre causas da doença - Arquivo Pessoal

Dados da Organização Mundial de AVC mostram que a doença atinge 17 milhões de pessoas no mundo e que, desse total, 6,5 milhões morrem. O Acidente Vascular Cerebral é a segunda causa de morte e a primeira causa de incapacidade no mundo. No Brasil, a cada cinco minutos, uma pessoa morre. Significa um mais de 100 mil mortes no país por ano. Em Campo Grande, 618 casos de AVC foram registrados de janeiro até outubro de 2018, conforme dados divulgados nesta semana pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) da capital.

De acordo com a médica neurologista Rebeca Gigante, a doença, que acomete o sistema nervoso central causando sequelas e até morte, pode ser prevenida. “Cerca de 90% dos AVC’s são preveníveis e esse é um número impressionante. É preciso saber quais são os fatores de risco para combater a doença”, explica.

Jornal do Povo – O que é o AVC? 
Rebeca – É uma doença que acomete o sistema nervoso central, o cérebro como um todo. A gente tem dois tipos básicos. O AVC Isquêmico, onde uma artéria é obstruída por um trombo e, nesse trombo, para de passar o fluxo de sangue onde deveria passar. Assim, algumas células do cérebro ou muitas células, morrem. Quando esses neurônios morrem, há perda de funcionalidade da pessoa. Então, ela pode ter um problema para andar, um problema para mexer um lado do corpo, para enxergar. Já o outro tipo de AVC é o Hemorrágico. Nesse caso, existe uma parte do cérebro que sofre sangramento. Então, uma artéria se rompe e ocorre um sangramento. Existem AVC's hemorrágicos intensos que podem atingir até metade do cérebro, mas, normalmente, ele fica localizado numa determinada região responsável por alguma ação que o corpo faz como controlar o movimento e a força de um membro. 

JP – O AVC pode ser prevenido?
Rebeca – Cerca de 90% dos AVC's são preveníveis e esse é um número impressionante. Precisamos saber quais são os fatores de risco que levam a pessoa a ter um AVC. Estar obeso e não fazer exercício físico é uma delas. Então, muita gente se colocou nessa situação, de não fazer exercício físico regular. O que é exercício físico regular? Pelo menos 30 minutos, cinco vezes na semana, de exercício aeróbico. A pressão alta é a principal causa de AVC. Diabetes, colesterol alto, tabagismo, são outras causas. A gente não pode esquecer das arritmias. Então, existe uma campanha bem ampla de "cheque seu pulso". Se a pessoa tem uma arritmia, então ela vai ter mais chance de ter um AVC. 

JP – É possível identificar os sintomas?
Rebeca – Há uma técnica que se chama SAMU – Sorriso, Abraço, Música e Urgência. Ou seja, pede para a pessoa sorrir, [se for AVC] a boca fica torta de um lado. Estique braços e pernas e eles caem. Cante uma música, a voz fiz enrolada. Por último, o U, é urgente. O número do Samu é 192. Por que que a gente fala do Samu? Porque o Samu é o responsável por fazer o transporte pré-hospitalar desse paciente. Então, quem tem uma pessoa próxima no trabalho, na rua ou em casa, que está vendo esses sintomas em alguém, é preciso ligar para o Samu porque ele vai levar esse paciente para o centro certo de tratamento. E que centro é esse? É uma unidade de referência, um local onde as pessoas, os profissionais da área da saúde são treinados para tratar o AVC.

JP – Pessoas de qual faixa etária estão mais propensas a ter um AVC?
Rebeca – Quanto mais idosa a pessoa é, mais chance ela tem de ter um AVC. Mas, pensar que isso é coisa de idoso é um pensamento equivocado. A gente tem AVC até em recém-nascido. Podemos ter AVC quando somos criança, adolescentes ou adultos. Não existe uma faixa específica. Embora exista maior prevalência na idade mais avançada, a gente pode ter AVC em qualquer faixa etária. Só que cada faixa etária tem seus tipos de AVC comuns. Por exemplo, crianças com anemia falciforme podem ter AVC. Quando a gente fala da faixa etária da juventude, mulheres jovens, a gente pode ter as doenças autoimunes (as vasculites, o lúpus) relacionadas com o AVC. Então, a gente não pode pensar que é só coisa de idoso.