Há quase um século já se sabia que dietas pouco calóricas reduziam o envelhecimento de animais. No entanto o motivo nunca foi muito claro. Mas pesquisadores da Universidade de Wisconsin-Madison, liderados por um geneticista brasileiro, conseguiram finalmente explicar a relação entre o envelhecimento e uma menor ingestão de alimentos: o corte calórica ativa a produção da Sirt3, uma enzima na mitocôndria, que por sua vez, diminui a quantidade de radicais livres. A descoberta vai gerar novos estudos em busca de novas drogas que possam retardar o envelhecimento.
“Finalmente estamos identificando o que media o envelhecimento. Ainda não descobrimos a poção da juventude, precisamos saber se o efeito da Sirt3 vai ser tão dramático em outros tecidos como o cardíaco, cerebral e da pele”, disse ao iG Tomas Prolla, brasileiro, professor do departamento de genética da universidade e autor do estudo a ser publicado na próxima edição da revista científica Cell.
A Sirt3 pertence a grupo das enzimas sirtuinas, que têm sido apontadas em estudos anteriores como chave no processo de envelhecimento, regulando a transcrição de genes, morte celular programada e resistência ao estresse em situações com pouca caloria. Nos mamíferos, incluindo humanos, há sete sirtuinas que parecem ter forte influência no envelhecimento.
O estudo é o primeiro a provar os efeitos do envelhecimento observados em situações de restrição de calorias. A Sirt3 age na mitocôndria, estrutura celular que produz energia e que é fonte dos chamados radicais livres – que destroem as células e promovem os efeitos do envelhecimento. A pesquisa do grupo de Prolla mostrou que quando esta a célula está em condições de baixa caloria, a enzima tem seus níveis ampliados, o que interfere no metabolismo celular e resulta em menor produção de radicais livres pela mitocôndria.
Em testes de laboratório com ratos foram estudados dois grupos: um normal e outro geneticamente alterado para não produzir a Sirt3. Todos os animais sofreram redução de 25% das calorias em suas dietas. Mas só aqueles que apresentavam a enzima tiveram prolongamento de 40% em relação à expectativa de vida. Para isso, o grupo mediu a capacidade auditiva dos ratos – com a idade, assim como os humanos, os roedores tendem a perder a audição. Nos ratos que produziam maiores quantidades de Sirt3 por causa da restrição de calorias, ela não se alterava ao longo do tempo.
De acordo com Prolla, o próximo passo da pesquisa é construir animais com várias cópias da enzima e analisar o comportamento de sua ativação em outros tecidos. "Ninguém consegue viver bem por muito tempo com redução calórica de 25%, por exemplo. O que a gente quer na verdade, é criar substâncias sintéticas ou naturais que ativem esta enzima e consequentemente inibam a oxidação das células", disse.