O aumento da obesidade e do sobrepeso na população brasileira está mais relacionado ao consumo excessivo de carboidratos, como arroz, massas e batata, do que à ingestão inadequada de gordura. A afirmação é do estudioso sobre alimentação Leandro Zanutto, que há dez anos pesquisa engenharia biomédica para investigar as respostas orgânicas que os alimentos provocam.
Segundo Zanutto, a pirâmide alimentar sugerida pelo Ministério da Saúde brasileiro propõe cerca de 70% de consumo de carboidratos e apenas 30% de proteínas, que são oferecidas pelas carnes, peixes, frango e soja, e de gorduras. “A alimentação do brasileiro é riquíssima em carboidrato, a cesta básica inclui uma latinha de atum que não dá nem para o consumo diário de proteína para uma pessoa. E entre carboidrato, proteína e gordura, o carboidrato é o que a pessoa menos precisa em termos nutricionais. Não em termos energéticos, em termos nutricionais”, explica Zannuto.
Para ele, a diminuição na ingestão de carnes com gordura, observada pelo ministério por meio da pesquisa Vigitel, feita em todas as capitais com pessoas adultas, não é um fator que vá necessariamente ajudar na queda da obesidade – doença que já atinge 13% da população. “A queda no consumo de carnes gordurosas pode ser considerado um avanço sim, porque essa gordura não vai trazer benefícios diretos para o organismo, e esse consumo excessivo pode ser prejudicial porque a gordura poderá colar no interior das artérias. Mas não é de todo ruim o consumo de gorduras com as carnes, porque alguns tipos de gorduras estimulam a sensação de saciedade, fazendo com que a pessoa coma menos”, explica Zanutto.
O pesquisador ressalta ainda que o consumo de gordura não está diretamente ligado à obesidade. “Acharam um vilão para a obesidade e tentam associar isso à gordura, sendo que comer gordura não te faz mais gordo, não necessariamente vai aumentar seu colesterol. O consumo de carboidrato com toda certeza está mais relacionado ao excesso de peso e obesidade.”
Após se desligar como pesquisador da Universidade de Brasília (UnB), Zanutto se dedica a uma empresa privada de pesquisas na área de longevidade saudável. Ele ressalta que a alimentação deve ser voltada para o equilíbrio hormonal. Para isso, é necessário adotar uma dieta em que as proporções de carboidratos, proteínas e gorduras sejam mais equilibradas, e lembrar que frutas e hortaliças também são carboidratos.
As velhas dietas que levam em consideração os valores calóricos dos alimentos são “vazias”, na opinião de Zanutto. “Tudo no seu corpo funciona de acordo com os hormônios. Eles são a chave para o funcionamento do organismo. Então, se eles estiverem desequilibrados, todo o resto vai estar também”, explica.
“Ninguém engorda por excesso de caloria. Se fosse assim não teriam pessoas que se entopem de comer porcarias e não engordam. A gente engorda por um desequilíbrio hormonal”, completa.
O consumo de leite também é criticado pelo pesquisador. De acordo com o Ministério da Saúde, o leite é uma boa fonte de cálcio, mas o consumo de leite integral por 56% da população preocupa em função da gordura presente nele. Mas, Zanutto alega que o cálcio deve ser procurado em outros alimentos e o leite deve ser ingerido apenas fermentado, na forma de iogurtes ou queijos bem curados. “Sou contra o consumo de leite. O ser humano não foi feito para tomar leite, ainda mais de outra espécie. Nem o bezerro toma leite da própria mãe depois que cresce. São mais do que conhecidos os efeitos alérgicos do leite”, alega.
Para finalizar, Zanutto também critica a comum substituição do açúcar pelo adoçante. Segundo ele, nenhum dos dois faz bem, mas o aspartame – uma das substâncias que dá o efeito adocicado na maior parte dos adoçantes – é muito mais prejudicial à saúde. Assim, segundo o pesquisador, o ideal é que as pessoas deixem de usar os dois e passem a consumir os alimentos naturalmente doces, como as frutas. “A maioria das frutas já é adoçada naturalmente, mas o paladar já está tão viciado pelo açúcar dos produtos industrializados que as pessoas não sentem o gosto”, explica.