Paixão à primeira vista? Que nada! Segundo alguns estudos, essa expressão deveria ser substituída por… paixão à primeira cheirada. Pois é, essa atração inexplicável por uma pessoa pode ter a ver com o odor. “O olfato está em todas as coisas, até na seleção do parceiro”, diz Arlete Hilbig, neurologista da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. “Acredita-se que esse sentido traga informações sobre o sistema imune do outro.”
Um estudo da Universidade de Lausanne, na Suíça, mostra como nosso nariz é capaz de interferir nas relações interpessoais. As voluntárias cheiraram camisetas que haviam sido usadas por dois dias pelo sexo oposto.
E, acredite se quiser, elas preferiram o aroma dos homens que tinham genes ligados ao sistema imunológico bem diferentes dos seus. Aliás, o olfato é uma coisa da qual as mulheres devem se orgulhar. “Elas, diferentemente do sexo masculino, dificilmente são enganadas por fragrâncias artificiais nessa escolha de parceiros”, aponta Charles Wysocki, psicobiólogo do Centro Monell dos Sentidos Químicos, que fica na Filadélfia, nos Estados Unidos.
Contudo, os anticoncepcionais podem afetar o olfato feminino. Em uma pesquisa da Universidade de Liverpool, na Inglaterra, mulheres que tomaram essas pílulas tendiam a escolher companheiros com o sistema imune similar ao delas, diferentemente do grupo de controle. Mais um indício de que sexo e olfato têm tudo a ver um com o outro.
Amigo ou estranho?
O nariz, além de influenciar nossos relacionamentos amorosos, mexe com as nossas amizades. Uma pesquisa do Centro Monell dos Sentidos Químicos pediu que alguns voluntários cheirassem camisetas de indivíduos conhecidos e de outros que nunca haviam visto na vida. Resultado: na maioria das vezes, eles eram capazes de identificar o cheiro do amigo. Mesmo quando erravam, o inconsciente parecia corrigi-los. “Independentemente da escolha consciente, os odores dos estranhos sempre ativavam uma área específica do cérebro, a responsável pela atenção”, revela Wysocki.
Ou seja, os aromas dos desconhecidos despertam mecanismos de cautela e concentração, mesmo quando não se percebe a diferença entre o odor de um grande colega e o de alguém que nunca se viu mais gordo.
Aliás, alguns estudos começam até a relacionar distúrbios como a esquizofrenia, que leva ao isolamento social, com a inabilidade de identificar diferentes cheiros. Em 2003, pesquisadores americanos da Universidade de Nova Iorque observaram que pacientes com esquizofrenia tinham um olfato pobre em comparação com o restante da população. “Contudo, ainda não sabemos se a incapacidade de sentir cheiros leva ao problema”, ressalva Wysocki.