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O drama de quem depende de atendimento pelo SUS

Pacientes aguardam meses para conseguir realizar consulta em Três Lagoas

Marlene Vieira aguardou um ano por consulta - Ana Cristina Santos/JP
Marlene Vieira aguardou um ano por consulta - Ana Cristina Santos/JP

A espera por uma consulta com um médico especialista, bem como para a realização de exames, em Três Lagoas, pode levar meses, e até anos.  Esses são alguns dos dramas que os pacientes que dependem do atendimento pelo Sistema Único de Saúde (SUS) enfrentam em Três Lagoas, cidade com 113 mil habitantes, e com uma arrecadação diária de R$ 1 milhão.
Apesar de ser a área que recebe maior investimento, os serviços oferecidos e os atendimentos prestados, ainda deixam a desejar. Somente este ano, de janeiro até o dia 25 deste mês, a pasta da saúde já recebeu R$ 107,7 milhões, conforme dados do Portal da Transparência.

Marlene Dutra Vieira, de 44 anos, sabe bem o que é depender de um atendimento pelo SUS. Ela tem problema de tireoide e precisa perder peso. Para isso, necessita de passar por um nutricionista para ter o acompanhamento necessário. No dia 10 de dezembro de 2014, Marlene foi até o posto de saúde do bairro Santa Luzia marcar a consulta. Depois de esperar por quase um ano, na semana passada recebeu a confirmação de que a consulta está marcada para o dia 22 de dezembro, no Centro de Especialidades Médicas.

“Fiquei esse tempo todo esperando. É muito tempo para sermos atendidos pelo SUS. Médico disponível tem, poderia ter um pouco mais de agilidade”, desabafa Marlene, que trabalhava para uma empresa que oferecia plano de saúde. Mas, depois de perder o emprego, se viu obrigada a entrar na fila de espera dos pacientes do SUS. Além do nutricionista, a usuária necessita também de passar por um ortopedista, mas já foi informada no posto de saúde, que a consulta também será demorada. 

Esse problema não é único e exclusivo de Marlene. Outros pacientes vivem situação parecida. Maria Romeiro de Oliveira, 70 anos, está desde o começo deste ano aguardando para fazer um exame de endoscopia, mas, até agora, não conseguiu, e nem foi informada da previsão de quando o procedimento será realizado. “Passei por um gastro [gastroenterologista] e ele solicitou que fizesse endoscopia, porque já tive úlcera, e sinto muita dor no estômago, mas até agora não consegui fazer esse exame”, conta.

Além da endoscopia, a aposentada necessita fazer uma cirurgia no braço devido a problemas no nervo. Ela depende de um encaminhamento de Três Lagoas para realizar a cirurgia em Campo Grande. “Eles só sabem falar que está pendente”. Maria também está na lista de milhões de brasileiros que dependem do SUS para conseguir um atendimento. “Não tenho plano de saúde, dependo do SUS. E para quem depende do SUS, é muito difícil. Tudo a gente tem que estar em cima, correndo…”, desabafa.

Rosangela Cardozo Alves tem um sobrinho que precisa fazer uma cirurgia de retirada de cálculos renais. Antes, porém, o paciente precisa passar por um exame de raio X. No entanto, o aparelho está quebrado. “Há dois meses o médico pediu para fazer esse exame. A consulta foi marcada para janeiro do ano que vem, só que antes ele tem que fazer esse exame para o médico analisar a situação da coluna dele. Vamos ter que pagar”, ressalta.

Maria Gomes de Souza, de 72 anos, é outra aposentada que está na fila de espera aguardando para fazer uma cirurgia na coluna. Ela disse que há um ano está tentando fazer esse procedimento, mas não conseguiu ainda. Gislaine Garcia está há quase oito anos esperando para fazer uma cirurgia para a troca de prótese de cabeça do fêmur, mas também não conseguiu. Ela conta que, em 2010, conseguiu agendar o procedimento em São José do Rio Preto, mas foi cancelado porque a Prefeitura de Três Lagoas se negou a pagar o valor da cirurgia. Recorreu a Defensoria Pública, mas até hoje não obteve uma resposta. Ela que andava, atualmente vive em uma cadeira de rodas, devido ao problema ter se agravado.

Outro lado

Em nota, a Secretaria Municipal de Saúde informa que recentemente foi encerrado o processo licitatório da aquisição de medicamentos pactuados e não pactuados pelo município. Foi o primeiro processo na modalidade eletrônico, no qual envolveu a participação de empresas de todo o país.

Dos remédios pactuados, o processo licitatório já foi encerrado e empenhado, sendo que até o momento 30% das mais de 20 empresas que ganharam a licitação já iniciaram o repasse dos medicamentos. Segundo a secretaria, a prefeitura aguarda o restante do repasse das outras empresas, sendo que todas estão ainda dentro do prazo estipulado, entretanto, caso não entreguem e se a justificativa não for plausível, todas serão notificadas. Neste processo, foram licitados 118 medicamentos.

Em relação aos medicamentos não pactuados (que envolve a Atenção Básica, Saúde Mental e Rede de Urgência e Emergência), segundo a secretaria, também já foi encerrado o processo licitatório e, no momento, já foi solicitado à liberação de empenho para a aquisição dos medicamentos.

Neste processo, conforme, houve a contratação diretamente com laboratórios de todo o país, que vai ocasionar uma economia na compra desses medicamentos. Vale lembrar que o prazo de compra de ambos os processos licitatórios é de um ano. Neste processo, foram licitados 183. Com isso, totaliza o número de 301. Sendo assim, a Secretaria Municipal de Saúde esteve atenta a esse percalço, mas reitera que em breve a distribuição será totalmente normalizada.

Sem medicamentos nos postos

guir uma consulta, ou cirurgia, pacientes enfrentam ainda o problema da falta de medicamentos nos postos de saúde de Três Lagoas. Há meses, os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS) não conseguem determinados medicamentos nos postos. Tem unidade de saúde que tem até uma lista fixada na parede com a relação dos remédios que estão em falta.

Desde os medicamentos mais simples, como dipirona, ASS, até os de custo mais elevado, estão em falta nas unidades de saúde. A reportagem visitou alguns postos durante a semana, e se deparou com vários pacientes deixando as unidades sem o medicamento. Foi o caso do esposo de uma paciente que esteve no posto de saúde do Santa Luzia nesta semana, e não conseguiu pegar o medicamento Acido Fólico. Outra paciente que esteve na unidade não encontrou Ranitidina .

Além de não conseguir fazer um exame de endoscopia, a aposentada Maria Romeiro de Oliveira, de 70 anos, não consegue também remédio para osteoporose. “Já fui três vezes ao posto e não tem. Tenho que tomar esse remédio todos os dias. Só que estou tomando dia sim, dia não, para ver se os que tenho ainda, duram até chegar nos postos”, relata.

O aposentado José dos Santos, 61 anos, tem problema renal crônico, e sabe bem o que é não conseguir um medicamento. “Já estive aqui no Cem várias vezes, mas não tem nada. Tenho uma receita com dez medicamentos, não consegui nenhum”, disse o aposentado que esteve na manhã desta quinta-feira na farmácia do Cem. A reportagem permaneceu por cerca de 20 minutos no local, tempo suficiente para se deparar com vários pacientes indo embora sem os remédios. 

MPE registra 250 reclamações

ra, a 4ª Promotoria de Justiça já havia registrado 283 atendimentos na área da saúde. As principais reclamações nesta área são: falta de previsão de agendamento de exames e consultas pelo SUS ,atendimento neurológico, recusa de atendimento médico, denúncia de focos de dengue , cirurgia de catarata e consulta com ortopedista.

Também foram registradas reclamações de solicitação de medicamentos que estão em falta na rede pública e que fazem parte do protocolo de atendimento do SUS, cirurgia de angioplastia coronariana e cateterismo cardíaco, solicitação de consulta com neuropediatra, reclamação do atendimento em postos de saúde, reclamação do atendimento do SUS pelo Hospital Auxiliadora , falta de leite e fórmulas nutricionais no município , falta de previsão de agendamento do exame CPRE /, recusa de transporte para tratamento médico fora do domicílio , e internação compulsória para dependentes de álcool e drogas.