O ministro da Saúde, José Gomes Temporão, comemorou a decisão da Organização Mundial da Saúde (OMS) de recomendar aos países que registram casos de hanseníase dois indicadores brasileiros como prioritários para o controle da doença. Os indicadores são a proporção de jovens abaixo de 15 anos entre os novos casos diagnosticados e os registros de pacientes com alto grau de incapacidade provocada pela enfermidade, como deformações no corpo. Com a recomendação da OMS, esses indicadores passam a ser importantes para controlar a doença em outros lugares do mundo, como já é feito no Brasil.
Embora já sejam conhecidos pelos países onde a hanseníase é endêmica, ou seja, com transmissão ativa, essas normas não eram consideradas prioritárias, sendo mais importante a avaliação do coeficiente de prevalência, que é a proporção de casos em relação a cada grupo de 10 mil habitantes.
“A recomendação da OMS é motivo de orgulho para o Programa Nacional de Controle da Hanseníase, pela pujança e qualidade do trabalho desenvolvido”, afirmou Temporão ao abrir, anteontem (4), a Reunião Anual de Hanseníase, em Brasília. O evento, encerrado nesta quinta-feira, reuniu coordenadores e parceiros dos programas nacional, estaduais e municipais de controle da doença para discutir a atenção integral ao portador de hanseníase.
PRECOCIDADE
Os dados dos dois indicadores prioritários recomendados pela OMS e já em uso no Brasil servem para avaliar a precocidade ou não do diagnóstico realizado no paciente, além de orientar ações para aprimorar a vigilância da enfermidade, o que faz reduzir o número de casos.
No caso da detecção de novos casos em jovens, o indicador permite monitorar o índice de transmissão da doença em anos recentes. Isso porque quando há notificação da doença em pessoas com menos de 15 anos o dado revela que adultos que convivem com os menores estão transmitindo a hanseníase e não tem diagnóstico e, portanto, não recebem o tratamento e mantém ativa a cadeia de contaminação.
Quanto ao percentual de casos com grau de incapacidade 2, o dado mostra o diagnóstico tardio, o que aponta para a necessidade de aumentar a busca ativa de casos novos. Isso feito, o tratamento deve ser iniciado imediatamente, o que também reduz a transmissão da doença para outras pessoas.
A evolução da doença é dividida em três graus: 0, sem alterações; 1, para os que apresentam insensibilidade nos olhos, pés e mãos; e 2, quando o paciente já desenvolveu deformidades, como alteração nas pálpebras, mão em garra, pé caído e ferimentos.
SITUAÇÃO
No quadro geral, o número de casos novos de hanseníase no Brasil caiu 23% entre 2003 e 2008. A melhoria da atenção à saúde, principalmente na rede básica, é apontada como um dos motivos para a queda na detecção de novos registros da doença. Em 2003, o total de notificações foi de 51.941. Já em 2008, o total caiu para 39.992. O recuo foi ainda mais significativo na população com menos de 15 anos, com índice de queda de 28,6% (4.181, em 2003, contra 2.910, em 2008).
Um dos estudos do Ministério da Saúde sobre a situação epidemiológica da hanseníase aponta que os novos casos da doença estão concentrados em 1.173 municípios brasileiros, principalmente nas regiões Norte, Centro-Oeste e Nordeste, que registraram 53,5% dos casos novos detectados entre 2005 e 2007.
Em termos populacionais, os municípios avaliados concentram 17,5% dos residentes no país. O foco na detecção precoce da doença contribui para a melhora dos indicadores. Para prevenir e controlar a hanseníase, é necessário implementar ações educativas, em parceria com estados e municípios. Para tanto, o Ministério da Saúde tem coordenado ações junto aos gestores locais para que as medidas sejam implementadas.
Entre 2001 e 2008 foram diagnosticados 370.162 casos novos da doença no Brasil, o que dá uma média de 46.270 casos por ano.