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Pesquisa americana mostra que alergia a alimento é mais rara do que parece

Poucos casos são confirmados depois de feita a avaliação alérgica"

Na busca por um culpado para explicar indisposições digestivas recorrentes ou incômodos na pele, tornou-se comum atribuir o problema a algum tipo de alergia alimentar.

Mas as reações indesejadas a comida são menos comuns do que se pensa. "Poucos casos são confirmados depois de feita a avaliação alérgica", diz a médica Ariana Campos Yang, coordenadora do Ambulatório de Alergia Alimentar do Hospital das Clínicas de São Paulo.

Uma das razões para explicar a "paranoia" com a alergia alimentar é que muitas vezes se confunde a doença com intolerância ou intoxicação, porque os sintomas são parecidos.

A médica do HC conta que recebe muitos idosos que se queixam de coceira na pele e, por conta própria, tiram alimentos da dieta atrás do vilão que causa o incômodo.

"Mas a coceira é provocada pela pele seca, comum em idosos, e um hidratante acaba resolvendo todas as "alergias alimentares" de que se queixam."

Embora muitas pessoas acreditem sofrer de alergia alimentar sem de fato ter o problema, casos reais demoram a ser diagnosticados porque os pacientes relutam em procurar o médico.

"O paciente vai retirando alimentos da dieta e se automedica com antialérgicos", diz Yang.

Para o vice-presidente da Asbai (Associação Brasileira de Alergia e Imunopatologia), Fabio Morato Castro, os casos de alergia estão aumentando. "Há mais pessoas com o problema e com alergia a novos alimentos, como frutas tropicais."

A explicação para o fenômeno não está definida, mas pode estar ligada a novos hábitos alimentares e ao uso de remédios.

As crianças têm mais alergia, principalmente ao leite e ao ovo. Entre adultos, os crustáceos são os que mais provocam reações, ao lado do trigo, da soja e do amendoim. Em muitos casos, a rejeição ao alimento desaparece na fase adulta.

Há um mês, o menino Gabriel, de 2 anos e 5 meses, começou a se coçar enquanto comia macarronada. Ele estava com o rosto, as mãos e os braços lambuzados de molho.

A mãe, a blogueira Thelma Torrecilha, limpou-o e notou que a pele estava vermelha onde havia molho. Uma semana depois, a comprovação: ao comer uma rodela de tomate com as mãos a vermelhidão voltou.

Ele comia tomate desde os seis meses, mas foi pelo contato com a pele que ficou alérgico.

"Ele gosta muito de tomate, então, agora, ninguém mais come aqui em casa", diz Thelma.

No caso de Gabriel, a tendência é que o problema suma com o tempo. Mas o inverso também ocorre: quem nunca apresentou problemas com um alimento começa a ter reações.

Investigação

"Ainda não está esclarecida a razão pela qual a pessoa perde a tolerância a um determinado alimento", diz a coordenadora do ambulatório da HC.

Uso de remédios que mudam o pH do estômago e doenças no intestino estão entre os fatores que desencadeiam a doença.

Para identificar o que está causando mal ao paciente, o especialista começa a investigação com um questionário do histórico médico, que indica os principais alimentos suspeitos.

Para reduzir as possibilidades, é feito o exame de sangue, que identifica proteínas específicas, ou o teste na pele. Nesse teste, são colocadas gotas do extrato do alimento em contato com o paciente. Se houver anticorpo, ocorre uma reação local.

O segundo passo é tirar o alimento da dieta e acompanhar o comportamento da pessoa.

Se ainda houver dúvida, o especilista faz a chamada provocação oral: o alimento suspeito é oferecido em cápsula ou diluído ao paciente, com acompanhamento médico.

Para que o resultado não seja influenciado, é dado o alimento e um placebo. Nem médico nem paciente sabem qual é o verdadeiro.

"Um erro que se comete quando há a comprovação do alimento que provoca alergia é tirá-lo do cardápio e esquecer de dar ao paciente os nutrientes necessários", alerta Castro, vice-presidente da Asbai.

"No caso do leite, por exemplo, é preciso achar outras fonte de cálcio."