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Três Lagoas

"A greve é um direito previsto na Constituição, mas deve ser usada somente em último recurso"

Legenda Antônio Rogério Magri, ex-ministro do Trabalho e da Previdência -
Legenda Antônio Rogério Magri, ex-ministro do Trabalho e da Previdência -

Antônio Rogério Magri foi ministro do Trabalho e da Previdência na gestão do ex-presidente Fernando Collor de Mello, durante dois anos e dois meses. Hoje, aos 73 anos de idade, atua comoconsultor da Força Sindical. Em entrevista concedida ao Jornal do Povo, Antônio Rogério Magri, está desde ontem em Três Lagoas, participando de reuniões com os representantes dos sindicatos instalados na cidade.

JP– Qual é a avaliação que o senhor az no período em que esteve à frente do ministério do Trabalho e Previdência Sociasl?
 
Magri– Tem várias questões. Entre elas, julgo como importante o processo de informatização de todo processo da previdência social, que antes era manual. Outra questão que julgo importante foi quando ajustamos a Constituição de 88 e estabelecemos um novo perfil jurídico. A normatização da Previdência Social e do   ministério à luz da  Constituição foi a implantada pela minha equipe. Além dessa questão, destaco outro fato importante; quandosai da Previdência Social (ministério)  eu deixei em caixa U$$ 480 milhões, e hoje a Previdência deve R$ 55 bilhões. Então, isso para mim é uma grande alegria, deixei dinheiro em caixa, embora, hoje, a Previdência passe por problemas difíceis.
 
JP– Porque  o senhor deixou o Ministério do Trabalho e Previdência Social?
 
Magri-O presidente Collor já vinha enfrentando um problema muito forte, quando se falava emimpeachment e ele precisava fazer uma média com os partidos que eram importantes para ele naquela ocasião. Então, ele me chamou juntamente com a ministra Magali Procópio e disse que precisava dos cargos. Por isso, dividiu o Ministério do Trabalho, Emprego e da Previdência Social e osentregou para os partidos.
 
JP– Qual o objetivo da vinda do senhor a Três Lagoas?
Magri- Eu sou assessor político da Força Sindical e Três Lagoas é um polo industrial importante. Não vai demorar muito para que o Brasil olhe Três Lagoas como um segmento extremamente desenvolvido. O objetivo da minha vinda é de dar continuidade a organização sindical ligada a Força Sindical. Já estava devendo essa visita a convite, não só da Força Sindical, mas de outros amigos ligados a outros sindicatos. Fiquei extremamente encantado com Três Lagoas. Não conhecia a cidade, só ouvia falar e não sabia que estava se tornando em um polo industrial de altíssima qualidade.
 
JP– Quais os assuntos em pauta?
 
Magri– Nós estamos conversando com os sindicatos para saber qual a perspectiva que estão tendo, dentro da evolução do quadro social que está se desenhando com o crescimento das empresas. Queremos saber como o movimento sindical está vendo esse crescimento e a expansão das indústrias de celulose no município.  Queremos saber se isso é benéfico e vai trazer ganhos para o trabalhador. O movimento sindical precisa estar atento para isso tudo. A empresa cresce, mas o trabalhador tem que crescer junto. Então, o objetivo é chamar a atenção do movimento sindical para esse boom do crescimento industrial, já que o trabalhador não pode ser coadjuvante e sim um participe de primeira categoria.
 
JP– Como o senhor analisa essa “briga pelo comando sindical”, inclusive em Três Lagoas, em razão desses grandes empreendimentos que estão na cidade?
 
Magri– Todos nós lutamos pelo poder. Se você luta pelo poder para que ele possa se desenvolver em transformação social, acho extremamente positivo. Agora, toda luta do poder, pelo poder, essa eu tenho uma grande rejeição. Toda vez que as centrais sindicais ou os sindicatos se colocam na luta, observando as regras da sociedade e democráticas, acho que é salutar para todos. Agora, quando se extrapola, quebrando tudo e com as caras escondidas, somos totalmente contra. Por isso, orientamos os sindicatos que, a luta pelo poder, é democrática. Assim como os partidos lutam pelo poder, o sindicato também devem lutar. O que não pode é extrapolar, criar greve onde não pode haver greve. A greve é um instrumento democrático e deve ser usada nos momentos mais difíceis da nossa vida social. Se todas as negociações se esgotaram, até acho que a greve pode ser discutida com o trabalhador. Agora, a greve pela greve, jamais. A greve é um direito da Constituição, mas deve ser usada somente em último recurso.
 
JP– Comenta se e muito, que essa “briga” para assumir o comando dos sindicatos deve-se a arrecadação?
 
Magri– Você me fez uma pergunta que me dá a oportunidade de responder uma coisa que queria explicar. As centrais todas juntas receberam esse ano R$ 150 milhões. O Sistema S recebeu R$ 15 bilhões. Então, olha bem a diferença. A Força Sindical, por exemplo, recebeu menos de R$ 40 milhões para passar o ano com quase dois mil sindicatos, é muito pouco. Então, a briga pelo dinheiro, acho um equivoco, um erro. Mas, quando lutamos para ter mais dinheiro e para que esse dinheiro possa ser revertido em benefício e defesa do trabalhador, acho justo, já que os empresários têmsó no sistema S R$ 15 bilhões. E quando se vai para o Congresso Nacional, dos 513 deputados, 70% deles são eleitos com esse dinheiro para trabalhar contra o trabalhador. Esse que é o grande problema.
 
JP– Houve alguma mudança para o trabalhador depois que o país passou a ser governado pelo PT, em especial a partir do governo do ex-presidente Lula?
 
Magri– Eu não votei no Lula, mas não tenho nenhuma dificuldade para dizer que o Lula foi um dos grandes presidentes da República. Até porque como um ex-presidente de sindicato adquiriu uma experiência muito grande nas negociações. É só andar pelo país, nos cafundó do Judas, para ver que receberam grandes benefícios. O Bolsa Família, por exemplo, tem ajudado muito o Norte e Nordeste. Tempos atrás, antes do Lula, eu vi família comendo palma, hoje recebem cesta básica, com arroz, farinha e feijão, que faz com que as crianças possam crescer inteligentes, desenvolvendo assim, o Norte e Nordeste. Acho que o Lula teve uma visão extraordinária, o Bolsa Família é uma coisa importante. É só analisar em São Paulo, os filhos de milionários lutam por uma bolsa para estudar na USP para não pagar nada, porque não pode dar uma Bolsa Família para uma pessoa com quatro, cinco filhos, que estavam comendo palma. Acho que houve uma evolução muito grande com o Lula e que a presidente Dilma está dando continuidade. É só analisar a situação do mundo lá fora, onde o desemprego é muito grande e trabalhadores estão perdendo direitos conquistados.  Aqui no Brasil não, ainda não é o ideal, mas estamos melhor do que na Europa e nos Estados Unidos. O Lula olhou, não apenas para o trabalhador, mas para os empresários e todas as classes.
 
JP– O que o senhor acha do salário mínimo no Brasil?
 
Magri– Acho que o movimento sindical conseguiu estabelecer uma política de salário mínimo muito importante, coisa que não existe no mundo. Isso se deve a luta das centrais e dos movimentos sindicais. Quando a Constituição desindexou o salário mínimo de todas as coisas, houve um avanço, mas ainda precisa melhorar muito. O Diese diz que o salário mínimo, tinha que ser de R$ 2,4 mil para poder atender a uma família de quatro pessoas. Estamos lutando para isso, mas podemos dizer que já houve um avanço na política salarial.