Véspera do Dia das Mães e a gente se desdobrando – como sempre – pra cuidar da casa, dos filhos, do marido, do trabalho, não necessariamente nessa ordem, nem com todos esses tópicos, mas é assim desde que o mundo é mundo, né, não?
Você, por acaso, já percebeu que os pensamentos que temos em relação aos afazeres com os nossos filhos podem ser os mesmos pensamentos que as mamães de antigamente tinham com os filhos delas? Se pudéssemos ver esses pensamentos, veríamos uma espécie de looping de frases brotando na nossa mente, se repetindo e repetindo com o passar dos anos: Dou comida antes do banho, ou dou banho antes da comida? Deixo dormir agora e fico acordada até mais tarde depois, ou seguro mais um pouco o sono pra conseguir dormir junto depois? E por aí começa o nosso looping de pequenas mini decisões diárias que nós mamães tomamos a cada minuto.
É cansativo no começo, sabe, ficar tomando decisões para terceiros todo dia, toda hora, mas logo a gente se acostuma e quase que passa a ser automático. Hahahaha. Igual passar marcha no carro. Quando a gente percebe, a gente já fez.
Falando em tomar decisões, você sabia que as mamães de antigamente precisavam optar por dar cerveja aos filhos em vez de água?
Whaaaat?
É … pois é, pois é, pois é….
Diante desse fato o refri passou a ser inofensivo, né? Kkkkk
Eu exxxxplico:
É que antigamente, na época dos cocôs a céu aberto (Isso mesmo, quando não havia saneamento básico), a água era um item a ser evitado, pois era altamente contaminante devido à falta de saneamento na época. Não existia conhecimento sobre fervura da água para deixá-la apta para consumo. Maaasss… qual líquido precisa ser fervido antes de estar pronto para beber? Cerveja!
A fervura já era um dos processos na produção da cerveja naqueles tempos. E como aprendemos muito por meio da observação, as comunidades percebiam que bebendo cerveja as pessoas se mantinham saudáveis, e o contrário acontecia se bebessem água.
Então toda a sociedade consumia cerveja, inclusive, as crianças. O consumo era tão alto que até trabalhadores preferiam muitas vezes serem pagos com cerveja ao invés de dinheiro. E isso não era com o intuito de ficar embriagado, não, mas como sustento para a vida diária no lugar de outras bebidas, como a água.
E eu posso provar que era para o sustento! Sabe por quê? Porque existiam nossas eus da antiguidade!
Muitas de nós mamães e donas de casa, éramos conhecidas como Alewifes (Lê-se: eiol uaivis) as grandes produtoras de cerveja. E nossos filhos entravam na dança também das responsabilidades domésticas, nos ajudando a cozinhar esse líquido da saúde – você nunca mais vai chamar seus filhos para fazer um bolo sem lembrar que as mamães medievais chamavam os filhos delas para fazer cerveja, hahahaha – Algumas de nós, inclusive, tínhamos tabernas com os nossos maridos, (qualquer semelhança com a minha vida profissional é mera coincidência) para a comercialização da cerveja.
E detalhe: se fôssemos casadas, melhor ainda, porque aí tínhamos mais acesso ao capital, facilidade nos empreendimentos econômicos e posse de terras provenientes de herança do mozão para expandirmos os negócios. E não pense tu que éramos as subordinadas no mercado cervejeiro medieval, não. Na, na, ni, na, não. Muitos ofícios medievais eram organizados em torno da família. A fabricação de cerveja não seria diferente. O maridão ficava com as relações públicas, participava de associações comerciais e de interesse em comum, e era o representante legal da taberna. Já nós, mamães, ficávamos com a responsabilidade de gerenciar a casa, preparar o local, administrar os empregados e o gerenciamento da própria taberna. Mas nem tudo era esse sonho… pagávamos impostos também. E eram bem altos já naquela época.
Voltando para a era dos cocôs encanados, fraldas descartáveis, coleta de lixo orgânico e reciclável, máquina de lavar roupa e louça, sabonetes, geladeira, água de filtro, fervida e armazenada em garrafa de vidro previamente esterilizada – sim, eu fazia isso com a água para preparar a mamadeira do meu filho, e hoje em dia ele deixa os cachorros daqui de casa lamberem a boca dele – Enfim… como vivemos em 2023, as minhas pequenas mini-decisões sobre bebida é se ponho oro-pro-nobis ou se ponho cenoura no suco de laranja dele. Viva a era moderna!
Um feliz dia das mães!
*Flávia de Souza,
Sommelière de cervejas