O gerente da regional da Empresa de Saneamento de Mato Grosso do Sul (Sanesul), Júlio Seba Bobadilha, informou ontem (2) que a água do Poço do Palmito está sendo gradativamente substituída na rede de abastecimento de Três Lagoas. Em entrevista ao Jornal do Povo, ele explicou que essa água, cuja qualidade continua sendo questionada pelos consumidores, apesar de não oferecer riscos à saúde, já está sendo misturada às águas de outros poços, beneficiando moradores dos bairros Santos Dumont, parte do Parque São Carlos, conjunto habitacional Osmar Dutra, São João e outros bairros. Júlio Bobadilha antecipou que é meta da Sanesul desativar quase por completo o uso da água do Palmito. Para que isso se torne possível, será ativado o poço TLG 028 (cada poço de Três Lagoas possui uma numeração para identificação e localização), que fica na rua Irmãos Spinelli no Jardim Planalto. A previsão é que, ainda neste ano, conforme estudo que está sendo feito pela Sanesul, mais de 80% da água do Palmito deixe de ser aproveitada para o consumo do treslagoense. Com essa finalidade, existe um outro projeto já pronto para ser executado e que depende apenas da liberação de recursos. É a perfuração de um novo poço, no final da rua Yamaguti Kankiti, às margens da BR-262. Nesse local, ainda a ser definido, além da perfuração de um novo poço, será construído um reservatório subterrâneo e um outro elevado. Esta obra, quando concluída, além de substituir grande parte da água do Palmito, irá também aliviar o sistema de abastecimento de água da Vila Piloto, que hoje é um de maior abrangência e maior demanda.
Na entrevista, o gerente regional da Sanesul falou também dos investimentos em projetos de aumento da rede de esgoto, existência de ligações clandestinas e sobre os transtornos que a população de alguns bairros sofre devido a entupimentos da rede.
JP: Como está o sistema de abastecimento de água, em Três Lagoas?
Júlio Bobadilha: Tivemos alguns problemas no final do ano passado, mas todos eles foram detectados a tempo e solucionados. Além do aumento do consumo, devido ao calor e crescimento populacional, tivemos problemas no sistema de fornecimento da Vila Piloto, devido às oscilações e quedas de energia, que afetaram o funcionamento das bombas. Hoje, podemos dizer que os cinco sistemas que abastecem a rede de água em Três Lagoas estão funcionando normalmente.
JP: No entanto, a população de alguns bairros continua reclamando das interrupções do fornecimento e da baixa pressão da água que chega às torneiras, em alguns horários. Como o senhor explica isso?
Júlio Bobadilha: Isso é inevitável. É um transtorno pelo qual a gente tem que passar. Em alguns locais ele é sentido mais e noutros nem é percebido. Desde o ano passado, a Sanesul está substituindo toda a antiga rede de abastecimento de água. Os velhos e hoje impróprios canos de amianto e outros de ferro galvanizado estão sendo trocados por canos de pvc. Já foram substituídos quase 110 mil metros da rede, o equivalente a 15% do total a ser trocado. É uma obra que tem prazo de 30 meses para ser executada por completo. São recursos acima de R$ 6,34 milhões, provenientes de convênio da Sanesul com a Caixa Econômica Federal, através do programa Saneamento para Todos. Nos bairros onde essas obras estão sendo executadas, há necessidade de interromper o fornecimento, mas essa interrupção é avisada com antecedência.
JP: A Sanesul, com recursos da Fundação Nacional de Saúde (Funasa), estava construindo um outro reservatório no sistema de abastecimento de Santa Luzia. As obras estão paradas há mais de um ano. Com isso, está sendo prejudicado também o fornecimento de água, porque aumentou a demanda, principalmente naquela região, com o surgimento de novos conjuntos habitacionais. Existe previsão de retomada das obras?
Júlio Bobadilha: Segundo foi verificado pela Sanesul, cerca de 70% da obra está pronta. A empreiteira parou as obras, alegando falta de pagamento. Foi constatado e solucionado o problema da falta de um documento, exigido pela Funasa para a liberação do restante dos recursos. Acredito que, dentro de 20 a 30 dias a obra será reiniciada, porque todos os impasses foram solucionados.
JP: Qual a importância desse reservatório?
Júlio Bobadilha: O sistema Santa Luzia é um dos mais importantes da Sanesul, pela sua capacidade e posição geográfica mais elevada. Por essa razão, terá sua capacidade de armazenamento de água aumentada em dobro com a construção desse novo reservatório, com capacidade para 1.250 m³ de água. Nesta segunda-feira (2), está sendo iniciada a perfuração de um novo poço em uma área da rua Urias Ribeiro (antiga Estrada da Boiadeira). A água desse poço será lançada nos dois reservatórios da Santa Luzia. Com isso, teremos reforço de fornecimento de água, beneficiando os bairros de Santa Luzia, Jardim Capilé, Vila Verde, Jardim Carandá e outros bairros adjacentes.
JP: O senhor se referiu, por várias vezes, ao sistema de abastecimento de água da Vila Piloto. A população tem demonstrado insistentemente o descontentamento por causa da falta de água. O que está acontecendo?
Júlio Bobadilha: Como eu disse, o sistema de Vila Piloto, um dos mais abrangentes da Sanesul, teve sérios problemas de abastecimento, mas tudo também está sendo normalizado. Os técnicos da Sanesul concluíram estudo que a falha estava na parte elétrica. Devido às oscilações no fornecimento de energia elétrica e quedas de interrupção, houve por várias vezes avaria nos motores que movem as bombas. Para solucionar de vez o problema, a Sanesul executou, sob a orientação e sugestão da Elektro, um novo e completo projeto de reforma da parte elétrica. Foi trocado o padrão, transformador e todo o sistema automático de ligação dos motores. A obra está pronta, aguardando o visto da Elektro e a nova ligação de energia.
JP: Como está a rede de esgoto na cidade de Três Lagoas?
Júlio Bobadilha: A Sanesul está executando um amplo programa de esgotamento sanitário na Cidade, onde estão sendo investidos altos recursos. Dos 66.577 metros de canalização de esgoto, estão sendo executados mais de 59 mil metros de nova extensão da rede, o que equivale a um aumento de 88,62%. Isso resultará no aumento de 2.950 de novas ligações residenciais de esgoto. No momento, estão sendo executados serviços de rede de esgoto no bairro Colinos e na região do estádio Madrugadão, no Jardim Alvorada. Nesta obra, estão sendo investidos recursos acima de R$ 1,3 milhão.
Além das melhorias que estão sendo feitas na Estação de Tratamento de Esgoto (ETE) de Jupiá, a Sanesul está também construindo cinco novas estações elevatórias e cinco linhas de recalque (saída da elevatória até à ETE). Isso chega a mais de 60 mil metros de linhas de canalização de esgoto. Neste complexo de obras, a previsão de investimentos é de R$ 11 milhões.
JP: Todas as residências, por onde já passa a rede de esgoto, são beneficiadas por esse serviço?
Júlio Bobadilha: Podemos dizer que, com as obras de extensão da rede de esgoto, que estão sendo executadas, Três Lagoas passa dos 16% para 29,76% de casas com ligação domiciliar à rede de esgoto. Infelizmente, nem todas as residências, por onde passa a rede, possuem ligação de esgoto.
JP: A que o senhor atribui essa falta de interesse do morador em solicitar à Sanesul a ligação de esgoto?
Júlio Bobadilha: Os técnicos da Sanesul estão realizando estudos sobre essa questão. Alguns acreditam que seja pelo preço que é cobrado em cima da conta de água. Hoje, a taxa de esgoto é o equivalente a 70% do consumo de água daquela residência. A empresa estuda baixar o preço dessa taxa. Não sei ainda quando estará pronto esse estudo e como passará a ser cobrada a taxa de esgoto. Acredito que irá baixar.
JP: Por esse motivo é que existem ligações clandestinas de esgoto?
Julio Bobadilha: Pessoalmente, não sei se esse seria o motivo. O que sabemos é que a Sanesul tem conhecimento da existência de ligações clandestinas de esgoto em Três Lagoas e está fazendo completo levantamento para identificar os responsáveis. Do trabalho já realizado em apenas três quadras, foram detectadas mais de 30 ligações clandestinas de esgoto. Essas ligações têm causado sérios problemas à manutenção da rede de esgoto, causando entupimentos, principalmente no período das chuvas.
JP: Por que a situação se agrava no período das chuvas?
Júlio Bobadilha: Por falta de conhecimento técnico, essas ligações são feitas erroneamente, acabando por ligar também à rede de esgoto as águas pluviais. Nas enxurradas, a canalização de esgoto passa a receber também terra, folhas e outros detritos que acabam entupindo a rede. Sabemos também de outras situações em que existem ligações clandestinas domiciliares de esgoto à rede de captação de águas pluviais, o que também é errado e causam sérios problemas de saúde pública. A fiscalização de ligações clandestinas domiciliares à rede de captação de águas pluviais não nos diz respeito. Penso que cabe à Secretaria de Obras e fiscais da Vigilância Sanitária essa fiscalização e tomada de providências legais. À Sanesul cabe a responsabilidade do fornecimento de água e da rede de canalização de esgoto.