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Três Lagoas

?Aos 75 anos, não é mais o tempo de continuar com a plantação de eucalipto? diz empresário

Não é novidade que o setor florestal está em franco desenvolvimento na região de Três Lagoas, assim como em outros estados do país

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Basta percorrer alguns quilômetros em Mato Grosso do Sul para presenciar a quantidade de plantação de eucalipto nas terras que, em um passado não tão distante, davam lugar principalmente a pecuária.

Entretanto, não é de hoje que a plantação de eucalipto faz parte do desenvolvimento e expansão do município. O reflorestamento na região é realizado há 40 anos. Na entrevista especial da semana, o Jornal do Povo conversou com o empresário Klaus Bunning, um dos pioneiros deste primeiro ciclo florestal na região de Três Lagoas.

Jornal do Povo -Quem é Klaus Bunning ?
 
Klaus Bunning- Sou um cidadão três-lagoense, que nasceu e se criou em São Paulo. Depois me transferi para Três Lagoas com a atividade florestal. Vim para Três Lagoas em 1972.  Fui o segundo reflorestador no município.
 
JP- O que levou o senhor vir para Três Lagoas?
 
Bunning- A partir de uma viagem prazerosa que eu fiz para Três Lagoas, conhecendo o Pombo, onde convivemos em uma fazenda e, em Garcia, que era do Vaticano. Daí fomos para Campo Grande e Dourados. O magnetismo do Mato Grosso se tornou uma verdadeira vertigem e que me trouxe para cá, de tal forma que, depois de certo capital volumoso, me estabeleci aqui há 45 anos.
 
JP-O senhor foi um dos pioneiros no reflorestamento em Três Lagoas?
 
Bunning- Eu praticamente fui a segunda empresa dentro de Três Lagoas a lidar com o reflorestamento. A primeira empresa foi a Erva Reflorestadora do Nelson Rinaldi. Inclusive, meu querido João Sejopolesfoi quem trouxe a maioria das empresas para Três Lagoas. O meu primeiro canteiro foi onde funciona hoje, o Pesque Pague, localizado na Vila Haro. Os meus primeiros plantios foram na beira do São Matheus, depois subi para o Salto da Laranja, depois adquiri na região do Cascalho uma área maior, com 30 mil hectares, onde fiquei reflorestando há cerca de 30 anos.
  
JP- Hoje o senhor não tem mais nenhuma plantação de eucalipto?
 
Bunning- Aqui em Três Lagoas não, somente na Bahia. Continuo com essa atividade ainda na Bahia por dificuldade de desmobilização, mas estou tentando desmobilizar essa atividade lá. Não quero mais. Tenho o meu plantio de coco, de fruticultura, e um monte de outras coisas, pois cada tempo tem o seu tempo para fazer as coisas. Agora, aos 75 anos, não é mais o tempo de continuar com a plantação de eucalipto e nem me submeter às circunstâncias do agronegócio, mas sim de outras tentativas. Quando eu estudava economia, trabalhei no alto comércio de São Paulo, então trago de lá uma larga experiência de várias atividades. Às vezes a gente comete enganos. A minha vida toda foi na área florestal, mas como não tenho parador, continuo trabalhando em outras áreas, assim como na pecuária. Tenho propriedade aqui e confinamento e outras atividades. Sempre exerci a função de empresário rural, e continuo até hoje com outras alternativas. Afastei-me da área de reflorestamento, mantendo essa atividade somente na Bahia.
 
JP- O porquê o senhor deixou de exercer atividade nessa área de reflorestamento?[
 
Bunning- Porque não acredito nas globalizadas [grandes empresas. Essas grandes empresas não são solução social. As globalizadas não veem ao encontro de interesses que são minhas concepções filosóficas. Essas empresas são simplesmente geradoras de massa de manobra para que se estabeleça certo status e um interesse político.Considero-me superado tecnicamente em alguns assuntos do reflorestamento. Poderia ter me atualizado, mas não quero mais. Foi à árvore que já deu fruto e agora está dormente.
 
JP- O período em que o senhor esteve à frente do reflorestamento, valeu a pena ?
 
Bunning- Valeu muito a pena, porque eu sou muito pelo social. Tinha programa socialna fazenda Bonito. Tinha muitas atividades diferenciadas, vinculadas ao próprio Ministério, inclusive, tivemos a visita do então ministro Reinhold Stefani [ministro da Agricultura e Pecuária], o Ramez era um grande companheiro também, uma pessoa que sempre nos acompanhava e nos incentivava nas nossas atividades. Então, temos um grande carinho por Ramez Tebet, apesar de que em muitos pontos de vista, discordávamos veemente e fundamentalmente, mas a amizade e carinho eram indiscutíveis.
 
JP- Quando o senhor iniciou com a atividade de reflorestamento no município já se falava em ter fábrica de celulose em Três Lagoas?
 
Bunning- Não. Não se falava em Chanflora, nada disso. Fábrica de celulose era sempre na época dos incentivos fiscais. Dentro do ideário florestal era uma ideia, mas nunca passou disso, porque os grandes programas do governo, infelizmente não vão até os seus objetivos finais, porque não existe filosofia de objetivos. É como na parte social agora, nessas empresas globalizadas, dizem que as pessoas tem um bom salário, por exemplo, R$ 2 mil. Mas, é preciso pensar que esse valor vai para o aluguel, ou prestação da casa; R$ 150 vai para água e R$ 150 para luz, mais os descontos que vêm na folha, sobra uns R$ 700. Daí, a pessoa vai fazer uma compra de R$ 700, em que 47% são de impostos diretos e indiretos. Então pergunto: Que vantagem é ser funcionário e ter que dividir esse dinheiro em impostos com governo? Isso é ridículo, é uma verdadeira afronta ao ser humano.
 
JP- O produto na época em que o senhor tinha reflorestamento ia para onde?
 
Bunning- Para siderurgia, cujos preços vis, desmontavam qualquer intenção de evoluir para qualquer lado. O que a formiga não levou, a siderurgia levou com preços vis e era uma situação interessante. A gente era pressionado pelas leis trabalhistas, que foram feitas para as globalizadas. Agora, uma atividade secundária como decarvoejamento, tinha que ter o enquadramento e não pode sobreviver, tanto que acabou. Eu falava anteriormente sobre o salário dos funcionários das grandes empresas, para ter se uma ideia, um carvoejadorganhava menos do que dois, três salários mínimos, livre de alimentação, cama e tudo. As condições eram difíceis, mas ele ganhava mais dinheiro do que qualquer funcionário que ganha até R$ 2 mil nessas globalizadas, porque o que se desconta e mata desses funcionários é um terror.
 
JP- Hoje não existe interesse em plantar eucalipto para as carvoarias?
 
Bunning- Não tem interesse. Eu não sei do que eles vão fazer carvãozinho, o qual se faz também dos resíduos do papel e celulose e também se carboniza de forma mais automática. Devemos fazer churrasquinho disso.
JP- O que foi feito com as áreas que o senhor tinha?
Bunning- Elas se esgotaram. Foram feitos todos os cortes e pastagens e, eu vendipara a Eldorado e, hoje a Eldorado está repovoando ela.
 
JP- Qual a análise do setor de reflorestamento no nosso município.
 
Bunning- Acho que é a primeira medalha de ouro que Três Lagoas conquistou, no sentido amplo e restrito. Entendo que o município ainda tem duas medalhas para conquistar: A hidrovia com o funcionamento do pleno emprego e uma complementação industrial. Tenho uma relação amistosa com a nossa prefeita que vem de muito tempo atrás. Outro dia a encontrei na rua e disse: Acho maravilhoso esse desenvolvimento, só que esse desenvolvimento, vai se transformar Três Lagoas na Cubatão de Mato Grosso do Sul.  A prefeita me contestou que hoje existe a modernidade e outros padrões….. Mas, eu estudei economia e sei para onde caminha a humanidade. Outro dia lendo o Estado de São Paulo, encontrei a declaração do ex-presidente Lula- que se não tem cultura, cultura adquiri, pois o considero hoje um doutor honoris causa da vida, e respeito muito o ponto de vista dele- Ele declarou que o ABC do Centro Oeste está se formando em Três Lagoas. Quer dizer, ABC perto de Cubatão é muito próximo, e os conceitos sociais de comportamento e caminhamentos sociais são os mesmos.
 
JP- Qual análise que o senhor faz da atual plantação de eucalipto no município?
 
Bunning- É uma coisa tecnicamente maravilhosa, que transcendi toda e qualquer expectativa que eu como velho reflorestador tinha, em termos de produtividade, assim como apresenta certas circunstâncias imprevisíveis e negativas, mas é a medalha de ouro, o corolário da destinação das áreas de Três Lagoas e adjacências para uma atividade econômica. 


JP- Se era tão bom o porquê o senhor desistiu de continuar atuando nessa área de reflorestamento?
 
Bunning- Porque não tenho a dimensão de uma globalizada, eu não sou nada mais do que um pequeno apêndice de uma atividade que era diferente do que é agora. Mudou muito a tecnologia, a qualidade, o volume necessário de capital para dar segmento a alguma coisa mais globalizada, principalmente acesso político e, infelizmente eu não tenho vocação para bajular nada. Sou muito individual nessa parte e, por isso, abri mão. Em segundo lugar, naquela ocasião eu já plantava a única variedade diferenciada Citriodora, cujos fins eram para madeira e não para celulose. Mas, encerrado o meu ciclo, me afastei dessa atividade, que atuei até uns 15 anos atrás.
 
JP- Pode se dizer então que é inviável o reflorestamento para os pequenos empresários?
 
Bunning- É altamente viável, desde que estejam apensados a uma globalizada em forma e contrato de arrendamento, ou outro tipo de contrato. Isso, desde que haja parceria e comunhão de obrigações por parte da globalizada, porque senão dificilmente apresentará rentabilidade.
 
JP- Como o senhor analisa a quantidade de terras na nossa região que estão ocupadas por eucalipto?
 
Bunning- Acho que para a maioria dos proprietários, que não atuavam intrinsicamentenas suas propriedades, mas tinham elas por razões diferentes, uma solução muito boa,já que passaram a gerar uma renda, maior ou menor, não interessa, porque eram deficitárias.
 
JP- O senhor acha que é possível conciliar a plantação de eucalipto com a pecuária e agricultura?
 
Bunning- Essa tentativa que estão fazendo, não acredito nela. Floresta e pastagem eu considero uma mentira. Eu tive experiência nisso, 20 anos, onde eu plantei eucalipto com pastagem e tive gado, eu índice de fertilidade reduziu 25%. O eucalipto retira da terra tudo o que ele pode. Então, é evidente que fica uma área menor para o gado.