Onúmero de acidentes com animais domésticos em Campo Grande aumentou 15% neste ano, de acordo com dados do Centro de Controle de Zoonozes, da Secretaria Municipal de Saúde. Mais de 3,5 mil pessoas chegaram às unidades de saúde com ferimentos provocados por cães e 869 feridas por gatos. Os casos foram registrados dentro de casa, nos quintais ou mesmo em vias públicas. Conforme as estatísticas, esse tipo de caso tem sido cada vez mais comum. A média, na Capital, é de 12 casos por dia.
E, nesta época do ano, quando é comum presentear crianças com um filhotinho de cão ou gato, é essencial que as famílias busquem raças adequadas ao perfil dos donos e ainda, por adestramento em alguns casos. A médica veterinária comportamentalista Caroline Finkler explica quais os principais pontos de atenção que os donos ou futuros donos de pets precisam ter para evitar situações que podem colocar em risco a segurança física das pessoas.
Vamos começar falando sobre uma raça que sempre gera polêmica quando há casos de ataques, o pitbull. Essa raça pode ser considerada mais violenta, ou depende mesmo do tipo de criação que vai determinar o comportamento do cão?
CAROLINE FINKLER A gente tem vários fatores que vão determinar o comportamento do cão. Tem o fator genético, que além da raça tem a criação genética dele, os pais, como que era o comportamento desse pai e da mãe desse cão. A gente tem pitbull extremamente dócil e a gente tem pitbull que tem uma tendência mais agressiva. Mas é a minoria nos pitbulls. O que a gente tem que ver é como esse cachorro vive, porque muita gente que pega essas raças maiores, como pitbull, rottweiler, pastor belga malinois, que está sendo muito comum, que são raças protetoras, não entendem o comportamento e as necessidades básicas desse cachorro. Então, vai ser um cachorro que está ali no quintal, que não tem nenhuma necessidade básica atendida e, por isso, ele se torna agressivo, porque esse cachorro não passeia, esse cachorro não tem os brinquedos adequados para ele. Não teve um adestramento adequado, uma educação básica adequada. Aí, sim, ele se torna um cachorro agressivo por erro do ser humano, que não viu o que a raça precisava antes de ver se era adequada pelo estilo de vida que a família tem.
E de que forma os tutores podem educar, criar os seus animais para que eles não se tornem agressivos?
CAROLINE FINKLER A primeira coisa, antes até de falar em educação, é realmente ver se aquela raça é condizente com o seu estilo de vida. Se você é uma pessoa que sai das sete horas da manhã e volta às oito horas da noite para casa, não tem como você ter um cachorro com alto grau de energia, que precisa de atenção do dono. Quando não se é um dono presente na rotina do animal, ele vai se tornar agressivo, porque ele está ali sem fazer nada, e isso vai gerando estresse, como gera no ser humano.
Depois disso, a primeira coisa que a gente tem que pensar é começar, desde filhote, a ensinar as coisas básicas para ele. Que uma mordida não é uma coisa legal. Que ele tem que morder os brinquedos específicos para ele, e não as pessoas. Porque às vezes muita gente faz essa brincadeira de mordida e excita muito mais o animal a morder o ser humano, pois para o cão é só uma brincadeira.
E aí, quando esse cachorro fica adulto, quando é um cachorro grande, ele não tem noção que aquela mordida é forte e machuca, já que desde filhote aquilo é uma brincadeira para ele. Por isso a gente tem que começar a educar desde cedo.
Se a pessoa não tem uma noção de educação básica, é recomendado contratar um veterinário especialista em comportamento, um adestrador que saiba lidar muito bem com essa área. Tem que pedir ajuda ou buscar informação para não ter problemas futuros.
Muita gente ainda tem cachorro para ser , literalmente, um cão de guarda para proteger a sua casa. Como deve ser essa criação pensando que, de repente, numa situação como essa, o animal acaba escapando ali do quintal, indo pra rua podendo atacar algum estranho?
CAROLINE FINKLER Se a pessoa quer ter um cachorro para servir de guarda de casa, é recomendável que busque alguma empresa que faça esse treinamento de guarda.
Um adestramento especializado para o cachorro entender aonde ele tem que fazer essa guarda, que a partir do momento que a pessoa entra na casa dele, sem ser convidado pelo dono, o cachorro pode atacar.
Só que, saindo na rua ele não pode ter esse comportamento agressivo, ou saindo com o dono ele não pode atacar. Por isso, tem que ser um profissional para saber ensinar isso. Aqui em Campo Grande, por exemplo, há alguns canis que já vendem esse cachorro treinado. Já é um cachorro adulto, que é próprio para guarda de casa, e aí esse cachorro já está educado. Mas para esse tipo específico tem que ter um treinamento muito bem feito com o profissional.
Não é muito difícil a pessoa conseguir fazer isso sozinha em casa.
E é importante lembrar que independente do porte do animal, se é de raça ou não, passeios devem ser sempre supervisionados e através de guia, é isso?
CAROLINE FINKLER Isso, guia peitoral e, além de tudo isso, a gente tem que começar a desmistificar a focinheira. A gente ainda vê a focinheira como uma coisa muito ruim. Só que, se a gente colocar no treino do cachorro, para ele é só mais um acessório, como uma guia. Então, se você tem um cachorro que tem a chance de morder alguém, comece a treinar ele a usar a focinheira para que no passeio, não ocorra esse risco.
Porque se a gente sabe que o nosso cachorro pode atacar alguém pelo temperamento dele, e tem cachorro que realmente pode, por medo, por agressividade, por outros fatores, ele não pode colocar a vida do outro em risco. É importantíssimo colocar esse acessório também como um acessório de passeio para esse cachorro.
E os gatos? Geralmente tem um comportamento mais dócil, mas também tem gatinho que é bravo, né?
CAROLINE FINKLER Tem gatinho que é bem bravo, que corre atrás do dono, que arranha, que machuca.
Gato tem um comportamento muito diferente de cachorro. O gato é muito territorialista, e diferente do cachorro que precisa do adestramento, normalmente esse estresse do gato está relacionado a dentro de casa.
A ele não ter as coisas que ele precisa dentro de casa. Então o trabalho que a gente vai fazer com o gato é totalmente diferente do cachorro. A gente precisa adequar toda a casa para o gato, para conseguir ir diminuindo esse estresse e educando ele de pouquinho em pouquinho, mostrar a ele que a agressividade não é tão bom.
Ele precisa ter espaços adequados, brinquedos e cantinhos onde vai buscar abrigo. Mas o mais importante, seja cão ou gato, é ter carinho e cuidado, afinal quando adotamos um animal, é como se fosse um filho nosso, eles também precisam de muito amor para ser feliz.